Dīpāvalī e as glórias de Govardhana
- Vana Madhuryam Brasil
- 22 de out.
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Śrīla Bhaktivedānta Vana Gosvāmī Mahārāja
07 de novembro de 2018, Govardhana
Hoje é Dīpāvalī, um dia muito excelente e auspicioso. Neste dia, nós oferecemos lamparinas de ghee a Girirāja Govardhana, que é o coração e a alma dos Vrajavāsīs. A própria Śrīmatī Rādhikā glorifica Girirāja. No Śrīmad-Bhāgavatam, Śukadeva Gosvāmipāda também glorifica Girirāja Govardhana, considerando-o o devoto mais elevado do Senhor.
hantāyam adrir abalā hari-dāsa-varyo
yad rāma-kṛṣṇa-caraṇa-sparaśa-pramodaḥ
mānaṁ tanoti saha-go-gaṇayos tayor yat
pānīya-sūyavasa-kandara-kandamūlaiḥ
Śrīmad-Bhāgavatam (10.21.18)
[“De todos os devotos, esta colina de Govardhana é a melhor! Ó meus amigos, esta colina fornece a Kṛṣṇa e Balarāma, junto de Seus bezerros, vacas e amigos vaqueiros, todos os tipos de necessidades — água para beber, uma grama muito macia, cavernas, frutas, flores e vegetais. Dessa forma, a colina presta respeito ao Senhor. Ao ser tocada pelos pés de lótus de Kṛṣṇa e Balarāma, a Colina de Govardhana parece muito jubilante.”]
No Venu-gīta, Śrīla Śukadeva Gosvāmipāda disse a Parīkṣit Mahārāja: “Quando as gopīs sofrem de saudade de Kṛṣṇa (kṛṣṇa-viraha), elas também glorificam Girirāja Govardhana.” Foi Śrīmatī Rādhikā quem proferiu o verso já citado: “hantāyam adrir abalā hari-dāsa-varyo…” Girirāja Govardhana é conhecido como hari-dāsa-varyo, o devoto mais elevado de Kṛṣṇa.
Os três Haridāsas
No Śrīmad-Bhāgavatam, Śukadeva Gosvāmipāda descreveu três Haridāsas, sendo Yudhiṣṭhira Mahārāja um deles. Haridāsa é aquele que se rendeu completamente aos pés de lótus de Kṛṣṇa. Até mesmo Nārada Ṛṣi glorificou Yudhiṣṭhira Mahārāja:
yūyaṁ nṛ-loke bata bhūri-bhāgā
lokaṁ punānā munayo ’bhiyanti
yeṣāṁ gṛhān āvasatīti sākṣād
gūḍhaṁ paraṁ brahma manuṣya-liṅgam
Śrīmad-Bhāgavatam (7.10.48)
[“Nārada Muni continuou: ‘Meu querido Mahārāja Yudhiṣṭhira, todos vocês (os Pāṇḍavas) são extremamente afortunados, pois a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, vive em seu palácio como um ser humano. Grandes pessoas santas sabem disso muito bem e, portanto, visitam constantemente esta casa.’”]
