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A filosofia de Śrī Madhvācārya

  • Foto do escritor: Vana Madhuryam Brasil
    Vana Madhuryam Brasil
  • 30 de set.
  • 27 min de leitura
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Śrīla Bhaktivedānta Vāna Gosvāmī Mahārāja

30 de janeiro de 2023, Bolívia


Apresentarei brevemente alguns pontos sobre a filosofia de Madhvācārya. Em nosso Vaiṣṇava Sampradāya, quatro sampradāyas (linhagens de mestres espirituais) são especialmente proeminentes, são eles: Śrī, Brahmā, Rudra e Sanaka. O ācārya original do Śrī Sampradāya é Lakṣmī-devī; o do Brahmā Sampradāya é Brahmājī; o do Rudra Sampradāya é Śivajī; e os ācāryas originais do Sanaka Sampradāya são os quatro Kumāras.


Nesta era de Kali, o ācārya do Śrī Sampradāya é Rāmānujācārya; o do Brahmā Sampradāya é Madhvācārya; o do Rudra Sampradāya é Viṣṇusvāmī; e o do Sanaka Sampradāya é Nimbāditya. O Padma Purāṇa explica:


sampradāya-vihīnā ye mantrās te niṣphalā matāḥ

ataḥ kalau bhaviṣyanti catvāraḥ sampradāyinaḥ

śrī-brahma-rudra-sanakāḥ vaiṣṇavāḥ kṣiti-pāvanāḥ

catvāraste kalau bhāvya hyutkale puruṣottamāt


Padma Purāṇa (Prameya-ratnāvalī, 1.5)


[“Qualquer mantra que não venha em sucessão discipular é considerado infrutífero. Portanto, quatro indivíduos divinos aparecerão na era de Kali para fundar escolas discipulares. Os fundadores dessas quatro Vaiṣṇava Sampradāyas são Lakṣmī ou Śrī, Brahmā, Rudra e Sanaka Rṣi, e os ācāryas da Era de Kali que seguem suas linhas aparecerão na cidade sagrada de Puruṣottama em Orissa.”]


Se alguém não receber os dīkṣā-mantras de um guru fidedigno pertencente a um desses quatro Vaiṣṇava Sampradāyas, jamais alcançará a perfeição suprema. Por isso, é indispensável estar conectado a uma dessas linhagens de mestres espirituais. Śrī Caitanya Mahāprabhu, que é o próprio Bhagavān, não estabeleceu um novo sampradāya; Ele honrou os quatro já existentes, mas aceitou o Brahmā-Madhva Sampradāya, adotando a filosofia de Madhvācārya. Por isso, nosso sampradāya é chamado de Śrī Brahmā-Madhva-Gauḍīya Sampradāya. O termo “Gauḍīya” indica que seguimos a linhagem de Śrī Caitanya Mahāprabhu.


As cinco distinções fundamentais


Mahāprabhu concede o devido respeito a todos os vaiṣṇava-ācāryas, mas aceitou a filosofia de Madhvācārya porque ele expõe de forma muito clara as cinco diferenças fundamentais, chamadas pañca-bheda. Pañca significa “cinco” e bheda significa “diferença”. 


A primeira diferença que Madhvācārya apresenta é īśvara-jīva-bheda, a distinção entre o Senhor e os seres vivos. Em primeiro lugar, o Senhor é único, enquanto as almas (jīvas) são inumeráveis (ananta-jīva).


bālāgra-śata-bhāgasya

śatadhā kalpitasya ca

bhāgo jīvaḥ sa vijñeyaḥ

sa cānantyāya kalpate


Śvetāśvatara Upaniṣad (5.9) 


[“Quando a ponta de um fio de cabelo é dividida em cem partes e cada uma dessas partes é novamente dividida em cem, cada uma dessas partes representa a dimensão da alma espiritual.”]


As jīvas são minúsculas e inumeráveis, enquanto Deus é imenso (mahān), único (ekaṁ bhagavān), e conhecido como a Verdade Absoluta.


ekam eva tat parama-tattvam 

svābhāvikācintya-śaktya sarvadaiva 

svarupa-tadrupa-vaibhava-jiva-

pradhāna-rūpena caturdhāvatiṣṭhate


Bhāgavata-sandarbha (16)


[“A Verdade Absoluta é única, e Sua característica natural é que Ela possui uma potência inconcebível. Tais potências repousam em quatro estágios diferentes: Sua forma pessoal (svarūpa), as expansões de Sua forma divina (tad-rūpa-vaibhava), as jīvas (almas) e os ingredientes materiais (pradhāna).”]


O Senhor é único, mas se manifesta em muitas formas. Ele é Supremo, enquanto as jīvas são extremamente minúsculas e completamente dominadas por māyā, a energia ilusória de Deus. O Senhor, por sua vez, está além de māyā.


harir hi nirguṇaḥ sākṣāt

puruṣaḥ prakṛteḥ paraḥ

sa sarva-dṛg upadraṣṭā

taṁ bhajan nirguṇo bhavet

 

Śrīmad-Bhāgavatam (10.88.5)


[“O Senhor Hari, porém, não tem ligação alguma com os modos materiais. Ele é a Suprema Personalidade de Deus, a testemunha eterna de tudo, que é transcendental à natureza material. Quem O adora torna-se igualmente livre dos modos materiais.”]


O Senhor possui três potências principais, são elas: cit-śakti, jīva-śakti e māyā-śakti. Com Sua potência transcendental, o Senhor cria o mundo espiritual, o cit-jagat, que é extremamente belo. Vaikuṇṭha, Ayodhyā, Dvārakā, Mathurā e, finalmente, Goloka Vṛndāvana — todos são partes do cit-jagat. O Senhor manifesta Suas múltiplas formas nesse mundo transcendental, evidenciando assim a potência cit. Outra potência é a jīva-śakti, que se manifesta no jīva-jagat, o conjunto de todos os seres vivos. O jīva-jagat inclui todos os seres que surgem a partir da taṭasthā-śakti, a potência marginal do Senhor. Por fim, com Sua māyā-śakti, a potência externa, o Senhor cria o mundo material. Madhvācārya explica essa filosofia (tattva).


O segundo aspecto é jīva-jīva-bheda, a diferença entre um ser vivo e outro. Algumas jīvas estão sob a influência do tāmasika-guṇa (modo da ignorância), outras sob o rājasika-guṇa (modo da paixão), e algumas sob o sāttvika-guṇa (modo da bondade). Assim, distinguem-se três tipos de jīvas: sāttvika, rājasika e tāmasika. Mesmo as jīvas que são libertadas deste mundo material, ao entrarem no mundo transcendental, permanecem distintas entre si. Algumas adoram Viṣṇu, outras Rāmacandra, e outras Rādhā e Kṛṣṇa. Há também diferentes doçuras transcendentais (rasas) que elas experienciam: algumas vivenciam sakhya-rasa (humor de amizade), outras vātsalya-rasa (humor parental), algumas mādhurya-rasa (humor conjugal) e outras dāsya-rasa (humor servil). Entre as jīvas, sejam libertas ou ainda na condição de enredamento (baddha-jīva), existem diferenças, pois algumas são masculinas e outras femininas.


