As glórias de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura
- Vana Madhuryam Brasil
- 11 de out.
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Atualizado: 15 de out.

Śrīla Bhaktivedānta Vana Gosvāmī Mahārāja
09 de fevereiro de 2020, Rio de Janeiro, Brasil
Certa vez, um devoto perguntou a Śrīla Gaura-kiśora dāsa Bābājī Mahārāja: “Como posso obter kṛṣṇa-prema, o amor puro por Kṛṣṇa?”, e ele respondeu: “Se você deseja isso, precisa gastar apenas seis pāisās (centavos de rúpia). Com esse valor, vá ao mercado e compre um pequeno livro: o Prema-bhakti-candrikā, composto por Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura.” Em valores atuais, isso talvez correspondesse a cerca de um centavo de real.
Para comprar algo, é necessário ir ao mercado, mas kṛṣṇa-prema não está disponível lá; ele só pode ser obtido do coração do sādhu, o devoto de Kṛṣṇa extremamente avançado, e, para isso, não é preciso pagar nenhum centavo: basta entregar os ouvidos e a atenção ao que ele fala. Mas como isso pode ser feito? Será que devemos cortar as orelhas e entregá-las? Oferecer os ouvidos ao sādhu significa ouvir hari-kathā (narrações sobre o Senhor) diretamente de seus lábios de lótus.
O livro Prema-bhakti-candrikā é extremamente importante, e todos vocês devem lê-lo, pois assim, kṛṣṇa-prema automaticamente se manifestará em seus corações. Conforme explica Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura, a essência do Bhakti-rasāmṛta-sindhu, do Ujjvala-nīlamaṇi, das conclusões filosóficas (tattva-siddhānta) e de todos os granthas (livros sagrados) dos nossos Gosvāmīs se encontram neste livro. Uma pessoa sem vasto conhecimento de sânscrito não será capaz de compreender apropriadamente o Bhakti-rasāmṛta-sindhu ou o Ujjvala-nīlamaṇi, mas Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura misericordiosamente explicou sua essência no Prema-bhakti-candrikā, onde também mostra, passo a passo, como alcançar o objetivo supremo.
O Prema-bhakti-candrikā é belíssimo, e todos devem lê-lo, pois nele se explica como uma pessoa pode se tornar completa e absolutamente rendida aos pés de lótus do guru, bem como a maneira adequada de servir o Guru, os Vaiṣṇavas, Śrī Caitanya Mahāprabhu, Nityānanda Prabhu e, por fim, o Casal Divino, Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa. Como poderia bhakti-devī se manifestar no coração daqueles que não leem as escrituras sagradas (śāstras)? Isso é de extrema importância; portanto, todos devem ler este pequeno livro, o Prema-bhakti-candrikā, composto por Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura.
śrī-guru-caraṇa-padma, kevala-bhakati-sadma,
bando mui sāvadhāna mate
jāhāra prasāde bhāi, e bhava toriyā jāi,
kṛṣṇa-prāpti hoy jāhā ha'te
Canção Śrī Guru-caraṇa-padma (1)
de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura
[“Os pés de lótus do mestre espiritual são o único caminho pelo qual nós podemos alcançar serviço devocional puro. Eu me agarro, com muito cuidado, aos seus pés de lótus. Por sua graça, uma pessoa é capaz de cruzar o oceano do sofrimento material e obter a misericórdia de Kṛṣṇa.”]
Para se manter firmemente agarrado aos pés de lótus de guru-pāda-padma (os pés de lótus de śrī guru), é essencial não cometer nenhuma ofensa — aparādha haya na jena. Se alguém ofender os pés de lótus do mestre espiritual, sua bhakti, o serviço devocional amoroso ao Senhor, desaparecerá por completo. Por esse motivo, no verso já citado aparece a palavra sânscrita sāvadhāna, que significa “com muito cuidado”. Se alguém estiver caminhando e, por desatenção, não perceber que há uma poça de água no chão causada por uma goteira, pode escorregar, cair e fraturar a perna; por isso, colocam-se placas de alerta: “Cuidado! Chão escorregadio.” Da mesma forma, no Prema-bhakti-candrikā, Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura glorificou o guru ao explicar: “bando mui sāvadhāna mate”, que significa: “Com muito cuidado, agarre-se aos pés de lótus do guru, adore-os e nunca os ofenda.”
Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura descreveu, passo a passo, como se pode alcançar kṛṣṇa-bhakti pela misericórdia imotivada do mestre espiritual. Mais cedo, pela manhã, também mencionei como ele se abrigou aos pés de lótus de seu guru, Śrī Lokanātha dāsa Gosvāmī. Humildemente, ele compôs a seguinte canção:
śuniyāchi sādhu mukhe bole sarva jana
śrī rūpa kṛpāya mile yugala caraṇa
Canção Śuniyāchi Sādhu-mukhe (1)
de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura
[“Ouvi das bocas de lótus dos devotos santos que todos dizem que, pela misericórdia de Śrīla Rūpa Gosvāmī, uma pessoa é capaz de se aproximar dos pés de lótus do Casal Divino.”]
prabhu lokanātha kabe saṅge lôiyā ĵā’be
śrī rūpera pāda-padme more samarpibe
Canção Śuniyāchi Sādhu-mukhe (4)
de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura
[“Ó, quando o meu mestre, Lokanātha dāsa Gosvāmī, me levará com ele e me entregará aos pés de lótus de Śrīla Rūpa Gosvāmī?”]
Como é possível alcançar os pés de lótus de Śrīla Rūpa Gosvāmī? Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura responde: “Pela misericórdia de meu Gurudeva, Lokanātha dāsa Gosvāmī.” Ele ora: “Quando meu Gurudeva, Lokanātha dāsa Gosvāmī, me tomará pelas mãos e me oferecerá aos pés de lótus de Śrīla Rūpa Gosvāmī? Então, Rūpa Gosvāmipāda me levará aos pés de lótus de Śrīmatī Rādhikā.” Os Gauḍīya Vaiṣṇavas, com muita humildade, sentem grande orgulho em serem conhecidos como rūpānugas, pois servem ao Casal Divino sob a guia de Śrīla Rūpa Gosvāmipāda. Em sua canção, Śrīla Narottama dāsa Gosvāmipāda prosseguiu:
henô ki hôibe mora—narma-sakhī-gaṇe
anugata narottame kôribe śāsane
Canção Śuniyāchi Sādhu-mukhe (5)
de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura
[“Ó, quando o meu mestre, Lokanātha dāsa Gosvāmī, me levará com ele e me entregará aos pés de lótus de Śrīla Rūpa Gosvāmī? Quando tal destino será meu, que, por meio de suas instruções, as narma-sakhīs de Śrīmatī Rādhikā irão fazer deste Narottama o seu seguidor cheio de fé?”]
Dīkṣā-guru e śikṣā-guru
Observem quanto amor, devoção e fé Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura nutre por seu guru. Hoje pela manhã mencionei que ele recebeu dīkṣā (iniciação com mantras) de Lokanātha dāsa Gosvāmī, que o instruiu: “Você deve aprender todos os śāstras de Śrīla Jīva Gosvāmī.” E assim Narottama seguiu fielmente essa instrução.
Narottama dāsa Ṭhākura recebeu dīkṣā de Lokanātha dāsa Gosvāmī; Śrīnivāsa Ācārya recebeu dīkṣā de Gopāla Bhaṭṭa Gosvāmī; e Śyāmānanda Prabhu recebeu dīkṣā de Hṛdaya Caitanya. No entanto, todos eles receberam śikṣā (instruções) de Śrīla Jīva Gosvāmipāda. Pela manhã, expliquei que só é possível ter um único dīkṣā-guru, mas que se pode ter vários śikṣā-gurus. Vocês podem receber śikṣā e aprender os śāstras de diferentes Vaiṣṇavas, pois o dever do śikṣā-guru é alimentar o amor e a devoção que temos pelo nosso dīkṣā-guru. Śrīla Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja explicou isso em um de seus artigos.
Pudemos observar isso quando viajamos pelo ocidente com Śrīla Gurudeva, Śrīla Nārāyaṇa Gosvāmī Mahārāja. Lembro-me de como, onde quer que ele chegasse, se dedicava a glorificar Śrīla Bhaktivedānta Svāmī Mahārāja por dois ou três dias. Śrīla Gurudeva falava sobre como Śrīla Bhaktivedānta Svāmī Mahārāja era seu śikṣā-guru e priya-bandhu — mestre instrutor e querido amigo. Vocês devem ler este grantha escrito por Śrīla Gurudeva, “Meu Śikṣā-Guru e Priya-Bandhu”, que está disponível em português. Nele é descrito o vínculo profundo entre Śrīla Gurudeva e Śrīla Bhaktivedānta Svāmī Mahārāja, algo que muitos devotos ainda desconhecem. Há um mês, os devotos me mostraram um filme sobre Śrīla Bhaktivedānta Svāmī Mahārāja, mas nele não havia nenhuma menção a Śrīla Gurudeva. Fiquei muito chateado com isso.