Nārada Ṛṣi disse: “Ó Yudhiṣṭhira Mahārāja, como você é afortunado! Por meio da meditação (dhyāna), os jñānīs, que almejam o conhecimento, aceitam a refulgência do Senhor, o Brahman. Por meio do yoga-darśana, os yogīs acreditam que Kṛṣṇa é Paramātmā, a Superalma. Já os devotos compreendem que Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus, o possuidor das seis opulências. Esse mesmo Parabrahma Bhagavān, Kṛṣṇa — que é Brahman, Paramātmā e Bhagavān — está pessoalmente presente em sua casa e mantém sambandha-jñāna (conhecimento da relação eterna) com sua família.” Kṛṣṇa e os Pāṇḍavas mantêm muitos tipos de relacionamentos familiares — laukika-sad-bandhuvat-prīti. Todos os membros da família — Yudhiṣṭhira, Bhīma, Arjuna, Nakula, Sahadeva, Kuntī e Draupadī — possuem intenso amor e devoção por Ele. Por esse motivo, Nārada Ṛṣi mencionou o verso: “yūyaṁ nṛ-loke bata bhūri-bhāgā…”
Como Parabrahma Bhagavān, na forma humana de Kṛṣṇa, estava presente na casa dos Pāṇḍavas, todos os semideuses e semideusas — liderados por Brahmā e Śiva — costumavam visitá-los diariamente, pegando a poeira dos pés do Senhor que se encontrava na porta da casa deles. Kṛṣṇa é um membro da família dos Pāṇḍavas e, por isso, sempre solucionava quaisquer problemas que surgissem. Nossas escrituras também explicam quem é considerado um verdadeiro amigo.
utsave vyasane prāpte durbhikṣe śatru-saṅkaṭe
rāja-dvāre śmaśāne cha yas tiṣṭhati sa bāndhavaḥ
Chāṇakhya Niti (12)
[“Um verdadeiro amigo é aquele que está sempre comigo durante os tempos de celebração e também quando estou em uma situação de grande dificuldade. Quando ocorre alguma escassez de alimentos em minha família, um verdadeiro amigo se apresentará para me ajudar. Quando uma revolução política acontece no país, um verdadeiro amigo estará ao meu lado, e quando meu corpo for cremado, um verdadeiro amigo estará comigo.”]
Se vocês estiverem celebrando algum festival (utsava), o verdadeiro amigo comparecerá espontaneamente, sem necessidade de convite. Às vezes, alguns discípulos me dizem: “Gurudeva, você não me convidou.” — em Kali-yuga, os discípulos costumam falar dessa forma. Mas, na verdade, quem deve fazer o convite: Gurudeva para vocês ou vocês para Gurudeva? O Nīti-śāstra (a escritura que trata da ciência da ética, política e moralidade) explica que o verdadeiro amigo comparecerá em celebrações e ajudará sem necessidade de convite. Se surgirem problemas, como questões políticas, ele resolverá. E, ao final da vida, após sua morte, ele cuidará de tudo o que for necessário para a cerimônia de cremação. Isso é antima bandhuḥ — um amigo para toda a vida.
Nārada Ṛṣi disse: “Ó Yudhiṣṭhira Mahārāja, você possui tanto amor e afeição pelo seu amigo Kṛṣṇa!” Por essa razão, Yudhiṣṭhira Mahārāja é chamado de Haridāsa. Outra personalidade igualmente conhecida como Haridāsa é Uddhava.
śrī-śuka uvāca
vṛṣṇīnāṁ pravaro mantrī
kṛṣṇasya dayitaḥ sakhā
śiṣyo bṛhaspateḥ sākṣād
uddhavo buddhi-sattamaḥ
Śrīmad-Bhāgavatam (10.46.1)
[“Śukadeva Gosvāmī disse: ‘O supremamente inteligente Uddhava era o melhor conselheiro da dinastia Vṛṣṇi, um amigo querido do Senhor Śrī Kṛṣṇa e um discípulo direto de Bṛhaspati.’”]
Uddhava é muito qualificado e proeminente em Mathurā e Dvārakā-purī. Ele é vṛṣṇīnāṁ pravaro mantrī — o conselheiro de Kṛṣṇa. Parabrahma Bhagavān Kṛṣṇa é o criador, mantenedor e destruidor (sṛṣṭi-sthiti-pralaya), mas apesar de sua posição suprema, às vezes Ele recebe conselhos de Uddhava sobre o que deve ou não fazer. Ocasionalmente, compartilho o seguinte exemplo. Certa vez, Yudhiṣṭhira Mahārāja enviou uma carta a Kṛṣṇa dizendo: “Ó Kṛṣṇa, desejo realizar um rājasūya-yajña, um sacrifício de fogo para a celebração do rei. Por favor, venha e nos aconselhe.” Simultaneamente, outra carta chegou dos reis aprisionados por Jarasandha. Ele planejava sacrificar cem reis para se tornar ajaya — invencível, de modo que ninguém pudesse derrotá-lo.
