As glórias do Rādhā-kuṇḍa
- Vana Madhuryam Brasil
- 13 de out.
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Atualizado: 15 de out.

Śrīla Bhaktivedānta Vana Gosvāmī Mahārāja
26 de março de 2022, Índia
Pela misericórdia imotivada de Guru e Gaurāṅga, chegamos às margens do Rādhā-kuṇḍa. Śrīmatī Rādhikā é nossa iṣṭa-devī, nossa deidade adorável. Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī, em seu livro sem precedentes, Manaḥ-śikṣā, explica:
madīśā-nāthatve vraja-vipina-candraṁ vraja-vane-
śvarīṁ tāṁ-nāthatve tad-atula-sakhītve tu lalitām
viśākhāṁ śikṣālī-vitaraṇa-gurutve priya-saro-
girīndrau tat-prekṣā-lalita-rati-datve smara manaḥ
Śrī Manaḥ-śikṣā (9)
de Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī
["Ó mente, sempre recorde Vṛndāvana-candra Śrī Kṛṣṇa, como o Senhor da vida de minha svāminī Śrī Rādhikā. Sempre recorde Vṛndāvaneśvarī Śrīmatī Rādhikā como minha mestra, Śrī Lalitā como Sua amiga incomparável, Śrī Viśākhā como a guru instrutora, e Śrī Rādhā-kuṇḍa e Girirāja-Govardhana como aqueles que concedem o darśana de Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa e outorgam sublime apego (rati) por Eles."]
O termo mad-īśā significa “minha Senhora” e refere-se a Śrīmatī Rādhikā. Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī realizou seu bhajana e sādhana exclusivamente nas margens do Rādhā-kuṇḍa, porque este local, bem como suas glórias, não são diferentes de Rādhārāṇī. O próprio Senhor Caitanya Mahāprabhu disse:
kuṇḍera ‘mādhurī’ — yena rādhāra ‘madhurimā’
kuṇḍera ‘mahimā’ — yena rādhāra ‘mahimā’
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 18.11)
["A atração do Rādhā-kuṇḍa é tão doce quanto a de Śrīmatī Rādhārāṇī. Da mesma forma, as glórias do kuṇḍa são tão grandiosas quanto as dEla."]
Como o Rādhā-kuṇḍa foi manifestado
Há muitas līlās (passatempos) que ocorrem na manifestação do Rādhā-kuṇḍa. Esse local também é conhecido como Āriṭ-grāma — o lugar onde Kṛṣṇa matou o demônio Ariṣṭāsura.
ei-mata mahāprabhu nācite nācite
‘āriṭ’-grāme āsi’ ‘bāhya’ haila ācambite
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 18.3)
[“Śrī Caitanya Mahāprabhu dançava em êxtase, mas quando chegou a Āriṭ-grāma, Sua percepção sensorial foi despertada.”]
Śrī Caitanya Mahāprabhu chegou a este lugar e dançou em êxtase. Naquela época, ninguém sabia onde estava o Rādhā-kuṇḍa e o Kṛṣṇa-kuṇḍa. Então, o Senhor perguntou a um aldeão bastante idoso sobre a localização desses kuṇḍas, ao que ele respondeu: "Nós não sabemos onde eles estão, mas há um campo de arroz ali, no qual se encontram dois pequenos lagos." Um desses lagos chama-se Kali-kṣetra, e o outro, Gaurī-kṣetra. Caitanya Mahāprabhu banhou-Se no Gaurī-kṣetra e declarou: "Este é o Rādhā-kuṇḍa!" Em seguida, banhou-Se no Kali-kṣetra e disse: "Este é o Śyāma-kuṇḍa!" Foi assim que o Senhor Caitanya Mahāprabhu manifestou o Rādhā-kuṇḍa e o Śyāma-kuṇḍa.
Nossos Vedas, Purāṇas e Upaniṣads descrevem a manifestação do Rādhā-kuṇḍa e do Śyāma-kuṇḍa. Embora esses lagos sagrados sejam eternos e completamente transcendentais — nitya-aprākṛta —, eles também se manifestaram dentro das līlās de Kṛṣṇa, quando o Senhor adveio a este mundo durante a Dvāpara-yuga. Certa vez, enquanto Kṛṣṇa realizava doces līlās com as gopīs, um demônio chamado Ariṣṭāsura apareceu em Vraja. Ele havia assumido a forma de um touro imenso e começou a perturbar os Vrajavāsīs. Então, os habitantes de Vraja clamaram: “Kṛṣṇa! Kṛṣṇa! Kṛṣṇa Mahābāho — ó Kṛṣṇa de braços poderosos! Onde estás? O demônio Ariṣṭāsura está nos afligindo!” Ouvindo seus chamados, Kṛṣṇa imediatamente deixou a companhia das gopīs e, indo até o local, derrotou o demônio Ariṣṭāsura.