Poucos sabem que Śrīla Gurudeva Nārāyaṇa Gosvāmī Mahārāja encontrou-se com Śrīla Svāmī Mahārāja — que na época se chamava Abhay Carana De — em Mathurā, quando seus negócios haviam falido e ele tentava recomeçar. Na ocasião, Gurudeva lhe disse: “Venha ao nosso maṭha (templo) em Mathurā”, e Śrīla Svāmī Mahārāja respondeu: “Não, não... Estou em idade avançada e não quero morar no templo.” Śrīla Gurudeva insistiu: “Simplesmente venha e cuide da edição da nossa revista em hindi.” Assim, Gurudeva o levou ao templo de Mathurā, e Śrīla Svāmī Mahārāja passou a residir ali. Alguns meses depois, Śrīla Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja chegou da Bengala, e Śrīla Gurudeva insistiu para que Śrīla Svāmī Mahārāja tomasse sannyāsa, mas inicialmente ele recusou. Śrīla Gurudeva Nārāyaṇa Gosvāmī Mahārāja continuou insistindo até que, finalmente, Śrīla Svāmī Mahārāja aceitou a ordem de vida renunciada de Śrīla Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja, sendo Śrīla Gurudeva quem providenciou toda a sua parafernália para a cerimônia de sannyāsa.
Há cerca de 15 anos, eu estava em Nova Gokula e perguntei a um devoto se ele sabia de quem Śrīla Svāmī Mahārāja havia recebido sannyāsa. Ele respondeu: “Talvez de um brāhmaṇa de Mathurā.” Mas como isso seria possível? Então contei como Śrīla Gurudeva insistiu para que Śrīla Svāmī Mahārāja aceitasse a ordem de vida renunciada, providenciando toda a parafernália necessária — incluindo sua dor-kaupīna (tanga de renunciado), a roupa de cor açafrão e a daṇḍa — e como Śrīla Gurudeva, pessoalmente, preparou e realizou o sacrifício de fogo.
Quando Gurudeva começou a viajar pelo ocidente em 1996, visitou diversos lugares e percebeu que muitos discípulos de Śrīla Svāmī Mahārāja haviam perdido a fé; inclusive, vários sannyāsīs haviam abandonado seus votos de renúncia, suas vestimentas açafroadas, serviços e tudo mais — chegando a remover até mesmo seus choṭīs (tufo de cabelo no topo da cabeça, também conhecido como śikhā) e kaṇṭhī-mālās (colares feitos da planta sagrada tulasī). Diante disso, Gurudeva glorificou Śrīla Bhaktivedānta Svāmī Mahārāja, mostrando como ele era fidedigno e exaltado, e gradualmente eles renovaram a fé em seu mestre espiritual.
Estou dizendo isso para evidenciar o dever de um śikṣā-guru, que é fortalecer a fé no coração do discípulo. Hoje em dia, essa prática está fora da ordem natural: alguém recebe dīkṣā de um guru, e então outra pessoa, discípula de outro guru, diz: “Abandone seu guru, ele não é fidedigno, abrigue-se em meu guru!” Mas isso não está certo. Deve-se sempre glorificar o guru e ajudar as pessoas a fortalecerem a fé nos pés de lótus de seu próprio mestre espiritual. Śrīla Nārāyaṇa Gosvāmī Mahārāja, além de ser um dīkṣā-guru fidedigno, é um śikṣā-guru plenamente confiável.
Narottama, Śyāmānanda e Śrīnivāsa receberam śikṣā de Śrīla Jīva Gosvāmipāda, que fortaleceu seus corações com śuddha-bhakti (devoção pura). O primeiro passo no desenvolvimento da vida espiritual é a fé nos pés de lótus do guru, pois quem não a possui jamais poderá progredir em seu bhajana e sādhana. Portanto, por meio de seu hari-kathā (narrações sobre o Senhor), Śrīla Jīva Gosvāmipāda intensificou continuamente a śuddha-bhakti nos corações de Narottama, Śyāmānanda e Śrīnivāsa, e os instruiu: “Vocês devem pregar sobre o Senhor e distribuir os livros sagrados em todos os lugares.”
O passatempo do bandido Vīra Hamvīra
Primordialmente, deve-se aprender o śāstra e adentrar o tattva-siddhānta (as conclusões filosóficas sobre o Senhor). Quando Narottama, Śyāmānanda e Śrīnivāsa dominaram esse conhecimento e se tornaram peritos no tattva-siddhānta, começaram a pregar. Eles colocaram as escrituras sagradas dos Gosvāmīs em um carro de boi, cobrindo-as, e colocaram uma placa com os dizeres: “Itens muito preciosos e valiosos.” Pessoas mundanas, incapazes de compreender a linguagem dos Vaiṣṇavas, ao verem aquele anúncio, possivelmente pensariam: “Oh, talvez haja joias muito valiosas ali dentro”, e começariam a imaginar como roubá-las. De fato, estava escrito: “Itens muito preciosos e valiosos”, e no âmbito espiritual, o que eles haviam escrito era verdade!
Certa noite, eles chegaram a uma vila onde residia um bandido chamado Vīra Hamvīra. Acreditando que o carro de boi continha itens muito valiosos, o bandido roubou tudo. No entanto, ao verificar o produto de seu roubo, Vīra Hamvīra percebeu, para seu descontentamento, que não havia joias, prata ou qualquer outro tesouro, mas apenas um bocado de livros — que, naquela época, eram escritos à mão, pois não havia impressoras. Pela manhã, quando Narottama, Śyāmānanda e Śrīnivāsa despertaram, perceberam que seus livros haviam sido roubados e ficaram muito chateados, pensando em como poderiam, de alguma forma, recuperar aqueles inestimáveis granthas. Śrīnivāsa Ācārya decidiu permanecer na vila, enquanto Narottama dāsa Ṭhākura continuaria sua missão de pregação, viajando para Maṇipura, e Śyāmānanda Prabhu seguiria para Orissa.
Śrīnivāsa Ācārya era um orador extraordinário do Śrīmad-Bhāgavatam. Certo dia, enquanto permanecia naquela vila, ele proferiu uma aula sobre essa escritura, falando especialmente sobre o Gopī-gīta, de modo que todos os presentes ficaram completamente inebriados — inclusive o bandido Vīra Hamvīra, que também assistia à aula. Isso ocorreu porque o Gopī-gīta é muito poderoso, e é considerado o coração do Śrīmad-Bhāgavatam. Quem o lê tem seu coração automaticamente derretido. Usando diferentes melodias, Śrīnivāsa Ācārya entoou o seguinte verso de maneira fascinante:
tava kathāmṛtaṁ tapta-jīvanaṁ
kavibhir īḍitaṁ kalmaṣāpaham
śravaṇa-maṅgalaṁ śrīmad ātataṁ
bhuvi gṛṇanti ye bhūri-dā janāḥ
Śrīmad-Bhāgavatam (10.31.9)
[“O néctar das Suas palavras e as descrições de Suas atividades são a vida e alma daqueles que estão sofrendo neste mundo material. Essas narrações, transmitidas pelos sábios eruditos, erradicam as reações pecaminosas e concedem a boa fortuna àqueles que as ouçam. Essas narrações são espalhadas por todo o mundo e são dotadas de poder espiritual. Certamente aqueles que espalham a mensagem de Deus são os mais munificentes.”]
O Gopī-gīta pode ser cantado não apenas em uma, mas em várias melodias. Quando Śrīnivāsa Ācārya o narrou, o coração de Vīra Hamvīra se derreteu completamente. Assim, ele abrigou-se nos pés de lótus de Śrīnivāsa Ācārya e devolveu todo o tesouro — ou seja, os livros que havia roubado. Quem ouvir as narrações do Śrīmad-Bhāgavatam, especialmente o Gopī-gīta, certamente se tornará um grande devoto do Senhor.
vikrīḍitaṁ vraja-vadhūbhir idaṁ ca viṣṇoḥ
śraddhānvito ’nuśṛṇuyād atha varṇayed yaḥ
bhaktiṁ parāṁ bhagavati pratilabhya kāmaṁ
hṛd-rogam āśv apahinoty acireṇa dhīraḥ
Śrīmad-Bhāgavatam (10.33.39)
[“Qualquer pessoa que ouça, com fé, as descrições das divertidas trocas amorosas do Senhor com as jovens gopīs de Vṛndāvana, alcançará serviço devocional puro ao Senhor. Então, ela rapidamente se tornará sóbria e vencerá a luxúria, a doença do coração.”]
Ouvir as narrações do Śrīmad-Bhāgavatam e da rāsa-līlā, os passatempos amorosos de Kṛṣṇa com as gopīs, faz com que tudo o que é indesejável se dissipe automaticamente do coração. Esse kathā é um remédio extremamente poderoso! Por isso, quando Vīra Hamvīra ouviu aquele belíssimo e potente Gopī-gīta, seu coração se derreteu por completo, e ele devolveu os tesouros que havia roubado.
Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura compôs inúmeras canções belíssimas. Dentro de nossa Gauḍīya Sampradāya, é essencial ler as composições dele e de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, pois as orações e os granthas de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura possuem a mesma profundidade e estão imbuídos do mesmo humor devocional que os de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura.
Narottama dāsa Ṭhākura compôs diversas canções glorificando Śrīmatī Rādhikā, e, ao lê-las e meditá-las, o sādhaka (praticante) gradualmente compreenderá sua forma constitucional transcendental. Em um espírito de humildade, ele canta: “rāmacandra-saṅga māge narottama dāsa”, que significa: “Meu desejo é estar na companhia de Rāmacandra, o discípulo de Śrīnivāsa Ācārya.” Há uma história esplêndida por trás desse verso, a qual meu Gurudeva explicou ao revelar o motivo pelo qual Narottama dāsa Ṭhākura ansiava por essa associação. Rāmacandra Kavirāja se rendeu plena e absolutamente aos pés de lótus de seu guru, Śrīnivāsa Ācārya — e essa é a sua glória.
A busca pela argola de nariz de Śrīmatī Rādhikā
Certa vez, Śrīnivāsa Ācārya ficou completamente absorto em sua meditação. Por sete dias, seu corpo permaneceu imóvel; ele apenas se mantinha sentado e de olhos fechados. Muitos começaram a se perguntar: “Será que ele abandonou o corpo? Ou estará em samādhi, um transe profundo?” Então, Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura disse a Rāmacandra Kavirāja: “Seu Gurudeva não abandonou o corpo. Ele está, na verdade, completamente absorto em samādhi.”
Ao ouvir isso, Rāmacandra Kavirāja sentou-se diante de seu Gurudeva e também ficou absorto em samādhi. Assim, com seu corpo transcendental, ele chegou a Vṛndāvana no mundo espiritual. Às margens do Yamunā, ele viu seu Gurudeva junto com todas as sakhīs, amigas íntimas de Śrīmatī Rādhikā, e também seu parama-gurudeva, Śrīla Gopāla Bhaṭṭā Gosvāmī, na forma transcendental de Guṇa Mañjarī. Rāmacandra Kavirāja então perguntou ao seu mestre: “Gurudeva, todos estão chorando por você. O que está fazendo aqui? O que houve?” Ao que Śrīnivāsa Ācārya respondeu: “Hoje, enquanto Śrīmatī Rādhikā Se banhava nas águas do Yamunā, acabou perdendo Sua argola de nariz.”
Todas as sakhīs de Śrīmatī Rādhikā estavam tentando encontrar Sua argola de nariz, quando Rāmacandra Kavirāja mergulhou nas águas do Yamunā e finalmente a encontrou. Ele então entregou o adorno a seu Gurudeva, Śrīnivāsa Ācārya, que por sua vez o passou a seu Gurudeva, Gopāla Bhaṭṭā Gosvāmī. Este, em sua forma constitucional de Guṇa Mañjarī, ofereceu o adorno a Rūpa Mañjarī, que finalmente o entregou a Lalitā-devī, que o colocou em Śrīmatī Rādhikā. Após esse evento, Rāmacandra Kavirāja retornou ao seu corpo, e da mesma forma Śrīnivāsa Ācārya também retornou ao seu.
Por isso, nesta canção, Narottama dāsa Ṭhākura glorifica de forma belíssima como Rāmacandra Kavirāja era completamente rendido aos pés de lótus de seu guru, Śrīnivāsa Ācārya.
doyā koro śrī-ācārya prabhu śrīnivāsa
rāmacandra-sańga māge narottama-dāsa
Canção Śrī Kṛṣṇa Caitanya Prabhu Dayā Karo More (6)
de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura
[“Seja misericordioso, ó Prabhu Śrīnivāsa Ācārya! Narottama dāsa implora pela companhia de Rāmacandra Kavirāja.”]
Bolo Rāmacandra Kavirāja kī jaya!
Narottama dāsa Ṭhākura kī jaya!
Jaya jaya Śrī Radhe!
Tradução: Līlānanda dāsa (SP)
Edição: Acyuta-priya devī dāsī (SP) e Taruṇī-gopī dāsī (SP)
Revisão: Taruṇī-gopī dāsī (SP)