O terceiro aspecto é jīva-jaḍa-bheda, a diferença entre o ser vivo e a matéria inerte. Os seres conscientes possuem três características: sensação, vontade e poder de conhecer. Por exemplo, vocês percebem se está frio ou quente — isso é sensação. Quanto à vontade, vocês possuem desejos; se sentem fome, desejam comer. E, finalmente, o poder de conhecer permite discernir e compreender. Assim, um ser consciente possui essas três qualidades. Já os seres inertes, como uma pedra, não possuem nenhuma delas.


O quarto aspecto é jaḍa-jaḍa-bheda, a diferença entre um ser inerte e outro. A água é líquida, e a pedra é sólida. Ambos são inertes, mas diferentes. O vidro da janela e a parede também são distintos: ambos são inertes (jaḍa), mas através do vidro podemos ver o lado de fora, enquanto através da parede não.


Por fim, o quinto aspecto é jaḍa-īśvara-bheda, a diferença entre o inerte e o Senhor. Isso é bastante simples: o Senhor é supremo e consciente (bṛhad-caitanya), enquanto a matéria inerte não possui consciência.


Madhvācārya explica isso em sua filosofia bheda-vāda. Esse ensinamento é conhecido como dualismo (dvaita-vāda), e está presente em toda parte. Ele também esclarece de forma muito clara como servir ao Senhor Bhagavān — com sentimentos doces e devocionais.


As glórias de Madhvācārya


Madhvācārya possuía uma grande peça de tilaka (argila sagrada). Quando ela se quebrou, naquele instante manifestou-se uma forma belíssima de Kṛṣṇa segurando um bastão para mexer iogurte. Assim, Madhvācārya estabeleceu esse vigraha e explicou como servir ao Senhor com o sentimento mais elevado: gopī-bhāva. E foi por isso que Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou o Madhva Sampradāya.


Madhvācārya é um ācārya de grande poder, sendo a encarnação do vento (Vāyu) e de Hanumān, que se manifestou por meio de seu corpo e realizou muitas façanhas. Ele possuía tamanha força que trinta pessoas não conseguiam mover uma pedra, mas Madhvācārya a ergueu sozinho. Além disso, ele recebeu o dīkṣā-mantra diretamente de Vyāsadeva. 


kṛṣṇa hôite catur-mukha, haya kṛṣṇa-sevonmukha, 

brahmā hôite nāradera mati

nārada hôite vyāsa, madhva kahe vyāsa-dāsa, 

pūrṇaprajña padmanābha-gati



Śrī Guru-paramparā (1), de Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Prabhupāda


[“No início da criação, Śrī Kṛṣṇa ensinou a ciência do serviço devocional ao Senhor Brahmā. Brahmā, por sua vez, transmitiu esses ensinamentos a Śrī Nārada Muni, que aceitou Śrī Kṛṣṇa Dvaipāyana Vyāsadeva como seu discípulo. Śrī Vyāsa transmitiu esse conhecimento a Śrī Madhvācārya, também conhecido como Pūrṇaprajña Tīrtha, que é o único refúgio de seu discípulo Śrī Padmanābha Tīrtha.”]


Aqui, Kṛṣṇa refere-se a Viṣṇu Nārāyaṇa. A escritura sagrada Brahma-saṁhitā explica que Kṛṣṇa deu o gopāla-mantra a Brahmājī por meio de Sua flauta, e então Brahmājī transmitiu-o a Nārada. Nāradajī passou o mantra a Vyāsadeva, que por sua vez o entregou a Madhvācārya. Assim, cantamos todos os dias a canção Śrī Guru-paramparā, que descreve como a nossa linhagem de mestres espirituais se manifestou.


As inúmeras potências do Senhor


No sampradāya de Madhvācārya, existem dois aspectos fundamentais: tattva-vicāra, que se refere à filosofia, e rasa-vicāra, que se refere à doçura (mādhurya). Naquela época, era muito difícil pregar śuddha-bhakti (serviço devocional puro), pois a maioria das pessoas estava completamente influenciada pela filosofia de Śaṅkara, que afirmava: “eka brahma dvitīya nāsti” — “só existe um Brahman, e não dois”. Todavia, Madhvācārya estabeleceu que o Senhor é único, mas possui inúmeras potências (ananta-śakti). Os śāstras (textos sagrados) explicam que não há diferença entre śakti, a potência, e śaktimān, aquele que possui a potência — śakti śaktimator abhedaḥ. O Senhor é chamado de śaktimān, significando que toda a potência reside nEle.


rādhā — pūrṇa-śakti, kṛṣṇa — pūrṇa-śaktimān

dui vastu bheda nāi, śāstra-paramāṇa


Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā, 4.96)


[“Śrī Rādhā é o poder pleno, e o Senhor Kṛṣṇa é o possuidor de pleno poder. Os dois não são diferentes, como evidenciam as escrituras reveladas.”]


Śrīmatī Rādhikā é chamada de pūrṇa-śakti, pois toda a potência está nEla, enquanto Kṛṣṇa é chamado de śaktimān. Assim como não há diferença entre o fogo (agni) e a quentura que dele emana — pois onde há fogo, ali também está o seu calor —, não há diferença entre śakti e śaktimān. No entanto, os advaitavādīs (impersonalistas) não aceitam a existência da śakti. Eles descrevem Brahman como nir-śakti (sem potência), nirākāra (desprovido de forma), nirviśeṣa (destituído de qualidades) e nirañjana (imaculado). Mas, afinal, o que é o Brahman?


‘brahma’-śabde mukhya arthe kahe — ‘bhagavān’

cid-aiśvarya-paripūrṇa, anūrdhva-samāna


Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā 7.111)


[“Segundo a compreensão direta, a Verdade Absoluta é a Suprema Personalidade de Deus, que tem todas as opulências espirituais. Ninguém pode ser igual ou superior a Ele.”]


O Brahman, em sua natureza original, é Svayaṁ Bhagavān — Aquele que possui as seis opulências (ṣaḍ-aiśvarya).


aiśvaryasya samagrasya

vīryasya yaśasaḥ śriyaḥ

jñāna-vairāgyayoś caiva

ṣaṇṇāṁ bhaga itīṅganā

 

Viṣṇu Purāṇa (6.5.47) 


[“Bhagavān é aquele que possui essas seis opulências em sua totalidade: todas as riquezas, toda a força, toda a influência, toda a sabedoria, toda a beleza e toda a renúncia.”]


Os Upaniṣads explicam quem é Bhagavān. Ele possui as seis opulências e é infinitamente poderoso, controlando todos, incluindo Brahmā, Śiva e Indra. Existem incontáveis Brahmās: neste brahmāṇḍa (universo) há o Brahmā de quatro cabeças, mas também existem Brahmās de oito, dezesseis, cem e até mil cabeças. Da mesma forma, existem incontáveis universos. Nossos śāstras afirmam que Śiva possui cinco cabeças, e que Brahmājī possui quatro, razão pela qual é chamado de Caturmukha Brahmā. No entanto, isso se aplica apenas a este universo, que é o menor, e por isso o Brahmā desta brahmāṇḍa possui apenas quatro cabeças. Existem inúmeras brahmāṇḍas e incontáveis Brahmās, Śivas e Indras, e todos prestam reverências a Kṛṣṇa, Svayaṁ Bhagavān.


ete cāṁśa-kalāḥ puṁsaḥ

kṛṣṇas tu bhagavān svayam

indrāri-vyākulaṁ lokaṁ

mṛḍayanti yuge yuge


Śrīmad-Bhāgavatam (1.3.28)


[“Todas as encarnações acima mencionadas são ou porções plenárias ou porções das porções plenárias do Senhor, mas o Senhor Śrī Kṛṣṇa é a Personalidade de Deus original. Todas elas se manifestam nos planetas sempre que há um distúrbio criado pelos ateístas. O Senhor encarna para proteger os teístas.”]


govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi


Śrī Brahma-saṁhitā


[“Eu adoro Govinda, o Ser Primordial.”]


īśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ

sac-cid-ānanda-vigrahaḥ

anādir ādir govindaḥ

sarva-kāraṇa-kāraṇam


Śrī Brahma-saṁhitā, (5.1)


[“Kṛṣṇa, que é conhecido como Govinda, é o Deus Supremo. Ele possui um corpo espiritual eterno e bem-aventurado. Ele é a origem de tudo. Ele não tem outra origem e é a causa primária de todas as causas.”]


namāmīśvaraṁ sac-cid-ānanda-rūpaṁ 

lasat-kuṇḍalaṁ gokule bhrājamanam 

yaśodā-bhiyolūkhalād dhāvamānaṁ 

parāmṛṣṭam atyantato drutya gopyā


Śrī Dāmodarāṣṭakam (1)


[“Eu adoro o Supremo Controlador, cuja forma é eterna, plena de conhecimento e bem-aventurança. Em Suas bochechas, brincos em forma de makara balançam, e Ele brilha com esplendor em Gokula. Fugindo do almofariz com grande medo de Mãe Yaśodā, Ele acabou sendo alcançado por trás.”]


A beleza incomparável de Kṛṣṇa


Enquanto o nosso corpo condicionado é formado por cinco elementos — pṛthvī, ap, tejas, vāyu e ākāśa (terra, água, fogo, ar e éter) —, a forma do Senhor é sat-cid-ānanda (existente, consciente e cheia de bem-aventurança). Por isso, Ele é chamado de sat-cid-ānanda bhagavān, e é belíssimo, como descreve o seguinte verso:


barhāpīḍaṁ naṭa-vara-vapuḥ karṇayoḥ karṇikāraṁ

bibhrad vāsaḥ kanaka-kapiśaṁ vaijayantīṁ ca mālām

randhrān veṇor adhara-sudhayāpūrayan gopa-vṛndair

vṛndāraṇyaṁ sva-pada-ramaṇaṁ prāviśad gīta-kīrtiḥ


Śrīmad-Bhāgavatam (10.21.5)


[“Usando um enfeite de pena de pavão sobre a cabeça, flores karṇikāra azuis nas orelhas, uma roupa amarela tão brilhante quanto o ouro, e a guirlanda Vaijayantī, o Senhor Kṛṣṇa exibia Sua forma transcendental como o maior dos dançarinos ao entrar na floresta de Vṛndāvana, embelezando-a com as marcas de Suas pegadas. Ele enchia os orifícios de Sua flauta com o néctar de Seus lábios, e os vaqueirinhos cantavam Suas glórias.”]


O Śrīmad-Bhāgavatam fornece a evidência de que, quando Kṛṣṇa sai para pastorear as vacas, Sua forma se revela extremamente bela e encantadora. Barhāpīḍaṁ naṭa-vara-vapuḥ — Ele usa uma pena de pavão em Seu turbante e adota uma graciosa postura de dança chamada tri-bhaṅga-lalita, a forma curvada em três partes. Karṇayoḥ karṇikāraṁ — em Suas orelhas há uma flor de karṇikāra, de tom levemente avermelhado, alternando-a ora em uma orelha, ora em outra. Bibhrad vāsaḥ — Ele veste roupas amarelas belíssimas, cuja beleza supera até o brilho do ouro das montanhas mais reluzentes. Vaijayantīṁ ca mālām — Ele está adornado com uma esplêndida guirlanda Vaijayantī. Mālā significa “guirlanda”, e esta, em particular, é composta por cinco tipos de flores. Ele toca a flauta, cujo som deixa todos completamente inebriados. E por fim, vṛndāraṇyaṁ sva-pada-ramaṇaṁ prāviśad gīta-kīrtiḥ — quando percorre os bosques de Vṛndāvana, Suas pegadas ficam impressas no solo. Nessas pegadas aparecem diversos sinais auspiciosos: dhvaja (bandeira), vajra (raio) e aṅkuśa (gancho usado para conduzir elefantes). No total, existem dezenove marcas distintas nos pés de lótus do Senhor.


Quando Kṛṣṇa sai para pastorear as vacas, todos os semideuses liderados, por Brahmā e Śiva, vão até Vṛndāvana e, oferecendo seus praṇāmas e stava-stutis, adoram aqueles pés de lótus. Kṛṣṇa é muito alegre e atraente, assim como um ser humano. Ele realiza todos os Seus passatempos (līlās) em Vraja justamente na forma humana. Isso se chama lokavat-līlā-kevalam.


rudantaṁ muhur netra-yugmaṁ mṛjantam 

karāmbhoja-yugmena sātaṅka-netram 

muhuḥ śvāsa-kampa-tri-rekhāṅka-kaṇṭha- 

sthita-graiva-dāmodaraṁ bhakti-baddham


Śrī Dāmodarāṣṭakam (2)


[“Chorando incessantemente, Ele esfrega Seus olhos com Suas duas mãos de lótus. Seus olhos estão tomados pelo medo. Ele respira pesadamente, uma e outra vez, fazendo com que as pérolas e outros ornamentos ao redor de Seu pescoço — marcado por três linhas graciosamente curvas — tremam. (Ofereço meus praṇāmas a) esse Dāmodara, que está atado pela vātsalya-bhakti de Sua mãe.”]


O bebê Kṛṣṇa, Bala Gopāla, cometeu duas travessuras: quebrou o pote de manteiga e ainda desperdiçou toda a manteiga, oferecendo-a aos macacos e corvos. Por isso, a Mãe Yaśodā o repreendeu. Assustado, Kṛṣṇa saiu correndo pelas veredas de Vṛndāvana. Tais līlās revelam a Sua doçura (mādhurya). No entanto, os advaitavādīs, ou impersonalistas, não têm fé de que Kṛṣṇa possui uma forma eterna e transcendental, sac-cid-ānanda; pensam que tudo é mera ilusão. Isso não está correto. O Senhor manifesta doces līlās em Vṛndāvana. Os Vrajavāsīs (residentes de Vraja) nutrem por Ele um amor e afeto profundos, e Kṛṣṇa retribui esse amor. Por essa razão, Ele mesmo declara: “Eu nunca dou sequer um passo fora de Vṛndāvana” — vṛndāvanaṁ parityajya padam ekaṁ na gacchati.


sucāru-vaktra-maṇḍalaḿ sukarṇa-ratna-kuṇḍalam

sucarcitāńga-candanaḿ namāmi nanda-nandanam


Śrī Nanda-nandanāṣṭakam (1)


[“Seu rosto redondo é tão adorável, Suas belas orelhas estão enfeitadas com brincos pendentes de joias, e Seu corpo está delicadamente ungido com pasta perfumada de sândalo. Eu ofereço meus praṇāmas a esse Śrī Nanda-nandana.”]


kareṇa veṇu-rañjitaḿ gati-karīndra-gañjitam

dukūla-pīta-śobhanaḿ namāmi nanda-nandanam


Śrī Nanda-nandanāṣṭakam (4) 


[“Suas mãos estão adornadas com uma flauta, Seu passo majestoso supera o do rei dos elefantes, e Ele é embelezado por finas vestes amarelas. Eu ofereço meus praṇāmas a esse Śrī Nanda-nandana.”]


