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Śrī Vāmana Dvādaśī — O advento do Senhor Vāmanadeva

  • Foto do escritor: Vana Madhuryam Brasil
    Vana Madhuryam Brasil
  • 4 de set.
  • 10 min de leitura

Atualizado: 4 de set.

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Śrīla Bhaktivedānta Vana Gosvāmī Mahārāja

03 de setembro de 2017, Índia


Hoje é um dia muito belo e auspicioso, pois nele celebramos o Mahādvādaśī e o advento de Śrī Vāmanadeva. Assim que Kṛṣṇa adveio, Ele falou sobre Vāmanadeva para Devakī e Vāsudeva, pois na Satya-yuga, eles estavam em outra encarnação e tinham nomes diferentes. Devakī e Vāsudeva haviam realizado penitências por milhares de anos para ter Bhagavān Viṣṇu como seu filho. Assim, devido às suas austeridades, o Senhor Viṣṇu Se manifestou diante deles. Eles, então, Lhe pediram: "Por favor, dê-nos um filho como Você." Ao que Viṣṇu respondeu: "Não é possível ter um filho como Eu, pois não há ninguém igual a Mim. No entanto, porque vocês fizeram austeridades tão severas, estou muito feliz e satisfeito. Não posso lhes dar alguém como Eu, mas Eu mesmo poderei ser seu filho nas três eras que se seguirão. Vou lembrá-los de que sou o mesmo Viṣṇu para quem vocês fizeram grandes austeridades." Depois de dizer isso, o Senhor Viṣṇu desapareceu. 


Em Satya-yuga, o próprio Senhor adveio como Pṛśnigarbha, o filho de Pṛśni e Sutapā. Depois, Ele adveio como Vāmanadeva, o filho de Kaśyapa e Aditi. E por fim, Ele adveio sob a forma de Kṛṣṇa, o filho de Devakī e Vāsudeva. Do ventre de Devakī, o Senhor Se manifestou como o Senhor Nārāyaṇa, com śaṅkha, cakra etc., e lhes disse: “Conforme prometi, primeiro nasci como Pṛśnigarbha, depois como Vāmana, e agora, nesta terceira vez, enquanto vocês são Devakī e Vāsudeva, nasci como seu filho, e o mundo inteiro Me chamará de Vāsudeva Kṛṣṇa. Por favor, tenham o Meu darśana (visão auspiciosa) em Minha forma de Nārāyaṇa.” Desse modo, o Senhor Viṣṇu Se manifestou diante deles enquanto eles estavam presos por Kaṁsa.


Agora, falarei brevemente sobre os passatempos do Senhor Vāmanadeva. Desde tempos imemoriais, os demônios e os semideuses têm lutado entre si. Na Śrīmad Bhāgavad-gītā, Bhagavān diz a Arjuna:


dvau bhūta-sargau loke 'smin

daiva āsura eva ca 

daivo vistaraśaḥ prokta 

āsuraṁ pārtha me śṛṇu


Bhāgavad-gītā (16.6)


[Ó filho de Pṛthā, neste mundo há dois tipos de seres criados: um é chamado divino e o outro, demoníaco. Eu já expliquei bastante a você sobre as qualidades divinas; agora ouça de Mim sobre as demoníacas.]


Existem dois tipos de pessoas neste mundo, cada uma com a sua própria natureza. Uma tem uma natureza demoníaca e a outra, uma natureza divina — como os semideuses. Aqueles de boa índole são considerados sāttvika, isto é, são influenciados pelo modo da bondade; já os de natureza rajasika, sob a influência do modo da paixão, ou tamasika, sob a influência do modo da ignorância, são vistos como demoníacos.


Conclui-se que aqueles que são devotos do Senhor Viṣṇu possuem a qualidade sattva-guṇa, enquanto os que se opõem ao Senhor manifestam qualidades tamasika ou rajasika. Os seres celestiais, devatās, possuem uma natureza sāttvika e realizam boas ações e práticas piedosas. Em contraste, a mentalidade demoníaca, āsura-bhāva, se manifesta naqueles que se entregam ao kāma, desejo, e ao krodha, raiva, causando dor, torturando ou roubando os outros — ações típicas das qualidades tamasika


A natureza de uma pessoa define como ela come, como se comporta e como geralmente age. Aqueles que são sāttvika seguem um modo de vida restritivo. Por outro lado, pessoas de natureza tamasika e rajasika consomem carne, álcool, alho e cebola. Todos esses itens são tamasika, logo, nos tornam tamasika se os consumirmos. É por isso que não devemos comer alho, cebola, carne ou consumir álcool. Os demônios normalmente consomem álcool, e neste mundo, nós vemos muitas pessoas fazendo o mesmo. Todos esses atos são tamasika e demoníacos, pois servem apenas para aumentar a luxúria e a raiva; e quanto mais esses estados mentais se manifestam, maior é a destruição que provocam.