Jarasandha era um devoto do Senhor Śiva. Certa vez, o Senhor Śiva lhe disse: “Se você sacrificar cem reis, se tornará completamente ajaya — invencível. Ninguém será capaz de derrotá-lo.” Com esse objetivo, Jarasandha capturou noventa e nove reis, restando apenas um para completar o sacrifício. Enquanto ele buscava sua última vítima, os noventa e nove reis aprisionados enviaram uma carta a Śrī Kṛṣṇa, suplicando: “Ó Kṛṣṇa, por favor, venha e nos salve!” Então, Kṛṣṇa perguntou a Uddhava: “O que devo fazer agora? Esses reis não são meus parentes, não tenho nenhum relacionamento com eles. Já Yudhiṣṭhira Mahārāja é Meu melhor amigo e também parte da Minha família. Para onde devo ir primeiro?” Imaginem: se o seu melhor amigo estivesse chamando vocês, e ao mesmo tempo uma pessoa desconhecida também pedisse ajuda, para onde vocês iriam?
Kṛṣṇa conversou com Uddhava sobre essa questão, e Uddhava respondeu com gentileza: “Prabhu, adie o sacrifício de fogo — o rājasūya-yajña de Yudhiṣṭhira Mahārāja — e vá primeiro libertar os reis que estão presos por Jarasandha, pois, ao libertá-los e derrotar Jarasandha, todos esses reis passarão a segui-lO. Assim, quando Você chegar ao rājasūya-yajña acompanhado pelos noventa e nove reis, o mérito será compartilhado entre Você e Yudhiṣṭhira Mahārāja. Se for sozinho, a glória será apenas Sua; mas se for junto com tantos outros, o reconhecimento será repartido. Todos irão louvá-lO, e os reis libertos sentirão eterna gratidão por Seu amor e afeição.”
Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus; Ele já sabe o que deve ou não fazer — Ele sabe de tudo! Não há necessidade de pedir conselhos a ninguém. Ele cria e destroi milhões e milhões de universos e é a Suprema Personalidade de Deus, Svayaṁ Bhagavān. No entanto, de acordo com Sua līlā (passatempo) como um ser humano, a mānava-līlā, Kṛṣṇa pergunta a Uddhava o que fazer.
Após ouvir o conselho de Uddhava, Kṛṣṇa respondeu: “Seu conselho é bom. Portanto, primeiro irei à prisão de Jarasandha e libertarei os noventa e nove reis que lá estão.” Por isso é dito: “vṛṣṇīnāṁ pravaro mantrī kṛṣṇasya dayitaḥ sakhā” — Uddhava é um sakhā, um amigo muito íntimo e querido de Kṛṣṇa. "Śiṣyo bṛhaspateḥ sākṣād" — ele é um discípulo direto de Bṛhaspati, que, nos planetas celestiais, é o guru dos semideuses e semideusas. "Uddhavo buddhi-sattamaḥ" — ele é muito calmo, sereno e inteligente, e possui sāttvika-bhāva, o humor no modo da bondade. Observem a diferença entre o Senhor Śiva e Uddhava: o Senhor Śiva é muito agressivo; se houver uma pequena falha, ele ficará irritado.
kṣaṇe ruṣṭāḥ kṣaṇe tuṣṭāḥ
ruṣṭā tuṣṭā kṣaṇe-kṣaṇe
avyavasthita-cittānām
prasādo’pi bhayaṁkaraḥ
Nīti-śāstra
[“A felicidade daqueles que oscilam rapidamente entre a ira e a satisfação é também muito temível.”]