Quando Kṛṣṇa retornou à presença das gopīs, elas começaram a rir e a brincar com Ele, dizendo: “Ó Kṛṣṇa! Você matou uma vaca! Agora, Seu corpo está contaminado por esse pecado.” Ele respondeu: “Eu não matei uma vaca — matei um demônio que apenas assumiu a forma de um touro!” Mesmo assim, as gopīs retrucaram: “De qualquer maneira, Você matou uma vaca e Seu corpo está completamente contaminado por esse ato. Por isso, não queremos mais nos encontrar com Você.” Com muita humildade, Kṛṣṇa perguntou: "Como posso purificar Meu coração e Me livrar da atividade pecaminosa de matar uma vaca?" E as gopīs responderam: "Você deve banhar-Se em todos os rios sagrados. Somente assim será purificado desse ato."
Então, somente com Seu tornozelo, Kṛṣṇa fez um belíssimo kuṇḍa. Para enchê-lo com água, Ele simplesmente Se lembrou de todos os rios e lagos sagrados, que imediatamente se manifestaram diante dEle. Todos revelaram suas identidades: "Eu sou Narmadā”, “Eu sou Kāverī”, “Eu sou Sindhu", e encheram o kuṇḍa com suas próprias águas sagradas. Por fim, Kṛṣṇa banhou-Se naquele kuṇḍa, que passou a ser chamado de Kṛṣṇa-kuṇḍa ou Śyāma-kuṇḍa.
Em seguida, Kṛṣṇa disse às gopīs: "Vocês podem se banhar em Meu kuṇḍa!”, mas elas, especialmente Śrīmatī Rādhikā, retrucaram: "Não... Nós mesmas construiremos o nosso!" Assim, com Suas pulseiras, Śrīmatī Rādhikā fez um belíssimo e redondo kuṇḍa. Diante disso, Kṛṣṇa ofereceu: "Vocês podem pegar água do Meu lago", mas elas não aceitaram e disseram: "Precisamos encher este lago com a água do Mānasī-gaṅgā." Então, com potes de barro em mãos, elas começaram a fazê-lo. Logo, todos os rios e lagos sagrados também manifestaram suas belas formas diante de Śrīmatī Rādhikā e se renderam completamente aos Seus pés de lótus, dizendo: "Ó Śrīmatī Rādhike, por favor, nos dê o serviço de encher o Seu kuṇḍa com nossas águas!" Eles recitaram os seguintes versos:
munīndra-vṛnda-vandite triloka-śoka-hāriṇi
prasanna-vaktra-pańkaje nikuñja-bhū-vilāsini
vrajendra-bhānu-nandini vrajendra-sūnu-sańgate
kadā kariṣyasīha māḿ kṛpā-katākṣa-bhājanam
Śrī Rādhā-kṛpā-kaṭākṣa-stava-rāja (1)
["Ó Śrīmatī Rādhikā, que és glorificada pelos grandes sábios! Ó Tu que dissipas a lamentação dos três mundos, cujo rosto de lótus floresce com um sorriso jovial, e que Te divertes nos kuñjas (bosques). Ó amada filha do Rei Vṛṣabhānu! Ó a mais próxima e querida do filho do rei de Vraja, quando me farás o objeto de Teu misericordioso olhar de soslaio?"]
madonmadāti-yauvane pramoda-māna-maṇḍite
priyānurāga-rañjite kalā-vilāsa-paṇḍite
ananya-dhanya-kuñja-rājya-kāma-keli-kovide
kadā kariṣyasīha māḿ kṛpā-katākṣa-bhājanam
Śrī Rādhā-kṛpā-kaṭākṣa-stava-rāja (5)
["Ó Tu, que estás inebriada por Tua juventude, que és adornada com o encantador ornamento da raiva amorosa, que Te deleitas no apego do Teu amado por Ti, e que és supremamente hábil na arte dos assuntos amorosos. Ó Tu, que és a mais erudita no conhecimento das brincadeiras amorosas dentro dos Teus confidenciais e auspiciosos bosques, quando me farás o destinatário de Teu misericordioso olhar de soslaio?"]