Quão belo é Kṛṣṇa! Karena veṇu — Ele sempre segura Sua flauta em Suas mãos, e quando a toca, as vibrações do som se espalham por toda parte. Nesse instante, todos ficam completamente inebriados. Śukadeva Gosvāmipāda declarou:


kā stry aṅga te kala-padāyata-veṇu-gīta

sammohitārya-caritān na calet tri-lokyām 

trailokya-saubhagam idaṁ ca nirīkṣya rūpaṁ 

yad go-dvija-druma-mṛgāḥ pulakāny abibhran 


Śrīmad-Bhāgavatam (10.29.40)


[“Querido Kṛṣṇa, qual mulher em todos os três mundos não se desviaria do comportamento religioso ao ser encantada pela doce e prolongada melodia de Sua flauta? Sua beleza torna todos os três mundos auspiciosos. De fato, até mesmo as vacas, os pássaros, as árvores e os cervos manifestam o sintoma extático de seus pelos se arrepiando quando veem a Sua bela forma.”]


Não são apenas as gopīs que se encantam com o som da flauta de Kṛṣṇa. Go-dvija-druma-mṛgāḥ pulakāny abibhran — as vacas de Vṛndāvana (go), os pássaros (dvija), as árvores (druma) e os cervos dourados (hiranya mṛgā) — todos ficam completamente extasiados ao ouvir a flauta de Govinda. Kṛṣṇa possui 64 qualidades, mas quatro delas são extraordinárias. A primeira é rūpa-mādhurya, a doçura de Sua beleza; a segunda, līlā-mādhurya, a doçura de Suas atividades; a terceira, veṇu-mādhurya, a doçura do som de Sua flauta; e a quarta, prema-mādhurya, a doçura de Seu amor divino. Essas quatro qualidades são únicas e não se manifestam em outras encarnações de Kṛṣṇa. Nossos textos sagrados descrevem quão belo Ele é:


aiśvaryasya samagrasya

vīryasya yaśasaḥ śriyaḥ

jñāna-vairāgyayoś caiva

ṣaṇṇāṁ bhaga itīṅganā

 

(Viṣṇu Purāṇa, 6.5.47) 


[“A riqueza completa, a força, a fama, a beleza, o conhecimento e o desapego — essas são as seis opulências da Suprema Personalidade de Deus.”]


Śrī significa “beleza”, e essa beleza é eterna e transcendental. Todos ficam completamente inebriados com o esplendor de Govinda. O verso a seguir descreve a Sua forma sempre jovem (nava-yauvanam). Kṛṣṇa nunca envelhece; Ele possui uma aparência encantadora e fascinante.


advaitam acyutam anādim ananta-rūpam

ādyaṁ purāṇa-puruṣaṁ nava-yauvanaṁ ca

vedeṣu durlabham adurlabham ātma-bhaktau

govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi


Śrī Brahma-saṁhitā (5.33)


[“Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, inacessível pelos Vedas, mas alcançável por meio da devoção pura e inalterada da alma, que não possui um segundo, que não está sujeito à decadência, que não tem começo, cuja forma é infinita, que é o princípio e o puruṣa eterno; ainda assim, Ele é uma pessoa que possui a beleza da juventude florescente.”]


A impiedade de duvidar da forma de Kṛṣṇa


kasturī-tilakaṁ lalāṭa-paṭale

vakṣaḥ-sthale kaustubhaṁ 

nāsāgre vara-mauktikaṁ karatale 

veṇuḥ kare kaṅkaṇam 

sarvāṅge hari-candanaṁ sulalitaṁ 

kaṇṭhe ca muktāvalī 

gopa-strī-pariveṣṭito vijayate 

gopāla-cuḍāmaṇiḥ 


Śrī Gopāla-sahasra-nāma (28)


[“Sua testa está decorada com tilaka de almíscar; em Seu peito repousa a joia Kaustubha; uma pérola requintada adorna a ponta de Seu nariz; Suas mãos de lótus seguram a flauta; braceletes adornam Seus pulsos; todo o Seu corpo está ungido com polpa de sândalo (candana); um colar de pérolas embeleza Seu pescoço encantador; e Ele está rodeado por donzelas pastoras de vacas. Todas as glórias àquele que é a jóia suprema dos jovens pastores de vacas!”]


Todos os Vedas, Purāṇas, Upaniṣads e o Śrīmad-Bhāgavatam glorificam a forma encantadora de Kṛṣṇa. No entanto, os impersonalistas não aceitam que o Senhor possua forma, e tal atitude é uma transgressão. Nossas escrituras chamam de māyāvādī aqueles que negam a existência da figura do Senhor e os consideram aparādhis (ofensores). 


Kṛṣṇa possui uma forma encantadora, poderes inumeráveis (śakti) e é o Controlador Supremo (sarva-śaktimān). Vocês têm olhos e, com eles, são capazes de enxergar. Da mesma forma, o Vedānta-sūtra (Aitareya Upaniṣad 1.1.1–2) explica: sa aikṣata” — “O Senhor lançou um olhar sobre a criação material.” Isso significa que Ele também tem olhos.


apāṇi-pādo javano grahītā


Śvetāśvatara Upaniṣad (3.19)


[“O Senhor Supremo não tem mãos e pés materiais, mas aceita tudo o que Lhe é oferecido e se move com muita rapidez. Ele não tem ouvidos e olhos materiais, mas vê e ouve tudo. Ele é o conhecedor de tudo e é tudo o que se pode conhecer. Diz-se que Ele é o melhor e o maior de todos os seres.”]


Os Upaniṣads afirmam que o Senhor não possui olhos, nariz, mãos e pernas, mas isso significa apenas que Ele não os tem em sua forma material; pelo contrário, essas características do Senhor são consideradas aprakṛta, ou seja, transcendentais e sobrenaturais.


As duas perspectivas sobre os textos sagrados


Os impersonalistas não conseguem compreender a verdadeira natureza do Senhor e justificam sua crença alegando que os Vedas sustentam essa interpretação. No entanto, vocês podem entender o significado de todos os ślokas dos Vedas, Upaniṣads e demais śāstras de maneira direta (abhidhā-vṛtti) ou indireta (lakṣaṇā-vṛtti). A forma direta significa que o nome está explícito, e eu estou me referindo a Ele. Na forma indireta, quando o nome não é mencionado, o significado é explicado de outra maneira, e então todos compreendem.


Śrīla Gurudeva: Qual é o seu nome?


Devoto: Rādhā-ramana dāsa.