Quando uma determinada pessoa está bêbada, por exemplo, ao chegar em casa, ela briga com sua família, podendo até vir a agredir sua própria esposa ou filhos. Por isso, na Bhāgavad-gītā, o Senhor diz: "Você deve ter qualidades sattva-guṇa." Se não tivermos bons hábitos, e se não mantivermos uma boa natureza, nós não poderemos adorar o Senhor adequadamente. Não poderemos realizar arcana, a adoração à Ṭhākurajī, se estivermos bêbados ou consumindo carne. Uma pessoa bêbada não conseguiria executar corretamente o serviço à deidade e acabaria caindo inconsciente devido à intoxicação. É por isso que nossos śāstras nos instruem a manter um humor sāttvika. Nós devemos tentar nos livrar de nossos humores tamasika e rajasika.


Śukrācarya é o guru dos demônios, e Bṛhaspati é o guru dos semideuses. Observe como nós obtemos um guru que está de acordo com a nossa própria natureza. Quem possui deva-bhāva, uma mentalidade virtuosa, obterá um guru genuíno; por outro lado, quem possui uma natureza demoníaca não obterá um mestre autêntico.  


Se em dados momentos demonstrarmos menos niṣṭhā (fé firme) no guru, os demônios podem acabar nos atacando. Inclusive, nunca devemos ofender o nosso guru, de forma alguma. Quando Indra ou outros semideuses, por exemplo, não estão seguindo seu guru corretamente, os demônios eventualmente se tornam mais poderosos. Desse modo, os semideuses são atacados mais facilmente — o que resulta, geralmente, em sua derrota. Isso ocorre apenas quando a fé deles em seu guru não é forte. Isso vem acontecendo desde sempre, desde o início dos tempos, e continuará pela eternidade.


Tentem entender que os āsuras e os devatās têm o mesmo pai, Kaśyapa, mas as suas mães são diferentes. Kaśyapa teve duas esposas, Diti e Aditi. Os filhos de Diti se tornaram āsuras, demônios, e os de Aditi se tornaram devatās, semideuses. Na verdade, é assim que a natureza de alguém é definida. No livro Bhājana-rahāsya de Gurudeva, é explicado que a natureza da mãe é transferida para o filho, e a do pai é transferida para a filha — é assim que a natureza opera e tem sido assim desde o início. É por isso que vemos todas as qualidades de Yaśodāmāyī em Kṛṣṇa. Também notamos que a natureza de Aditi está presente nos semideuses, e a natureza de Diti se faz presente nos demônios. Assim, desde o início dos tempos, os devas e os āsuras vêm lutando entre si. 


Agora, eu irei contar uma história dos Purāṇas. Certa vez, homens, demônios e semideuses se aproximaram de Brahmājī e reclamaram: "Ó pai, você criou nós três. Você deu aos semideuses os céus e os planetas celestiais. Você deu aos homens a terra e os planetas mundanos. Mas o que você deu aos demônios? Nada!” É por isso que, ocasionalmente, os demônios atacam os planetas mundanos e até mesmo os planetas celestiais. Eles perguntaram a Brahmā: "Nós somos seus três filhos e somos como irmãos. Por quê você não deu nada aos demônios?” Brahmājī respondeu: “Isso não é culpa minha. Não sou eu quem dou algo. O que vocês recebem vem de acordo com seu karma, natureza e comportamento.” Após ouvir isso, os demônios disseram: “Oh, nós não conseguimos entender. Como é possível algo assim?”