ananta-koṭi-viṣṇu-loka-namra-padmajārcite
himādrijā-pulomajā-viriñcijā-vara-prade
apāra-siddhi-ṛddhi-digdha-sat-padāńgulī-nakhe
kadā kariṣyasīha māḿ kṛpā-katākṣa-bhājanam
Śrī Rādhā-kṛpā-kaṭākṣa-stava-rāja (11)
["Ó Tu, que és adorada por Lakṣmī-devī — senhora dos ilimitados planetas de Vaikuṇṭha — e que concedes bênçãos a Śrī Pārvatī, Indrāṇī e Sarasvatī, até mesmo uma das unhas de Teus pés de lótus dá origem a uma infinita variedade de perfeições espirituais. Oh, quando me farás o destinatário de Teu misericordioso olhar de soslaio?"]
Foi assim que os rios sagrados se manifestaram diante de Śrīmatī Rādhikā e ofereceram reverências aos Seus pés de lótus, deixando-A muito satisfeita. Em seguida, eles identificaram-se um a um e preencheram o Rādhā-kuṇḍa com suas águas. Por fim, todas as sakhīs se banharam ali. Contudo, Kṛṣṇa é muito astuto. Com Sua flauta, Ele fez uma pequena passagem entre o Rādhā-kuṇḍa e o Śyāma-kuṇḍa, chamada saṅgam-sthala. Saṅgam significa “união” ou “junção”, e esse é o ponto de encontro entre os dois lagos. Assim, as águas do kuṇḍa de Kṛṣṇa uniram-se às do kuṇḍa de Rādhā, misturando-se mutuamente. Portanto, o Rādhā-kuṇḍa e o Śyāma-kuṇḍa manifestaram-se como um só, assim como a forma combinada de Rādhā e Kṛṣṇa — Śacīnandana Gaurahari.
O bhajana de Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī
No Rādhā-kuṇḍa encontram-se o bhajana-sthalī e o samādhi-mandira de nosso Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī. Enquanto outros Gosvāmīs praticaram bhajana e sādhana em diferentes lugares de Vṛndāvana, Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī realizou suas práticas espirituais exclusivamente às margens deste local. Isso é rādhā eka niṣṭhā, devoção exclusiva a Rādhā. Ele deu o exemplo de que, quem deseja se tornar uma mañjarī, deve estar totalmente focado em Śrīmatī Rādhikā.
rādhikā-dāsī jadi haya abhimāna
śīghra-i mila-i taba gokula-kāna
Canção Rādhā-bhajane Ĵadi (5)
de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
[“Se alguém se considera uma humilde serva de Śrīmatī Rādhikā, muito rapidamente encontra Kāna de Gokula.”]
Se vocês desejam tornar-se servas de Śrīmatī Rādhikā, alcançarão Kṛṣṇa de forma automática. Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī escreveu um verso sobre como alcançar o prema mais elevado — rādhā-dāsyam (o serviço a Rādhā). Gurudeva explicou que esse é o único objetivo dos Gauḍīya Vaiṣṇavas. Para isso, devemos seguir apenas três princípios:
anārādhya rādhā-padāmbhoja-renum
anāśritya vṛndāṭavīṁ tat-padāṅkām |
asambhāṣya tad-bhāva-gambhīra-cittān
kutaḥ śyāma-sindhau rasyasyāvagāhaḥ
Sva-Saṃkalpa-Prakāśa-Stotra (1)
de Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī
[“Sem adorar a poeira dos pés de lótus de Śrī Rādhā, sem se abrigar em Vṛndāvana, que carrega Suas pegadas, e sem saudar respeitosamente as grandes almas cujos corações estão cheios de profundo amor por Ela, como alguém será capaz de mergulhar no oceano de néctar do amor pelo Senhor Kṛṣṇa?”]
Se vocês desejam submergir no oceano do amor divino de Rādhā e Kṛṣṇa, conhecido como śyāma-sindhu (onde śyāma-rasa equivale ao śṛṅgāra-rasa, o humor conjugal), devem seguir três princípios. O primeiro é ser totalmente focado em Śrīmatī Rādhikā.
rādhā mere svāminī, main rādhe ko dāsa,
janama-janama mohe dījio śrī vṛndāvana-vāsa
[“Śrī Rādhā é minha Mestra, e eu sou o servo dEla. Por favor, nascimento após nascimento, conceda-me residência em Śrī Vṛndāvana.”]