Śrīla Gurudeva: Se eu for mencionar o Rādhā-ramana dāsa indiretamente, sem mencionar seu nome, direi: “Aqui está um menino, sentado, vestindo roupas brancas”, e explicarei todos os membros do seu corpo. Feito isso, todos observarão quem possui as características mencionadas e concluirão: é o Rādhā-ramana Prabhu. Por outro lado, se eu for mencioná-lo diretamente, simplesmente direi: “Rādhā-ramana Prabhu está sentado aqui.” Um outro exemplo é: Rādhā-ramana Prabhu nunca come durante o dia, mas ainda assim é muito gordo. Como isso é possível? A conclusão é que ele não come durante o dia, mas se alimenta à noite. É dessa maneira que, eventualmente, a filosofia é explicada nos Vedas, Purāṇas e Upaniṣads — ora de maneira direta, abhidhā-vṛtti, ora de maneira indireta, lakṣaṇā-vṛtti.


O Śrīmad-Bhāgavatam (1.3.28) explica: “ete cāṁśa-kalāḥ puṁsaḥ kṛṣṇas tu bhagavān svayam” — “Todas as encarnações mencionadas são ou porções plenas ou partes das porções plenas do Senhor, mas o Senhor Śrī Kṛṣṇa é a Personalidade de Deus original.” Isso é um exemplo de abhidhā-vṛtti. No entanto, há outra forma de responder à pergunta “Quem é Bhagavān?” — “É aquele que possui seis opulências.” Aqui não se menciona diretamente “Kṛṣṇa”, mas nos referimos àquele que é a Suprema Personalidade de Deus. 


As seis opulências são: aiśvarya (opulência), vīrya (força), yaśaḥ (fama), śrī (beleza), jñāna (conhecimento) e vairāgya (renúncia). Portanto, quem é Svayaṁ Bhagavān? É Kṛṣṇa! Ele possui aiśvarya, uma opulência ilimitada, pois é o Controlador Supremo do mundo transcendental, do mundo material e de todos os seres vivos. Ele possui vīrya, ou seja, é infinitamente poderoso, e por isso, Brahmā, Śiva e todos os semideuses prestam reverências aos Seus pés de lótus. Ele possui yaśaḥ, fama e reputação inimagináveis. A beleza de Kṛṣṇa, śrī, é única e incomparável, e todas as encarnações (avatāras) do Senhor, que não são diferentes dEle, estão ávidas para ter o darśana (visão auspiciosa) de Sua bela forma, e todos esses avatāras se manifestam a partir dEle.


rāmādi-mūrtiṣu kalā-niyamena tiṣṭhan

nānāvatāram akarod bhuvaneṣu kintu

kṛṣṇaḥ svayaṁ samabhavat paramaḥ pumān yo

govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi


Śrī Brahma-saṁhitā (5.39)


[“Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que se manifestou pessoalmente como Kṛṣṇa e os diferentes avatāras no mundo nas formas de Rāma, Nṛsiṁha, Vāmana, etc., como Suas porções subjetivas.”]


A escritura sagrada Śrī Brahma Saṁhitā fornece a evidência: Rāma, Nṛsiṁha, Kalki, Varāha, Matsya e todas as demais encarnações se manifestaram a partir de Kṛṣṇa e não são diferentes dEle. Isso é acintya-tattva, algo que está além da nossa concepção material. Ainda assim, esses mesmos avatāras estão ávidos para ter o darśana de Kṛṣṇa. Quão bela é a Sua forma!


govindera mādhurī dekhi’ vāsudevera kṣobha

se mādhurī āsvādite upajaya lobha


Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā, 20.179)


[“De fato, Vāsudeva fica agitado apenas para ver a doçura de Govinda, e uma avidez transcendental desperta nele para desfrutar dessa doçura.”]


Até mesmo Vāsudeva Kṛṣṇa está muito ávido para ter o darśana da bela forma de Vrajendra-nandana Kṛṣṇa. Nós não podemos compreender isso com nossa concepção material, mas os Vedas, Purāṇas e Upaniṣads explicam que a beleza de Kṛṣṇa é única e incomparável. Além disso, é especialmente destacado que Ele possui quatro qualificações extraordinárias: rūpa-mādhurya, līlā-mādhurya, veṇu-mādhurya e prema-mādhurya. Vocês precisam aprender isso.


A doçura do som da flauta de Govinda


Quando Kṛṣṇa toca a flauta, todos ficam extasiados. Os corpos de Brahmā e Śiva começam a tremer, e todas as suas atividades se invertem.


nadyas tadā tad upadhārya mukunda-gītam

āvarta-lakṣita-manobhava-bhagna-vegāḥ

āliṅgana-sthagitam ūrmi-bhujair murārer

gṛhṇanti pāda-yugalaṁ kamalopahārāḥ 


Śrīmad-Bhāgavatam (10.21.15)


[“Quando os rios ouvem o som da flauta de Kṛṣṇa, suas mentes começam a desejá-lO, e assim rompe-se o fluxo de suas correntes e suas águas se agitam, formando redemoinhos. Então, com os braços de suas ondas, os rios abraçam os pés de lótus de Murāri e, agarrando-se a eles, presenteiam-nos com oferendas de flores de lótus.”]


A água normalmente corre de cima para baixo, mas quando Kṛṣṇa toca a flauta, o fluxo do rio é interrompido e se formam redemoinhos. As vacas de Vṛndāvana ficam completamente perplexas, como estátuas, e mantêm os olhos abertos, contemplando a bela forma do Senhor. O som doce penetra em seus ouvidos, seus corações se derretem totalmente, e lágrimas escorrem de seus olhos. Vṛndāvana é extremamente bela e atraente, especialmente pelo som da flauta de Govinda. Em muitos versos do Śrīmad-Bhāgavatam, Śukadeva Gosvāmipāda glorifica o veṇu-mādhurya, a doçura do som da flauta do Senhor. 


Estou dizendo isso para explicar a doçura da beleza de Kṛṣṇa (rūpa-mādhurya), seguida pelo veṇu-mādhurya, a doçura do som de Sua flauta. Līlā-mādhurya refere-se às Suas doces līlās em Vṛndāvana, e, por fim, prema-mādhurya indica a doçura do Seu amor divino. Kṛṣṇa é Svayaṁ Bhagavān, a Suprema Personalidade de Deus.


Kṛṣṇa Se prostra perante Śrīmatī Rādhikā


Brahmā, Śiva e Nārada prestam reverências a Kṛṣṇa, enquanto em Vṛndāvana, esse mesmo Kṛṣṇa presta reverências a Śrīmatī Rādhikā, inclinando completamente Sua cabeça aos pés de lótus dEla.


smara-garala-khaṇḍanaṁ mama śirasi maṇḍanaṁ

dehi pada-pallavam udāram

jvalati mayi dāruṇo madana-kadanānalo

haratu tad-upāhita-vikāram


Śrī Gīta-govinda (8)


[“Ó Minha amada! O delírio do amor alojou-se em Minha cabeça. Coloque ali as pétalas frescas de Seus pés encantadores para neutralizar esse veneno, e que esses pés apaziguem o intenso fogo dos desejos amorosos que ardem dentro de Mim.”]


Jayadeva Gosvāmipāda compôs este verso do Gīta-govinda enquanto se questionava: como é possível que Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, se curve diante dos pés de Śrīmatī Rādhikā, e que Ela coloque Seus pés sobre a cabeça dEle?