O Senhor Śiva fica satisfeito muito rapidamente e pode se irritar com a mesma velocidade. Por isso os śāstras (escrituras sagradas) dizem: “kṣaṇe ruṣṭaḥ kṣaṇe tuṣṭaḥ ruṣṭaḥ prasādo’pi bhayaṅkaraḥ” — a misericórdia de alguém assim pode ser muito perigosa. Certa vez, o Senhor Śiva concedeu sua misericórdia a Bhasmāsura, também conhecido como Vṛkāsura. No Śrīmad-bhāgavatam, Śukadeva Gosvāmī menciona que Vṛkāsura pediu uma bênção ao Senhor Śiva, que perguntou: “O que você deseja?” Vṛkāsura respondeu: “Dê-me a bênção de que, se a palma da minha mão tocar a cabeça de qualquer pessoa, ela se tornará cinzas.” Sem hesitar, o Senhor Śiva concedeu a bênção. Depois disso, Vṛkāsura começou a perseguir o Senhor Śiva, dizendo: “Para testar minha bênção, primeiro vou matá-lo!”
A misericórdia do Senhor Śiva é um exemplo do que o verso explica: “kṣaṇe ruṣṭaḥ kṣaṇe tuṣṭaḥ ruṣṭaḥ…” Por outro lado, Uddhava fala e toma suas decisões com muita calma, tranquilidade e gentileza. Ele é muito inteligente e possui sāttvika-bhāva, o modo da bondade, estando sempre sereno e sério. Alguém que está sempre rindo e brincando é considerado infantil; não há muito valor nas pessoas infantis, e mesmo que digam algo bom, os outros não as respeitarão. Em vez disso, pensarão: “Talvez ele seja pāgala (louco).” No entanto, Uddhava não é infantil; ele é muito tranquilo e ponderado. Por essa razão, Śukadeva Gosvāmipāda glorificou Uddhava por meio do verso “vṛṣṇīnāṁ pravaro mantrī…”, e é por isso que Kṛṣṇa o enviou a Vraja.
gacchoddhava vrajaṁ saumya
pitror nau prītim āvaha
gopīnāṁ mad-viyogādhiṁ
mat-sandeśair vimocaya
Śrīmad-Bhāgavatam (10.46.3)
[“(O Senhor Kṛṣṇa disse:) ‘Querido e gentil Uddhava, vá a Vraja e dê prazer aos Nossos pais. E também acalme as gopīs, que estão sofrendo as dores da saudade de Mim, transmitindo-lhes a Minha mensagem.’”]
Kṛṣṇa enviou Uddhava a Vraja porque os Vrajavāsīs sentiam intensamente a saudade de Kṛṣṇa. O viraha-agni, o fogo da separação que as vraja-gopīs sentem, estava aumentando muito. Quem pode pacificá-las quando esse sentimento se torna tão intenso? Quando ocorre um pequeno incêndio, é possível conter o fogo com água. Mas se o fogo estiver muito grande, jogar água pode apenas fazê-lo crescer. De maneira semelhante, quando as chamas do fogo da separação dos Vrajavāsīs por Kṛṣṇa aumentam, especialmente as das vraja-gopīs, Uddhava não consegue acalmá-las. Vocês não podem imaginar quão altas as chamas se tornam!
Kṛṣṇa sabe que Uddhava não poderia oferecer solução para nenhum de seus problemas, nem acalmá-las. Isso é um fato. Assim, talvez surja uma dúvida: por que Kṛṣṇa enviou Uddhava para Vraja? Na verdade, Uddhava é uma pessoa muito proeminente em Dvārakā e em Mathurā-purī. Quando alguém tão proeminente fala, todos ouvem e aceitam. Além disso, Kṛṣṇa queria que Uddhava testemunhasse as glórias das vraja-gopīs, e especialmente o prema de Śrīmatī Rādhikā — essa é a razão principal.