Brahmā então respondeu: "Vamos fazer o seguinte: amanhã eu convidarei vocês três para um banquete." No dia seguinte, ele primeiramente convidou os demônios. Foram então distribuídos pratos a eles, e locais para se sentarem. No entanto, Brahmājī impôs uma condição: "Todos vocês podem tomar prasāda, mas eu tenho uma regra quanto à maneira de fazê-lo: quando vocês pegarem a prasāda com a mão, não devem dobrar o pulso ou o cotovelo; o braço deve permanecer reto." Ao comer, não é possível manter o pulso reto; será preciso movimentar o pulso e o cotovelo para levar a comida à boca. Assim, os demônios responderam: “Como isso é possível? Como podemos comer sem dobrar nossos braços e sem fazer qualquer movimento?” Os demônios não se importaram com aquela orientação e simplesmente começaram a comer, sem se preocupar se os outros já haviam comido ou não. A natureza dos demônios é semelhante à dos animais. O animal não tem preocupações desse tipo — quando sente fome, simplesmente come.


Posteriormente, quando os semideuses foram chamados para seu banquete, eles se encontraram na mesma situação: "Há uma condição, vocês não podem dobrar a mão, o pulso e o cotovelo — não podem movê-los, eles devem permanecer retos." Os semideuses se questionaram sobre como poderiam realizar tal ação, e por fim, encontraram maneiras de lançar a comida diretamente de seus pratos para as suas bocas.


Finalmente, foi dada a mesma condição aos humanos. Os homens são perspicazes, então disseram: "Está bem, vamos nos sentar aqui e não vamos dobrar os braços. Vamos apenas garantir que estamos sentados em fila, com outra fila diretamente à nossa frente, para que possamos alimentar uns aos outros." É por isso que os homens são astutos. Eles acreditam: "Eu terei e você também terá." Às vezes, até mesmo os semideuses oram para Brahmā: "Dê-nos um nascimento como humanos, pois eles são inteligentes." 


Atualmente, é visível que os āsuras se apossaram dos humanos. Podemos observar como os homens estão mudando. Não é da natureza do homem roubar; pelo contrário, a natureza dele é de ter e oferecer. Se uma pessoa está comendo e tem dois roṭīs (pão indiano), é seu dever oferecer o outro para outra pessoa. No entanto, não é assim que os āsuras são. Dessa forma, demônios e semideuses têm lutado desde o início dos tempos, pois são filhos do mesmo pai, mas com mães diferentes. 


Bali Mahārāja é o filho de Diti. A história dele é muito bonita. Embora tenha nascido em uma família de āsuras, ele tinha uma boa natureza, afinal, algumas pessoas neste mundo são más e algumas são boas — há exceções em todos os lugares. Até mesmo entre os semideuses há alguns que não são muito puros e podem não ser muito bondosos. Há histórias no Bhāgavatam que ilustram isso, como as de Indra e Candra. Portanto, não é que todos os devatās sejam muito bons; há alguns devatās maus também. Da mesma forma, há humanos bons e maus. E isso também se aplica aos āsuras.


Prahlāda Mahārāja, por exemplo, apesar de ser de uma família de āsuras, era um grande devoto! Logo, não importa onde vocês nasceram, pois a pessoa desenvolve a sua identidade a partir de sua natureza herdada, mas também de seu comportamento. O que importa mais, portanto, é a sua natureza adquirida, não a herdada. Bali Mahārāja, por exemplo, nasceu em uma família de āsuras, assim como Prahlāda Mahārāja. O filho de Prahlāda é Virocana, e o filho de Virocana é Bali. Há um ditado comum que diz: "Tal pai, tal filho." No entanto, isso nem sempre se aplica. Por exemplo, Hiraṇyakaśipu não era devoto, mas seu filho Prahlādajī era. O filho de Prahlāda era Virocana, e o filho de Virocana era Bali Mahārāja. Assim, Bali Mahārāja herdou a natureza de seu pai e avô. 


Agora, vamos falar brevemente sobre Bali Mahārāja. Ele era uma grande personalidade, o rei de todos os planetas celestiais, mundanos e inferiores. Ele tinha uma natureza sāttvika e realizava sacrifícios de fogo todos os dias. Quem quer que comparecesse ao seu sacrifício de fogo, receberia uma doação dele. 


Certo dia, o Senhor Vāmanadeva pensou: "Agora é uma boa oportunidade de tomar todos os reinos de Bali Mahārāja." Dessa forma, Vāmanadeva se disfarçou como uma criança muito pequena, pois Vāmana significa "anão". Há uma bela descrição de como o Senhor Vāmanadeva andava com um guarda-chuva. Ele era tão baixinho que, enquanto andava, era difícil ver se havia alguém sob o guarda-chuva — parecia que o guarda-chuva estava simplesmente andando sozinho.