Certa vez, Śrīmatī Rādhikā entrou no estado de mana — um humor contrariado — e Kṛṣṇa tentou dissipá-lo. Às vezes, vocês também podem entrar nesse estado, mas o sentimento de Śrīmatī Rādhikā não é material. Embora Kṛṣṇa tenha tentado apaziguá-lo, esse mana era durjaya-mana (inquebrável) e ahaitukī-mana (sem causa). Existem dois tipos de mana: hetu-mana, com motivos, e ahaitukī-mana, sem motivos. Às vezes, vocês ficam bravos com seus cônjuges por algum motivo, mas aqui Śrīmatī Rādhikā está brava com Kṛṣṇa sem razão, o que caracteriza o ahaitukī-mana


Com grande humildade, Kṛṣṇa juntou as mãos, colocou a testa no chão e citou esse verso: “Ó Rādhe! O que Eu fiz? Por que está brava Comigo? Abandone o seu manaSmara-garala-khaṇḍanaṁ mama śirasi maṇḍanaṁ — Eu curvo a Minha cabeça diante de Seus pés de lótus!” Oferecendo a flauta e a pena de pavão aos pés de lótus de Rādhārāṇī, Ele disse: “Eu estou Te dando tudo!” Mesmo assim, Śrīmatī Rādhikā, sendo muito teimosa, não abandonou a Sua ira transcendental. Desse modo, como Kṛṣṇa poderia dissipar o mana dEla?


Se alguém lhes pedir perdão, vocês devem aceitá-lo, pois o perdão é uma grande fortuna. Quando alguém comete uma ofensa e diz: "A culpa foi minha…", vocês perdoam, e a pessoa promete: "Não cometerei esse tipo de erro novamente." De maneira similar, Kṛṣṇa não apenas Se curvou repetidamente, colocando a testa nos pés de lótus de Śrīmatī Rādhikā, como também disse: "Ó Rādhe, o que Eu fiz de errado? Estou pedindo perdão! Não Te ofenderei novamente. Estou Lhe dando os Meus itens mais preciosos: Minha flauta e Minha pena de pavão! Aceite-os…"


yat-kiṅkarīṣu bahuśaḥ khalu kāku-vāṇī

nityaṁ parasya puruṣasya śikhaṇḍa-mauleḥ

tasyāḥ kadā rasa-nidher vṛṣabhānu-jāyās

tat-keli-kuñja-bhavanāṅgana-marjanī syām


Śrī-Śrī Rādhā-Rasa-Sudhā-Nidhi (8), de Prabhodhānanda Sarasvatī Ṭhākura


[“Ó filha de Vṛṣabhānu Mahārāja, ó oceano de rasa! O Supremo Bhagavān, a fonte de todos os avatāras, que usa uma pena de pavão em Seus cabelos, inclina-Se aos pés de Suas servas e as propicia com muitas palavras humildes e carregadas de devoção, pedindo permissão para entrar em Seu kuñja, onde Vós desfrutais de passatempos amorosos e lúdicos. Se ao menos eu pudesse me tornar um dos gravetos da vassoura usada por Suas sakhīs para varrer Vosso encantador kuñja, consideraria minha vida bem-sucedida.”]


Portanto, Kṛṣṇa recitou este verso: “Smara-garala-khaṇḍanaṁ mama śirasi maṇḍanaṁ… Ó Śrīmatī Rādhike! Você é muito generosa! Coloque os Seus pés sobre a Minha cabeça...” Contudo, Jayadeva Gosvāmī não conseguiu escrever essa linha. Então, Kṛṣṇa Se manifestou na forma de Jayadeva Gosvāmī e finalizou o verso. Isso é um exemplo de prema-mādhurya, a doçura de Seu amor divino.


Kṛṣṇa é dhīra-lalita-nāyaka e está completamente subjugado pelo amor divino de Śrīmatī Rādhikā, Sua consorte. Rāmacandra não é controlado por Sua esposa Sītā-devī, bem como Nṛsiṁhadeva não é controlado por Sua esposa Lakṣmī-devī. Quando Nṛsiṁhadeva matou Hiraṇyakaśipu, Ele ficou extremamente furioso, e ninguém ousou se aproximar dEle. Todos os semideuses estavam apavorados, e alguns disseram: “Ei, Lakṣmī-devī, por favor, vá acalmar seu marido.” No entanto, ela respondeu: “Desta vez, eu não posso acalmá-lO…” Isso exemplifica como Lakṣmī-devī não pôde controlar o Senhor, enquanto Śrīmatī Rādhikā controla Kṛṣṇa.


anaṅga-raṅga-maṅgala-prasaṅga-bhaṅgura-bhruvāṁ

savibhramaṁ sasambhramaṁ dṛganta-bāṇa-pātanaiḥ

nirantaraṁ vaśī-kṛta-pratīti-nanda-nandane

kadā kariṣyasīha māṁ kṛpā-kaṭākṣa-bhājanam?


Śrī Rādhā-kṛpā-kaṭākṣa-stava-rāja (3)


[“Ó Você, que, no palco dos passatempos amorosos, durante uma conversa auspiciosa, demonstra surpresa ao arquear as sobrancelhas como arcos e, em seguida, dispara de repente as flechas de Seus olhares de soslaio, perfurando o filho de Śrī Nanda com delírio amoroso e colocando-O sob Seu controle perpétuo, quando fará de mim o destinatário do seu misericordioso olhar de soslaio?”]


madonmadāti-yauvane pramoda-māna-maṇḍite

priyānurāga-rañjite kalā-vilāsa-paṇḍite

ananya-dhanya-kuñja-rājya-kāma-keli-kovide

kadā kariṣyasīha māṁ kṛpā-kaṭākṣa-bhājanam?


Śrī Rādhā-kṛpā-kaṭākṣa-stava-rāja (5)


[“Ó Você, extasiada por Sua juventude, adornada com o encantador ornamento da ira travessa, que Se alegra com o apego de Seu amado a Você e que é suprema na arte do amor. Ó Você, que é a mais sábia no conhecimento dos passatempos amorosos em Seus confidenciais e auspiciosos bosques, quando fará de mim o destinatário do Seu misericordioso olhar de soslaio?”]


Assim como Lakṣmī-devī não consegue controlar Nārāyaṇa e Sītā-devī não consegue controlar Rāmacandra, em Dvārakā Purī, Rukmiṇī e Satyabhāmā também não conseguem dominar Kṛṣṇa. No entanto, em Vṛndāvana, as gopīs conseguem controlá-lO facilmente por meio do amor puro. Como um ser humano, Kṛṣṇa manifesta essas līlās, e isso é prema-mādhurya, a doçura desse amor transcendental.


Kṛṣṇa é como um elefante louco. Para controlar um elefante assim, utiliza-se uma vara especial chamada aṅkuśa, colocada abaixo de suas orelhas, pela qual o animal se deixa conduzir. Da mesma forma, Kṛṣṇa — a Suprema Personalidade de Deus, Bhagavān, sarva-śaktimān (o possuidor de todas as potências) e svatantra (totalmente independente) — é controlado por Śrīmatī Rādhikā por meio de Seu amor divino transcendental. Esse é o aṅkuśa dEla: o amor, o prema-aṅkuśa. E isso é prema-mādhurya.