Eu expliquei a razão pela qual Uddhava é chamado de Haridāsa e também mencionei que o Haridāsa mais elevado é Girirāja Govardhana, porque ele serve a Kṛṣṇa com seu corpo, mente e fala; ninguém pode se comparar a ele. Não pensem que Girirāja Govardhana seja apenas uma montanha ou pedra qualquer. Ele tem imenso amor e afeição por Kṛṣṇa. Nossos Gosvāmīs, especialmente Śrīla Viśvanātha Cakravartīpāda, Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī e Śrīla Rūpa Gosvāmī, glorificaram Girirāja Govardhana em seus granthas (livros sagrados).
Girirāja Govardhana e as līlās do Casal Divino
pramada-madana-līlāḥ kandare kandare te
rachayati nava-yūnor dvandvam asminn amandam
iti kila kalanārthaṁ lagnakas tad-dvayor me
nija-nikaṭa-nivāsaṁ dehi govardhana tvam
Śrī Govardhana-vāsa-prārthanā-daśakam (2)
de Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī
[“Ó Govardhana, o jovem Casal Divino realiza passatempos amorosos e encantadores em cada uma de suas cavernas. Assim, já que você facilita o testemunho de Suas līlās, por favor, conceda-me residência ao seu lado.”]
Śrī Govardhana é muito, muito misericordioso. “Ó Girirāja Govardhana, conceda-me abrigo próximo ao teu colo.” Este lugar em que estamos agora é o colo da Colina Govardhana. Durante a prakaṭa-līlā de Kṛṣṇa — os passatempos em que Ele se manifesta de forma visível para os devotos e para o mundo — Girirāja Govardhana era enorme. Gurudeva dizia: “Girirāja era tão alto que sua sombra se estendia até Mathurā.” Hoje, Girirāja Govardhana não é tão alto porque está lentamente afundando na terra.

O verso “hantāyam adrir abalā hari-dāsa-varyo…”, mencionado anteriormente, explica que, durante a prakaṭa-līlā de Kṛṣṇa, Ele ia para o colo de Girirāja Govardhana para pastorear Suas vacas. Especialmente no verão, quando Vraja é muito quente, Kṛṣṇa, Seus amigos e as vacas descansavam à sombra de Girirāja Govardhana. No verão, Girirāja provia águas frescas e, no inverno, oferecia água morna — não havia necessidade de aquecedor de água. Além disso, Girirāja Govardhana também produzia muitos tipos de flores e frutos.
Já o verso “pramada-madana-līlāḥ kandare…” declara que Girirāja Govardhana cria uma variedade de cavernas onde Rādhā-Kṛṣṇa e as gopīs realizam Seus doces passatempos amorosos. É dessa maneira que Śrī Girirāja Govardhana testemunha as līlās do Casal Divino. Hoje mais cedo, visitamos o Mānasī-gaṅgā. Girirāja Govardhana diz: “Eu sei como Rādhā-Kṛṣṇa e as gopīs realizam Seus doces passatempos amorosos, bem como Seus passatempos esportivos de barco (jala-vihāra e nauka-vihāra), nas águas do Mānasī-gaṅgā.” Śrīla Viśvanātha Cakravartīpāda também glorificou como esses passatempos tão agradáveis e doces ocorreram ali.
yatraiva kṛṣṇo vṛṣabhānu-putryā
dānaṁ gṛhītuṁ kalahaṁ vitene
śruteḥ spṛhā yatra mahaty ataḥ śrī
govardhano me diśatām abhīṣṭam
Śrī Govardhanāṣṭakam (3)
de Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura
[“Kṛṣṇa provocou uma pequena disputa com a filha de Vṛṣabhānu para cobrar o imposto. Meu grande desejo é ouvir essa doce disputa. Que Śrī Govardhana realize meu desejo.”]