O segundo princípio é sempre permanecer em Vraja.
tan-nāma-rūpa-caritādi-sukīrtanānu-
smṛtyoḥ krameṇa rasanā-manasī niyojya
tiṣṭhan vraje tad-anurāgi-janānugāmī
kālaṁ nayed akhilam ity upadeśa-sāram
Śrī Upadeśāmṛta (8)
de Śrīla Rūpa Gosvāmī
[“A essência de todos os conselhos é que uma pessoa deve utilizar todo o seu tempo — vinte e quatro horas por dia — cantando e lembrando-se do nome divino, da forma transcendental, das qualidades e dos passatempos eternos do Senhor, envolvendo gradualmente sua língua e mente. Dessa forma, deve residir em Vraja e servir a Kṛṣṇa sob a orientação dos devotos, e deve seguir os passos dos devotos amados do Senhor, que estão profundamente ligados ao Seu serviço devocional.”]
Vocês devem permanecer em Vraja, especificamente onde Rādhā e Kṛṣṇa realizam Seus doces passatempos — há muitos desses lugares lá. Contudo, em especial, devem permanecer às margens do Rādhā-kuṇḍa, principalmente onde Śrīmatī Rādhikā realiza Seus passatempos amorosos. Esses locais incluem Sevā-kuñja, Nidhuvana, Nikuñjavana, Rādhā-kuṇḍa, Śyāma-kuṇḍa, Kokilavana e Jāvata, conhecidos como rādhā-adhipatya-bhūmi — lugares onde Rādhā é a Suprema. Entre eles, o mais elevado é o Rādhā-kuṇḍa.
vaikuṇṭhāj janito varā madhu-purī tatrāpi rāsotsavād
vṛndāraṇyam udāra-pāṇi-ramaṇāt tatrāpi govardhanaḥ
rādhā-kuṇḍam ihāpi gokula-pateḥ premāmṛtāplāvanāt
kuryād asya virājato giri-taṭe sevāṁ vivekī na kaḥ
Śrī Upadeśāmṛta (9)
de Śrīla Rūpa Gosvāmī
[“A cidade de Mathurā é superior a Vaikuṇṭha, porque o Senhor nasceu lá. Superior a Mathurā é Vṛndāvana, pois o festival da dança da rāsa ocorreu lá. Superior, até mesmo a Vṛndāvana, é Govardhana, porque é o local de vários passatempos lúdicos de Śrī Kṛṣṇa, o levantador da Colina de Govardhana. Dentro de Govardhana, Śrī Rādhā-kuṇḍa reina, pois está transbordando com o néctar do amor divino (prema) por Gokula-pati Śrī Kṛṣṇa. Portanto, que pessoa inteligente não prestaria serviço a esse lago, que está situado ao pé da Colina de Govardhana?”]
Neste verso, Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī explica que o Rādhā-kuṇḍa é o local mais elevado. Se não puderem estar fisicamente presentes neste local sagrado, devem permanecer lá mentalmente. Mas como fazer isso? Mantendo constante lembrança dos ślokas do Vilāpa Kusumāñjali de Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī. Isso é muito importante.
tavaivāsmi tavaivāsmi
na jīvāmi tvayā vinā
iti vijñāya devi tvaṃ
naya māṃ caraṇa antikam
Vilāpa Kusumāñjali (96)
de Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī
[“Eu sou Teu! Eu sou Teu! Eu não posso viver sem Ti! Ó Devī (Rādhe), por favor, entenda isso e me traga diante de Teus pés de lótus.”]
hā devi! kāku-bhara-gadgadayādya vācā
yāce nipatya bhuvi daṇḍavad udbhaṭārtiḥ
asya prasādam abudhasya janasya kṛtvā
gāndharvike! nija-gaṇe gaṇanāṁ vidhehi
Śrī Gāndharvā-samprārthanāṣṭakam (2)
de Śrīla Rūpa Gosvāmī
["Ó Devī Gāndharvikā! Em total angústia, caindo ao chão como uma vara, imploro a Ti com uma voz embargada de desespero e oro aos Teus pés de lótus: por favor, seja misericordiosa com este tolo e me considere como um dos Teus.”]
Ore sempre: “Ó Śrīmatī Rādhikā, apenas escreva meu nome em Sua lista.” Mantenha sempre esse pensamento, pois se seus nomes estiverem na lista de Śrīmatī Rādhikā, um dia Ela certamente os chamará.
O terceiro princípio é estar sempre na companhia de sādhus e gurus fidedignos de alta classe, que sejam vraja-rasika. Mantenham seu foco exclusivamente em Śrīmatī Rādhikā e nos rasika-vaiṣṇavas, ouvindo hari-kathā, pois se desviarem do foco, Śrīmatī Rādhikā não os aceitará. Este é o caminho apontado por Śrīla Raghunātha Gosvāmī.
Existem inúmeras histórias sobre o Rādhā-kuṇḍa. Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī realizava austeridades severas às suas margens! Não havia sombra no local onde praticava bhajana e sādhana — ele permanecia completamente exposto aos raios do sol, que queimavam seu corpo. Mesmo assim, ele continuava a entoar os santos nomes. Certa vez, Śrīmatī Rādhikā apareceu e fez sombra sobre a sua cabeça. Sanātana Gosvāmipāda observou o ocorrido e perguntou: “Raghunātha, você está aqui realizando bhajana e sādhana, portanto, qual é o seu objetivo?” Śrīla Raghunātha dāsa simplesmente respondeu: “Quero servir Śrīmatī Rādhikā.” Então, Sanātana Gosvāmīpāda disse: “Hoje vi que Śrīmatī Rādhikā fez sombra sobre sua cabeça com Seu sārī. Logo, você deve construir uma pequena cabana e permanecer ali.” Seguindo essas instruções, tanto de Sanātana quanto de Rūpa Gosvāmī, Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī passou a morar em uma pequena cabana, dedicando-se inteiramente às suas práticas espirituais. Sua renúncia é tão profunda que não pode ser expressa em palavras.

Raghunāthera vairāgya jana paśāṇe rekha — a renúncia (vairāgya) de Raghunātha Dāsa é como uma linha gravada em pedra. Com muita humildade, ele disse:
vairagya-yug-bhakti-rasah prayatnair
apayayan mam anabhipsum andham
krpa ambudhih yah para-duhkha-duhkhi
sanatanah tam prabhum asrayami
Vilāpa Kusumāñjali (6)
de Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī
[“Eu estava relutante em beber o néctar do bhakti-rasa dotado de renúncia, mas Śrīla Sanātana Gosvāmī, sendo um oceano de misericórdia, que não consegue tolerar o sofrimento dos outros, diligentemente me induziu a bebê-lo. Portanto, eu busco abrigo em Śrīla Sanātana Gosvāmī como meu sikṣā-guru.”]
Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī, com extrema humildade, disse: "Eu não possuo vairāgya nem bhakti-yoga, mas Sanātana Gosvāmīpāda, misericordiosamente e à força, me concedeu vraja-rāgānugā-bhakti." Isso demonstra a humildade dele. Dia e noite, Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī cantava os santos nomes, lembrando-se de Śrīmatī Rādhikā, e chorava incessantemente. Certa vez, Kṛṣṇa surgiu perante ele e disse: "Ó Raghunātha dāsa Gosvāmī, Meu coração se derreteu completamente diante de suas austeridades rigorosas, então posso conceder-lhe uma bênção." Mas ele respondeu: "Ó Bakārī Kṛṣṇa, se Śrīmatī Rādhikā não me conceder Suas bênçãos, não necessito das Suas."
āśābharairamṛtasindhumayaiḥ kathañcit
kālo mayātigamitaḥ kila sāmprataṃ hi
tvañcet kṛpāṃ mayi vidhāsyasi naiva kiṃ me
prāṇairbrajena ca varoru vakāriṇāpi
Vilāpa Kusumāñjali (102)
de Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī
["Para mim, o momento presente está, de alguma forma, inundado por um oceano de néctar de muitas esperanças. Se Você não me conceder Sua misericórdia, então de que adianta para mim esta vida, a terra de Vraja e Śrī Kṛṣṇa, o inimigo de Baka?"]
Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī disse que não necessita da misericórdia de Kṛṣṇa, pois o que ele realmente deseja é a misericórdia de Śrīmatī Rādhikā. Se Ela não concede Sua misericórdia, a misericórdia de Kṛṣṇa não tem valor algum. Rādhā-kṛpā hi kevalam — a misericórdia de Rādhā é suprema. Devemos ser focados exclusivamente nEla.
Bolo Rādhārāṇī kī jaya!
Jaya jaya Śrī Rādhe!
Transcrição: Vṛndāvana-pālikā devī dāsī (SP)
Tradução e edição: Taruṇī-gopī dāsī (SP)
Revisão: Acyuta-priya devī dāsī (SP)
Diacríticos: Gaura-gopāla dāsa (SP)
Colaboração: Taruṇī-gopī dāsī (Austrália)