O conhecimento pleno de Bhagavān


Vocês podem compreender o significado dos śāstras de duas formas: de maneira direta (abhidhā-vṛtti) e indireta (lakṣaṇā-vṛtti). Conforme mencionado, de forma direta, o verso “ete cāṁśa-kalāḥ puṁsaḥ kṛṣṇas tu bhagavān svayam” declara que Kṛṣṇa é Bhagavān; e, de forma indireta, Ele é reconhecido por possuir as seis opulências — aiśvarya, vīryasya, yaśaḥ, śrī, jñāna e vairāgya. O Senhor possui todo o conhecimento (jñana). Ele compreende todas as línguas: dos gatos, dos cães e de todos os demais animais — até mesmo das formigas! 


Certa vez, um cachorro foi até o tribunal de Rāmacandra e ficou sentado do lado de fora. O Senhor, que compreende a linguagem dos cães, perguntou-lhe: “Qual é a sua reclamação?” O cachorro respondeu: “Seu pūjārī me chutou. O Senhor deve puni-lo.” Rāmacandra convocou o pūjārī e lhe perguntou: “Por que você o chutou?” O pūjārī explicou: “Oh, esse cachorro estava bloqueando o caminho. Eu fiquei irritado e o chutei.” Então, Rāmacandra disse: “Isso não está certo. Ele é um animal, você não deveria tê-lo chutado. Você não deve perturbar os animais, nem tem o direito de incomodar os outros. Como ser humano, você poderia ter seguido por outro caminho. E se o cachorro estava bloqueando a rua, dormindo ali, você poderia tê-lo acordado com amor e carinho. Portanto, a culpa é sua.”


Rāmacandra perguntou ao cão: “Diga-me, que punição você deseja que Eu dê a ele?” O cachorro respondeu: “Bhagavān Rāma, faça com que ele seja o presidente do Templo Dourado.” Surpreso, Rāmacandra replicou: “Por quê? O Templo Dourado recebe milhões de moedas de ouro todos os dias e é muito opulento.” Mas o animal insistiu: “Ele deve ser o presidente daquele templo, pois ali virão muita riqueza, nome, fama e reputação.” No sul da Índia havia um templo assim, conhecido como Kaliṇḍī Pradeśa.


Surpreso, Rāmacandra disse: “Este pūjārī te chutou e você está pedindo para que ele ocupe a mais elevada posição de presidente do Templo Dourado. Qual é a razão disso?” O cachorro respondeu: “Na minha vida passada, eu era o presidente desse templo, e todos os dias chegava tanta riqueza e dinheiro que não consegui controlar minha saliva e acabei desfrutando a gratificação dos sentidos com os recursos do templo. Por essa razão, agora nasci na forma de um cachorro e sofro neste corpo animal.” Se vocês sentirem dor, procurarão um médico; até mesmo se um mosquito os picar, aplicarão algum líquido no local. Mas se diversos mosquitos picarem um cachorro, ele sofrerá. Por isso, o cachorro disse: “Ele se tornará o presidente do Templo Dourado e não conseguirá controlar sua saliva, ou seja, não poderá controlar o prazer da gratificação dos sentidos materiais, e acabará abusando do dinheiro do templo. Por essa razão, ele renascerá como cão e, assim, compreenderá a sensação de ter esse corpo animal.” 


Qual corpo é melhor: o humano ou o de cachorro? Algumas pessoas pensam: “O corpo de cachorro é bom! Vou renascer como o cachorro do presidente da América e assim terei acesso a ótimos hotéis e hospitais para cães.” Mas os cães sofrem, pois são animais e não podem praticar bhajana e sādhana. Se os donos cuidam deles ou não, isso é outro assunto, mas o que recebem, precisam simplesmente comer. Eles não podem falar, e isso é sofrimento, não é? Quando vocês renascerem com o corpo de um cachorro, compreenderão isso. Se vocês são ricos, de fato cuidarão de seus cachorros. Mas o animal sempre dependerá do seu mestre. Já como humano, vocês podem ir a qualquer lugar. Portanto, não pensem: “Na próxima vida, renascerei como o cachorro de alguém rico.”


Bhagavān conhece a linguagem dos cães, assim como os idiomas de todos os seres vivos — sarva-bhāṣā-vit. As jīvas não podem se tornar Bhagavān, pois seu conhecimento é limitado. Já Bhagavān possui um conhecimento infinito, ananta-jñāna.


vividhādbhuta-bhāṣā-vit

satya-vākyaḥ priyaṁ-vadaḥ

vāvadūkaḥ su-pāṇḍityo

buddhimān pratibhānvitaḥ


Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā, 23.71


[“Kṛṣṇa é o conhecedor de todas as línguas maravilhosas. Ele é um orador verdadeiro e muito agradável. É especialista em falar, muito sábio, erudito e um gênio.”]


Kṛṣṇa também possui vairāgya (desapego). Ele realiza doces līlās em Vraja, inebriando os Vrajavāsīs com Seu amor divino. No entanto, Ele partiu de Vṛndāvana para Mathurā e, de acordo com o Śrīmad-Bhāgavatam, não retornou mais.


Kṛṣṇa é Svayaṁ Bhagavān, mas os impersonalistas não compreendem isso. Eles pensam: “eka brahma dvitīya nāsti” — “só existe um Brahman, e não dois” — e afirmam: “jyotir-maya brahma” — “o Brahman é uma refulgência”. No entanto, qual é a origem desse brilho? Nesta sala, vocês podem observar o brilho de uma lâmpada acesa; dentro dela há filamentos de onde surge esse brilho, que vocês não conseguem enxergar, pois percebem apenas a luz exterior. Da mesma forma, a refulgência do Brahman provém do corpo de Kṛṣṇa, mas os jñānavādīs e advaitavādīs não conseguem perceber isso; eles veem apenas a luz exterior. Os śāstras explicam: “jyotira vyantare dvi-bhuja muralīdhara śyāmasundara” — dentro de Sua refulgência, Kṛṣṇa está presente, portando a flauta com Suas duas mãos. Os devotos puros, por meio do serviço devocional, são capazes de ver essa forma encantadora do Senhor. 


Os três aspectos do Senhor


vadanti tat tattva-vidas

tattvaṁ yaj jñānam advayam

brahmeti paramātmeti

bhagavān iti śabdyate


Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.11)


[“Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta chamam essa substância não-dual de Brahman, Paramātmā ou Bhagavān.”]


O Senhor é único, mas manifesta-Se em três aspectos: Brahman, Paramātmā e Bhagavān. Brahman é a Sua refulgência corporal; Paramātmā é a Superalma, presente no coração de todos os seres vivos; e Bhagavān é Aquele que possui as seis opulências.


Não é possível compreender o Senhor por meio de karma, jñāna, yoga ou tapasya; somente por meio do serviço devocional puro — śuddha-bhakti. Os impersonalistas não desejam praticar bhakti e, por isso, não conseguem ver o Senhor. Bhakti significa serviço devocional (sevā). Portanto, se vocês praticarem sevā, poderão vê-lO.


O controle do Senhor está na devoção pura


bhaktir evainaṁ nāyati

bhaktir evainaṁ darśayati

bhakti-vaśaḥ puruṣo

bhaktir eva bhūyasī


Mathara-śruti, comentário de Madhvācārya ao Vedānta-sūtra (3.3.53)


[“Somente a bhakti (devoção) aproxima o ser vivo de Bhagavān. Somente a bhakti permite que o ser vivo veja Bhagavān face a face. A Suprema Personalidade, Bhagavān, na verdade, é controlada pela bhakti; a bhakti é superior a tudo.”]


Mãe Yaśodā controla Kṛṣṇa com seu vātsalya-bhāva, o amor parental. Subala e Śrīdāmā controlam Kṛṣṇa com seu sakhya-bhāva, o humor de amizade. As gopīs controlam Kṛṣṇa com seus sentimentos doces, mādhurya-bhāva. E Śrīmatī Rādhikā controla plenamente Kṛṣṇa com Seu amor supremo, o parakīya-bhāva. A bhakti e o sevā de Rādhārāṇī são únicos e incomparáveis, e é por isso que Ela domina Kṛṣṇa. Já os jñānīs e yogīs não possuem esse humor de serviço, e por isso Kṛṣṇa não Se releva a eles, nem é controlado por suas práticas.


na sādhayati māṁ yogo 

na sāṅkhyaṁ dharma uddhava 

na svādhyāyas tapas tyāgo 

yathā bhaktir mamorjitā 


Śrīmad-Bhāgavatam (11.14.20) 


["Meu querido Uddhava, Eu não posso ser controlado por aqueles que estudam a filosofia Sānkhya ou as escrituras (śāstra), ou que praticam yoga místico, atos piedosos, austeridade ou renúncia. Eu sou controlado apenas por aquela poderosa bhakti oferecida a Mim por Meus devotos de coração puro."]


Kṛṣṇa declara de forma muito clara que, por meio da execução de karma, jñāna, yoga, tapasya ou apenas lendo os Vedas e śāstras e acumulando conhecimento, ninguém é capaz de controlá-lO. Somente pela śuddha-bhakti isso é possível.


anyābhilāṣitā-śūnyaṁ

jñāna-karmādy-anāvṛtam

ānukūlyena kṛṣṇānu-

śīlanaṁ bhaktir uttamā


Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā, 19.167)


[“Quando o serviço devocional de primeira classe se desenvolve, a pessoa deve ser desprovida de todos os desejos materiais, conhecimento obtido pela filosofia monística e ação fruitiva. O devoto deve constantemente servir Kṛṣṇa favoravelmente, como Kṛṣṇa deseja.”]


Uttama-bhakti é o serviço devocional puro a Kṛṣṇa, que consiste em dedicar todas as atividades apenas para agradá-lO, sem envolvê-las com desejos de karma, jñāna, yoga ou tapasya, estando livre de qualquer motivação material, e servindo unicamente para a satisfação dEle. Essa uttama-bhakti está plenamente presente no coração de Śrīmatī Rādhikā, e é por isso que Ela O domina. Quando Ela diz: "Ei, Kṛṣṇa, sente-Se!", Ele se senta; quando diz: "Levante-Se!", Ele se levanta. Por isso, Kṛṣṇa declara: "Śrīmatī Rādhikā é Minha prema-guru."


rādhikāra prema — guru, āmi — śiṣya naṭa

sadā āmā nānā nṛtye nācāya udbhaṭa


Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā, 4.124)


[“O amor de Rādhikā é Meu mestre, e Eu Sou Seu discípulo dançante. Seu prema faz com que Eu execute várias danças novas e encantadoras.”]


Os śāstras declaram que Kṛṣṇa é o guru do universo — kṛṣṇa vande jagad guru. No entanto, Kṛṣṇa afirma: "Não, não, Śrīmatī Rādhikā é Minha guru!" Ela diz: “Ei, Kṛṣṇa, coloque alta (tintura vermelha) em Meus pés!”, algo que Sītā-devī não poderia dizer a Rāmacandra. Rādhā simplesmente ordena: “Faça isto, faça aquilo!”, porque possui o amor supremo em Seu coração.


Śrīmatī Rādhikā possui em Seu coração as seguintes variedades do amor divino: prema, sneha, māna, praṇaya, rāga, anurāga, bhāva, mahābhāva, rūḍha, adhirūḍha, mohana, madana e mādanākhya-mahābhāva. É por meio dessas formas de amor que Ela subjuga Kṛṣṇa por completo. Tentem compreender esses estágios, pois os Upaniṣads declaram:


bhaktir evainaṁ nayati

bhaktir evainaṁ darśayati

bhakti-vaśaḥ puruṣo

bhaktir eva bhūyasī


Māṭhara-śruti, citado no Madhva-bhāṣya (3.3.53)


[“Somente a bhakti (devoção) aproxima o ser vivo de Bhagavān. Somente a bhakti permite que o ser vivo veja Bhagavān face a face. A Suprema Personalidade, Bhagavān, na verdade, é controlada pela bhakti; a bhakti é superior a tudo.”]


A distinção entre amor e luxúria


Não é possível ver o Senhor com os olhos materiais; é necessário bhakti e sevā-vṛtti (a disposição para o serviço devocional). Se tentarem perceber o Senhor apenas com os olhos materiais, pensarão: “Ah, essa deidade é de metal, aquela é de pedra…” Por isso, procurem contemplar o Senhor com os olhos transcendentais e por meio do amor divino.


Há duas formas de enxergar: pela ótica da luxúria ou pela ótica do amor divino. A maneira de ver o Senhor depende de cada um. Com os olhos da luxúria, o Senhor pode parecer apenas metal ou pedra, mas com os olhos do amor divino, é possível ter o darśana de Sua sac-cid-ānanda-vigraha. Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, no Śrī Caitanya-caritāmṛta, define a distinção entre amor e luxúria:


ātmendriya-prīti-vāñchā — tāre bali ‘kāma’

kṛṣṇendriya-prīti-icchā dhare ‘prema’ nāma


Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā, 4.165)


[“O desejo de satisfazer os próprios sentidos é kāma (luxúria), enquanto o desejo de agradar os sentidos do Senhor Kṛṣṇa é prema (amor).”]


Com que olhos vocês estão contemplando o Senhor — pela ótica da gratificação dos sentidos ou pelo amor divino? Vocês também podem controlar Kṛṣṇa por meio do serviço devocional, pois Ele é completamente controlado pelo serviço de Seus devotos. Sevā hi paramo dharma — servir é a maior virtude. Sirvam Guru e Kṛṣṇa com corpo, mente e palavras — kāya-mano-vākya-sevā.


etāvaj janma-sāphalyaṁ

dehinām iha dehiṣu

prāṇair arthair dhiyā vācā

śreya-ācaraṇaṁ sadā


Śrīmad-Bhāgavatam (10.22.35)


[“É dever de todo ser vivo realizar atividades de bem-estar em benefício dos outros com sua vida, riqueza, inteligência e palavras.”]


O Śrīmad-Bhāgavatam fornece evidências muito claras de que a vida só é bem-sucedida pelo serviço ao Guru, aos Vaiṣṇavas e a Bhagavān, por meio do corpo, mente e fala. Sirvam sempre Guru e Kṛṣṇa, em qualquer lugar. Aprendam este verso do Śrīmad-Bhāgavatam e pratiquem-no continuamente, pois bhakti significa serviço devocional.


Gaura Premānande!

Jaya Jaya Śrī Rādhe!




Transcrição: Braja-sundarī devī dāsī (SP)

Diacríticos: Gaura-gopāla dāsa (SP)

Edição: Taruṇī-gopī dāsī (SP)

Revisão: Acyuta-priya devī dāsī (SP) e Taruṇī-gopī dāsī (SP)

Colaboração: Mahākāla dāsa (SP) e Premānanda dāsa (Espanha)


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