Os Śrutis, Vedas, Purāṇas e Upaniṣads estão muito ávidos para ouvir as narrativas dos passatempos amorosos de Rādhā e Kṛṣṇa, mas nós não desejamos ouvi-las. Śrī Girirāja Govardhana também manifesta uma variedade de fragrâncias doces. Um exemplo é a sugandha-śilā, uma pedra localizada em seu colo que, ao receber água ou ser friccionada com a mão, deixa a pele avermelhada — em um tom semelhante ao kumkum (pó vermelho) — e exala uma doce fragrância. Isso significa que Govardhana serve a Kṛṣṇa em um humor conjugal, mādhurya-bhāva. Por isso, nossos ācāryas Vaiṣṇavas, rasika-ācāryas (conhecedores das doçuras transcendentais extáticas) glorificam Śrī Girirāja Govardhana como o devoto mais elevado do Senhor. Com a Sua própria boca, Śrīmatī Rādhikā também glorificou Girirāja Govardhana. E hoje, nós somos muito afortunados por nos sentar em seu colo.
Os passatempos do dia de Dīpāvalī
Hoje também é Dīpāvalī. Há muitos passatempos lindos e agradáveis relacionados a esse dia. Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī glorifica Dīpāvalī. Neste dia, oferecemos lamparinas de ghee a Girirāja Govardhana.
nija-pati-bhuja-daṇḍac-chatra-bhāvaḿ prapadya
pratihata-mada-dhṛṣṭoddaṇḍa-devendra-garva
atula-pṛthula-śaila-śreṇi-bhūpa priyaḿ me
nija-nikaṭa-nivāsaḿ dehi govardhana tvam
Śrī Govardhana-vāsa-prārthanā-daśakam (1)
de Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī
[“Você se tornou como um guarda-chuva na mão do seu Senhor, aniquilando assim o orgulho de Devarāja Indra, que havia se tornado imprudente, e estava inebriado por sua própria majestade. Você é incomparável e o grande rei das montanhas. Ó Govardhana, por favor, conceda-me residência ao seu lado.”]
pramada-madana-līlāḥ kandare kandare te
racayati nava-yūnor dvandvam asminn amandam
iti kila kalanārthaḿ lagnakas tad-dvayor me
nija-nikaṭa-nivāsaḿ dehi govardhana tvam
Śrī Govardhana-vāsa-prārthanā-daśakam (2)
de Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī
[“Ó Govardhana, o jovem Casal Divino realiza passatempos amorosos e encantadores em cada uma de suas cavernas. Assim, já que você facilita o testemunho de Suas līlās, por favor, conceda-me residência ao seu lado.”]
anupama-maṇi-vedī-ratna-siḿhāsanorvī-
ruha-jhara-dara-sānu-droṇi-sańgheṣu rańgaiḥ
saha bala-sakhibhiḥ sańkhelayan sva-priyaḿ me
nija-nikaṭa-nivāsaḿ dehi govardhana tvam
Śrī Govardhana-vāsa-prārthanā-daśakam (3)
de Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī
[“Em suas incomparáveis plataformas cravejadas de gemas e tronos de joias, em seus amplos espaços abertos, na sombra de suas árvores, junto a suas cachoeiras e riachos, em seus cumes e em seus vales, seu querido Śrī Kṛṣṇa, acompanhado por Balarāma e todos os sakhās, desfruta de passatempos lúdicos. Ó Govardhana, por favor, conceda-me residência ao seu lado.”]
Em seu grantha, nosso Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī descreveu muito bem os lindos passatempos de Dīpāvalī — a oferenda de lamparinas de ghee a Girirāja Govardhana. Especialmente em Vraja, o Dīpāvalī-utsava é a comemoração mais elevada e é uma tradição. Hoje, os Vrajavāsīs decoram suas casas com lamparinas de ghee.

Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī compôs alguns versos em seu texto sagrado Mukta-carita, nos quais descreve diversos passatempos doces e encantadores. Durante o parikramā (peregrinação) em Nandagaon, há um kuṇḍa (lago) chamado Mukta-kuṇḍa, manifestado por Vrajanābha. No Mukta-carita, esse passatempo relacionado ao Mukta-kuṇḍa, assim como muitos outros, é narrado em detalhe.
Em algumas culturas, antes do casamento, as famílias dos noivos costumam trocar presentes entre si — isso é conhecido como dote. Da mesma forma, pouco antes da cerimônia de casamento entre Rādhā e Kṛṣṇa, Vṛṣabhānu Mahārāja enviou uma carroça repleta de pérolas (mukta, em sânscrito) como dote para a família do noivo. Ao verem o presente, Mãe Yaśodā e Nanda Mahārāja ficaram desapontados, pois, ao receberem uma carroça cheia de pérolas, sentiam que, em retribuição, deveriam oferecer um dote ainda mais valioso.
Kṛṣṇa percebeu que Seus pais, especialmente Mãe Yaśodā, estavam preocupados, sem saber como retribuir o dote. Então Ele disse: “Mãe, não se preocupe. Eu vou resolver tudo.” “Como assim?”, ela perguntou. Kṛṣṇa respondeu: “Eu mesmo vou providenciar muitas pérolas e assim você poderá enviar o dote de volta a Vṛṣabhānu Mahārāja.” Surpresa, Mãe Yaśodā perguntou: “E como Você vai conseguir isso?” Ao que Kṛṣṇa respondeu: “Eu sei cultivar pérolas!” Então Kṛṣṇa pegou algumas pérolas e as plantou em um campo, regando-as com leite e iogurte antes de cobri-las com terra. Três ou quatro dias depois, começaram a brotar trepadeiras carregadas de pérolas reluzentes. Assim, Nanda Mahārāja e Mãe Yaśodā puderam retribuir o dote enviado por Vṛṣabhānu Mahārāja.
Há outro passatempo relacionado a isso. Em Vṛndāvana, durante o Dīpāvalī-utsava, os Vrajavāsīs — especialmente as vraja-gopīs — decoram suas roupas com diversos tipos de pérolas, algo realmente encantador. Certo dia, as gopīs se aproximaram de Kṛṣṇa e começaram a provocá-lO, sem dizer nada diretamente, apenas insinuando com seus olhares: “Veja como estamos vestidas!” Kṛṣṇa pensou no que poderia fazer, já que não tinha pérolas. Então Ele pediu às vraja-gopīs, especialmente a Rādhā, Lalitā e Viśākhā: “Podem me dar algumas pérolas?” Normalmente, as pérolas são usadas para adornar o corpo e as roupas das mulheres — os rapazes não precisam delas. Por isso, as gopīs perguntaram a Kṛṣṇa e aos sakhās: “O que pretendem fazer com elas?” Kṛṣṇa respondeu: “Vamos usá-las para enfeitar os chifres das nossas vacas!”
As gopīs riram e brincaram: “Como Você é tolo! Com essas pérolas, deveria adornar Seu corpo e Suas roupas!” Mas Kṛṣṇa insistiu: “Não, Eu vou usar essas pérolas para enfeitar Minhas vacas e seus chifres.” As gopīs continuaram brincando e não deram nada a Ele, o que deixou Kṛṣṇa bastante desapontado. Então, Ele pediu a Mãe Yaśodā: “Me dê algumas pérolas.” Mas Mãe Yaśodā não possuía muitas, apenas algumas, que entregou a Ele. Kṛṣṇa cultivou essas pérolas no campo, colocando-as em leite e iogurte, e cobrindo-as com terra. De longe, as gopīs observaram e começaram a rir e brincar: “Olhem como Kṛṣṇa e Seus amigos são tolos! Veja só como Ele desperdiça aquelas pérolas!” Nesse momento, Kṛṣṇa permaneceu quieto e não disse nada a elas.
Depois de alguns dias, as pérolas germinaram e grandes trepadeiras começaram a crescer, até que o campo ficou completamente cheio de pérolas — e eram de altíssima qualidade! Em comparação, as pérolas das gopīs tinham qualidade muito inferior, enquanto as de Kṛṣṇa eram grandes, radiantes e atraentes. Então, Kṛṣṇa pegou Suas pérolas e decorou Suas vacas e seus chifres.
Subsequentemente, as gopīs pediram a Kṛṣṇa: “Oh, Kṛṣṇa, nos dê algumas pérolas.” Mas Kṛṣṇa recusou: “Vocês não Me deram nenhuma. Como eu poderia dar-lhes agora?” Rādhā, Lalitā e Viśākhā então decidiram: “Já que somos iguais, homens e mulheres, se Você pode cultivar pérolas, por que nós não poderíamos?” Assim, todas as gopīs trouxeram pérolas de suas casas e as cultivaram também.
As gopīs também eram muito habilidosas no cultivo. Elas enterraram as pérolas e regaram com leite e iogurte, pensando: “Vamos mostrar a Kṛṣṇa que também podemos fazer isso. Temos direitos iguais!” No entanto, Kṛṣṇa é muito astuto. Tarde da noite, Ele pegou todas as pérolas que elas haviam plantado, não sobrando nenhuma! Em Vraja, quando se rega uma terra onde nada foi plantado, apenas trepadeiras espinhosas nascerão. As gopīs continuaram regando a terra diariamente e, depois de alguns dias, espinhos e trepadeiras começaram a crescer ali. Quando finalmente perceberam que não havia nenhuma pérola enterrada, as gopīs se deram conta de que enfrentavam um grande problema! Seus sogros e superiores certamente perguntariam: “Onde estão as pérolas?” Elas tinham uma situação difícil em mãos! Assim, todas as gopīs se renderam a Kṛṣṇa: “Ei, Kṛṣṇa, nos dê algumas pérolas.” Mas Ele ainda respondeu: “Não, não! Chalo!”
Depois que as gopīs insistiram pedindo pérolas, Kṛṣṇa finalmente cedeu: “Tudo bem, Eu lhes darei algumas pérolas — mas terão de Me pagar. Elas não são de graça!” Assim, Kṛṣṇa e as gopīs brincaram entre si, negociando de modo doce e travesso como elas pagariam pelas pérolas — com sua juventude e diferentes encantos. Em seu Mukta-carita, Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī glorificou lindamente essa līlā, que ocorreu justamente no dia de Dīpāvalī. Hoje, nas casas dos Vrajavāsīs, tudo é iluminado com lamparinas de ghee em comemoração a este dia auspicioso. Bolo Dīpāvalī kī jaya!
Girirāja Govardhana manifestou-se da mente de Śrīmatī Rādhikā. Há um śloka que claramente afirma: "mānasa prakṛti jaya". Prakṛti significa Śrīmatī Rādhikā, e jaya significa "manifestar-se". Isso indica que Girirāja Govardhana surgiu da mente de Kṛṣṇa e, em outras kalpas (eras), manifestou-se do coração de Śrīmatī Rādhikā.
Agora, todos devem preparar as lamparinas de ghee, pois em breve iremos oferecê-las. Amanhã é o Annakūṭa mahā-mahotsava, e todos devem preparar diversos tipos de oferendas para Girirāja Govardhana.

Bolo Dīpāvalī mahotsava kī jaya!
Jaya Girirāja jaya Govardhana!
Tradução: Indu-mohinī devī dāsī (AL)
Edição: Acyuta-priya devī dāsī (SP)
Revisão: Taruṇī-gopī dāsī (SP)
Diacríticos: Gaura-gopāla dāsa (SP)
Imagem da capa: Nṛsiṁhānanda dāsa (Rússia)