Vāmanadeva, então, aproximou-se de Bali Mahārāja e disse: "Por favor, conceda-me uma doação. Sou filho de um brāhmaṇa e também um brāhmaṇa. Não preciso de nada, apenas que me permita medir três passos de terra." Bali Mahārāja começou a rir e disse: “Seu cérebro é tão pequeno quanto Você. Quem vem a um rei e pede uma abóbora?” O vegetal mais barato é a abóbora. Talvez em países ocidentais elas sejam caras, mas na Índia elas custam cerca de vinte rúpias apenas.


Bali Mahārāja continuou: “Peça uma aldeia e eu a darei a Você, pois é um brāhmaṇa! Melhor ainda, peça uma cidade!” Mas o Senhor Vāmanadeva continuou a pedir apenas três passos de terra. Como Seus pés eram muito pequenos, medindo no máximo uma ou duas polegadas, Bali Mahārāja começou a rir. Em resposta, Vāmanadeva disse: “Eu medirei a terra com Meus próprios pés.”


Ao oferecer uma doação, a pessoa deve primeiro se purificar, realizar ācamana e prometer três vezes: “Eu darei, eu darei, eu darei.” Quando Bali Mahārāja se preparava para realizar ācamana, Śukrācārya percebeu que aquele menino não era uma criança comum, mas o próprio Senhor Viṣṇu, disfarçado de anão, que agora tiraria tudo do rei. Então, Śukrācārya advertiu Bali: “Esta pequena criança é o próprio Viṣṇu, não dê nada a Ele!”


Bali Mahārāja respondeu: “Gurudeva, hoje é um dia muito auspicioso para mim. O dono de tudo veio até aqui para me pedir algo. Sou muito afortunado por Ele ter vindo até mim! Que mal há quando o próprio Senhor pede alguma coisa? Ele é quem criou todos os brahmāṇḍas, os inumeráveis ​​universos. Para mim é um grande prazer oferecer-Lhe qualquer coisa.” Śukrācarya, porém, respondeu de maneira tola: “Se você der tudo a Ele, quem me dará dakṣiṇa (doações)?” “Gurudeva, sinto muito. Eu darei a Bhagavān tudo o que Ele me pedir”, replicou Bali Mahārāja. Então, Śukrācarya pensou: “Bali não entende. Farei o que estiver ao meu alcance para impedi-lo.” Enquanto isso, Vāmanadeva apressava Bali: “Vamos, depressa!”


Naquele momento, Bali Mahārāja estava prestes a utilizar um pote cheio de água sagrada para realizar ācamana. No entanto, Śukrācarya assumiu a forma de um peixe e entrou no pote para impedir que a água saísse. Vāmanadeva, entendendo de imediato o que estava acontecendo, disse: "Se a água está presa dentro do pote, podemos simplesmente desobstruí-lo com uma folha de grama." Assim, quando empurraram a folha para dentro do pote, um dos olhos de Śukrācarya foi ferido, começou a sangrar e, por fim, ele acabou perdendo-o. Após esse incidente, Bali Mahārāja conseguiu finalmente realizar o seu ācamana


Há um ditado que diz que o guru não é um guru verdadeiro se não pode conceder benefícios reais ao discípulo. Da mesma forma, os pais não são verdadeiros pais se não conseguem transformar seus filhos em devotos; amigos não são verdadeiros amigos se não conseguem inspirar devoção uns nos outros; a esposa não é uma verdadeira esposa se não pode conduzir o marido em direção a bhāgavad-bhakti; e o marido não é um verdadeiro marido se não pode encorajar a esposa a realizar bhāgavata-sevā. Se uma situação assim ocorrer com vocês, é seu dever abandonar tal relação. Essa é uma instrução muito amarga dada pelos nossos śāstras. No caso de Śukrācārya, ele não era um guru genuíno — e um guru desse tipo deve sempre ser abandonado.


Bolo Vṛndāvana Bihārī Lala kī jaya

Jaya Jaya Śrī Rādhe!




Tradução: Vṛndāvana-pālikā devī dāsī

Edição: Acyuta-priya devī dāsī e Gaura Hari dāsa

Revisão: Taruṇī-gopī dāsī e Gaura Hari dāsa


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