Instruções perfeitas aos quatro āśramas
- Vana Madhuryam Brasil
- 1 de jun.
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Atualizado: 1 de jun.

Śrīla Bhaktivedanta Vana Gosvāmī Mahārāja
9 de julho de 2024, Atibaia, Brasil
Nesta Kali-yuga, nāma-saṅkīrtana (o cantar congregacional dos santos nomes) é extremamente poderoso, pois o Senhor investiu toda a Sua potência nos santos nomes. Hari se baḓā hari kā nāma — os santos nomes são superiores ao próprio Senhor Hari. No entanto, também é necessário seguir as regras e regulações das escrituras, realizar sacrifícios de fogo (havana), adorar a Ṭhākurajī (pūjana), meditar constantemente nos pés de lótus do guru, e lembrar-se sempre do Senhor Kṛṣṇa. Dessa forma, vocês devem seguir os nove processos de bhakti (navadhā-bhakti).
śrī-prahrāda uvāca
śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ
smaraṇaṁ pāda-sevanam
arcanaṁ vandanaṁ dāsyaṁ
sakhyam ātma-nivedanam
iti puṁsārpitā viṣṇau
bhaktiś cen nava-lakṣaṇā
kriyeta bhagavaty addhā
tan manye ’dhītam uttamam
Śrīmad-Bhāgavatam (7.5.23–24)
[Prahlāda Mahārāja disse: Ouvir e cantar a respeito do santo nome, da forma, das qualidades, da parafernália e dos passatempos do Senhor Viṣṇu, que são todos transcendentais, lembrar-se deles, servir aos pés de lótus do Senhor, oferecer ao Senhor respeitosa adoração com dezesseis classes de artigos, oferecer orações ao Senhor, tornar-se Seu servo, considerar o Senhor o melhor amigo de todos e Lhe entregar tudo (em outras palavras, servi-lo com corpo, mente, palavras) — estes nove processos são aceitos como serviço devocional puro. Alguém que dedicou sua vida a servir a Kṛṣṇa através desses nove métodos deve ser considerado a pessoa mais erudita, pois adquiriu o conhecimento completo.]
Prahlāda Mahārāja ensinou os nove processos de bhakti (navadhā-bhakti). Śravaṇam significa ouvir kṛṣṇa-kathā (os passatempos e ensinamentos do Senhor). Kīrtanam significa glorificar constantemente os passatempos de Kṛṣṇa. Smaraṇaṁ significa lembrar-se sempre do Senhor. Pāda-sevanam significa adorar os pés de lótus de Guru e Kṛṣṇa.
Um outro aspecto de pāda-sevanam é a prática diária de circumambular a Tulasī-devī, o tulasī-mandira, a vigraha (forma da Deidade), e realizar parikramā (peregrinação nos locais sagrados). Dhāma-parikramā também está incluído nesse processo. Se você caminhar ao redor do dhāma (morada do Senhor), isso é considerado pāda-sevanam. Navadvīpa-dhāma parikramā, Jagannātha Purī-dhāma parikramā e Vṛndāvana-dhāma parikramā — todos esses são exemplos de pāda-sevanam.
Arcanaṁ significa que, todos os dias, você deve realizar arcana (adoração) para a Ṭhākurajī. Vandanaṁ refere-se a oferecer stava e stuti (orações e glorificações) ao Senhor. