Śrī Rādhāṣṭamī — O advento de Śrīmatī Rādhārāṇī
- Vana Madhuryam Brasil
- 31 de ago.
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Śrīla Bhaktivedanta Vana Gosvāmī Mahārāja
17 de setembro de 2018, Raval, Índia
Em diferentes kalpas (dias de Brahma), Śrīmatī Rādhārāṇī Se manifesta das mais diversas maneiras. Gurudeva explica que, nesta kalpa, Rādhājī nasceu em Raval, e esse nascimento é mencionado no Brahmāṇḍa Purāṇa e em outros Purāṇas. Às vezes, Rādhājī nasce em Varṣāṇā, em outra kalpa Ela surge de um ovo ou do fogo; mas nesta kalpa, Ela se manifestou aqui, em Raval. O nome Raval é mais como um título, assim como Vraja significa calan — movimento.
Os Vrajavāsīs vivem cuidando das vacas, alimentando-as para que produzam leite e manteiga, o sustento de suas vidas. Quando a grama disponível se esgota, eles deixam aquele local e se mudam para outro, de modo semelhante aos ciganos, que migram de lá para cá, permanecendo temporariamente em cada região antes de seguirem adiante. Assim, os Vrajavāsīs levam uma vida nômade. Nanda Bābā passou a residir em Nandagaon, enquanto Vṛṣabhānu Mahārāja permaneceu em Varṣāṇā. Quando a grama começou a se tornar escassa nesses locais e também quando alguns demônios, como Keśī, surgiram, eles seguiram para Gokula e lá se estabeleceram.
Nesta kalpa, Kṛṣṇa nasceu em Gokula, e Nanda Mahārāja organizou um festival para celebrar o nascimento de seu filho. Śiva veio ver Kṛṣṇa, e Nārada Ṛṣi também compareceu para prestigiar essa lila do Senhor. Ao perceber que Kṛṣṇa havia nascido em Gokula, Nārada sabia que, onde Kṛṣṇa está, Sua hlādinī-śakti (potência de bem-aventurança), Rādhā, também deve estar; por isso, ele foi procurá-la, refletindo ansiosamente sobre onde Ela poderia estar.
Nāradajī foi de um lugar a outro até finalmente chegar a Raval. Lá, a mãe Kīrtidā-sundarī e Vṛṣabhānu Mahārāja o receberam de forma muito bela, conforme a tradição em que deve-se dar o devido respeito a um śānta-mahātmā, uma pessoa santa. Sempre que um santo os visitava, eles realizavam muito sevā (serviço) com profunda devoção. Nārada Ṛṣi então indagou a Vṛṣabhānu Mahārāja: “Há uma menina recém-nascida em sua casa?”
Um lindo arranjo feito por Pṛthvī-devī, a Mãe Terra
Bem cedo naquela manhã, durante o brāhma-muhūrta (período auspicioso antes do nascer do sol), Vṛṣabhānu Mahārāja foi ao rio Yamunā para se banhar. Naquele instante, Pṛthvī-devī deixou o local extraordinariamente belo, pois Rādhārāṇī iria manifestar-Se ali. As águas do Yamunā estavam serenas e agradáveis, e Yamunā-devī parecia uma jovem de dezesseis anos. Por alguns momentos, a água chegou a parar de se mover. Gurudeva certa vez comentou: “Se você jogasse uma moeda naquela água, poderia vê-la no fundo.”
Ambas as margens do rio estavam adornadas com belas árvores, decoradas como noivas e noivos. Todos os tipos de árvores frutíferas se encontravam ali. As bananeiras exibiam suas bananas requintadas, e os galhos das árvores se curvavam, como se beijassem a terra. É muito auspicioso quando, pela manhã, se vê uma casa com uma bananeira atrás dela. As mangueiras também eram muito belas, com mangas nectáreas penduradas. Assim, as árvores pareciam cantar e abraçar Pṛthvī-devī, a Mãe Terra. Vṛndā-devī decorou as margens do Yamunā com árvores kadamba, tamāla e diversas flores. A água azul do Yamunā estava cristalina, exalando uma fragrância agradável de aguru, candana e kuṅkuma.
Havia milhares de pássaros diferentes, mergulhando e limpando suas asas na água, enquanto cantavam e trocavam sentimentos entre si. Incontáveis flores desabrochavam ali, espalhando seus perfumes pelas águas do Yamunā. As imensas árvores das margens do rio estavam cobertas de flores, cujas cores lembravam as celebrações do Holi. Era uma beleza tão sublime que palavras não poderiam descrevê-la. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, também conhecido como Kamala Mañjarī, relata esta līlā.
Vṛṣabhānu Mahārāja aproximou-se do rio e se banhou três vezes. Ao sair da água, percebeu, não muito longe à sua frente, no meio do Yamunā, uma bela flor de lótus com milhares de pétalas, iluminada por uma luz resplandecente. Vṛṣabhānu Mahārāja pensou: “O que estou vendo?” Ele então pegou um pouco de água nas palmas das mãos e lavou seus olhos, e nesse instante avistou uma garota divina, repousando graciosamente sobre o topo da flor de lótus.
O bebê usava apenas uma faixa na cintura, tinha olhos grandes e destemidos e lábios vermelhos e brilhantes. Inocentemente, Ela chupava os dedos dos pés. Ao vê-la, o coração de Vṛṣabhānu Mahārāja derreteu. Ele aproximou-se da pequena menina e, com extremo cuidado, a ergueu em seus braços, como se segurasse um lótus muito macio, cuja compleição era dourada como ouro derretido — tapta-kāñcana-gaurāṅgi. Normalmente, sente-se um leve peso ao segurar um bebê, mas esta menina parecia não ter peso algum. Assim, Vṛṣabhānu Mahārāja a segurou próximo ao coração, e foi dessa forma que a lua de Śrīmatī Rādhārāṇī surgiu dentro dele.
Vṛṣabhānu Mahārāja, com lágrimas nos olhos, pensou: “O que estou vendo hoje? O que acabou de acontecer?” Ele não conseguia compreender a transformação que sentiu ao abraçar Rādhārāṇī, a própria personificação de mahābhāva. Ao contemplá-la, ele perdeu toda a energia e não conseguia se mover. Pouco tempo depois, pela misericórdia de Yogamāyā, Vṛṣabhānu Mahārāja recuperou parte de sua força, começou a andar e prestou praṇāmās, reverências, a Rādhājī. Assim, ele desenvolveu um amor profundo por Ela. Em seguida, ele retornou para casa com a criança e a entregou a Kīrtidā-devī, que se alegrou imensamente ao recebê-la em seu colo e a cobriu com o seu véu, protegendo-a de olhares malignos.
A chegada de Nārada Ṛṣi em Raval
Após algum tempo, Nārada Ṛṣi chegou à casa de Vṛṣabhānu Mahārāja e perguntou: “Nasceu uma criança em sua casa?” Vṛṣabhānu Mahārāja permaneceu em silêncio por um instante, sentindo que havia recebido uma riqueza muito especial. Com simplicidade, ele respondeu apenas: “Sim...” Nārada então pediu para ver a criança, mas Vṛṣabhānu Mahārāja trouxe seu filho Śrīdāma e o mostrou a ele. Diante disso, Nārada Ṛṣi perguntou: “Você tem uma menina?” Finalmente, Vṛṣabhānu Mahārāja respondeu que sim, retirou a menina do colo de Kīrtidā-devī e a levou até Nārada. Ele pensou: “Talvez este śānta-mahātmā possa abençoar minha filha, livrando-a das tristezas e doenças para que seja feliz. Além disso, ele pode recitar svasti-vācana, mantras auspiciosos, e conceder-lhe bênçãos.”
Assim como no Rakṣābandhan (festival hindu que celebra o vínculo entre irmãos e irmãs), um fio foi colocado ao redor do pulso de Śrīmatī Rādhikā. Esse ritual serve para proteger contra feitiços malignos ou fantasmas. Por isso, todos os Vrajavāsīs o utilizam, assim como muitos homens em toda a Índia. Os estrangeiros costumam questionar sobre isso e rir, mas este ritual é muito auspicioso. Ele afasta os olhares malignos e quem o utiliza é protegido de qualquer influência negativa. Por isso, as pessoas mantêm esse fio ao redor do pulso: as mulheres na mão esquerda e os homens na direita.
Vṛṣabhānu Mahārāja desejava fazer svasti-vācana a fim de proteger sua filha de más influências. Quando alguém come em público, maus presságios podem afetá-lo; por isso, os śānta-mahātmās comem sozinhos, em um lugar privado. Da mesma forma, vocês devem esconder seu bhajana, práticas espirituais, e bhojana, refeição. Ao cantar os santos nomes, não exibam sua mala (cordão de contas). Meu Gurudeva, Śrīla Vāmana Gosvāmī Mahārāja, dizia: “Não mostre sua japa-mala a ninguém. Cante de forma discreta — Haribol, Haribol!” Às vezes, as pessoas cantam e mostram sua japa-mala na presença de outros, mas, quando não há ninguém por perto, elas guardam a japa-mala e não conseguem completar sequer uma volta em sete dias. Portanto, pratiquem bhajana e bhojana de forma discreta. Não se deve comer na frente de todos, pois as pessoas podem comentar: “Olhe, ele é um sādhu e está comendo tanto!” Alguns têm uma visão negativa. As mães amamentam seus bebês discretamente, pois, se o fizerem em público, o bebê pode vomitar, prejudicando a digestão de quem está por perto.
Vṛṣabhānu Mahārāja pensava: “Minha filha divina, Rādhā, é tão linda! Seu nariz é gracioso e Seu corpo é belíssimo, como tapta-kāñcana — ouro derretido. Ela precisa ser coberta com um véu e protegida por Nārada Ṛṣi.” Então, Nāradajī concordou em realizar o svasti-vācana e pediu: “Por favor, prepare todos os ingredientes necessários para a cerimônia.” Os ingredientes eram: cúrcuma, arroz, noz de betel, entre outros. Ao todo, são necessários vinte e cinco ingredientes diferentes para realizar esse ritual.
Vṛṣabhānu Mahārāja foi coletar todos os ingredientes, deixando a criança sob os cuidados de Nārada Ṛṣi. Ele pensou: “Se não fosse por Nārada, outra pessoa poderia tê-la sequestrado.” Hoje em dia, não se pode confiar em muitos sādhus, pois eles poderiam levar uma criança embora. No entanto, Vṛṣabhānu Mahārāja era simples e confiava plenamente em Nārada Ṛṣi. Por isso, ele deixou a criança sob sua responsabilidade.
Por conseguinte, Lalitā e as outras sete sakhīs, amigas de Rādhā, se manifestaram diante de Nārada, enquanto Śrīmatī Rādhikā assumia a forma de uma garota de dezesseis anos. Ao presenciar essa visão, lágrimas escorreram dos olhos de Nārada Ṛṣi. Quem, diante de tal cena, não teria o coração derretido? Lalitā-devī disse: “Oh, o sādhu perdeu a cabeça.” Nārada permaneceu atônito, com corpo, mãos e pés paralisados de espanto — parecia uma estátua. Lalitā-sakhī exclamou: “Sādhu, acorde!” Como chefe das sakhīs, ela prosseguiu: “Faça o que deve ser feito — seus stutis (orações e versos), execute-os rapidamente.” Então, Nārada Ṛṣi começou a glorificar Śrīmatī Rādhikā da seguinte maneira:
munīndra-vṛnda-vandite tri-loka-śoka-hāriṇī
prasanna-vaktra-paṅkaje nikuñja-bhū-vilāsini
vrajendra-bhānu-nandini vrajendra-sūnu-saṅgate
kadā kariṣyasīha māṁ kṛpā-kaṭākṣa-bhājanam?
Śrī Rādhā-kṛpā-kaṭākṣa-stava-rāja (1)
[Ó Śrīmatī Rādhika, que é glorificada pelos grandes sábios! Ó Você que dissipa o lamento dos três mundos, cujo rosto de lótus floresce com um sorriso alegre e que se diverte nos kuñjas (bosques). Ó filha amada do Rei Vṛṣabhānu! Ó a mais próxima e querida do filho do Rei de Vraja, quando me concederás o Teu misericordioso olhar de soslaio?]
Momentos depois, Vṛṣabhānu Mahārāja retornou, e Lalitā, Viśākha e todas as outras sakhīs desapareceram. Śrīmatī Rādhikā voltou à forma de bebê, chupando os dedos dos pés e rindo. Ao vê-la, Vṛṣabhānu Mahārāja mergulhou completamente no oceano do amor divino e da bem-aventurança, e por fim, Nārada Ṛṣi realizou o svasti-vācana.
Aqueles que contemplam o divya-darśana, o olhar divino de Śrī Rādhārāṇī, jamais conseguem esquecê-lo. Nārada Ṛṣi disse a Vṛṣabhānu Mahārāja: “Sua filha é muito bonita. Nós a chamaremos de Rādhā.” E todos em Vraja comentam: “O rosto de Rādhārāṇī é como a lua de Astamī (o oitavo dia de uma quinzena lunar).” Rādhā desperta anurāga no coração de todos que a veem.
Durante a cerimônia de nomeação, os astrólogos dão o nome ao bebê, sendo a letra inicial determinada pela posição das estrelas no momento do nascimento. Assim, Nārada Ṛṣi proclamou: “Ó Vṛṣabhānu Mahārāja e Kīrtidā-sundarī, a partir de hoje, o nome de sua filha é Rādhā!”
Bolo Rādhārāṇī kī jaya!
Jaya jaya Śrī Rādhe!
Tradução: Ānanda-mayī devī dāsī
Verificação de integridade: Līlā-govinda dāsa
Diacríticos: Mañjarī-priya devī dāsī
Edição: Taruṇī-gopī dāsī
Revisão: Vṛndāvana-candra dāsa
Ilustração: Ānanda-pradāyinī devī dāsī


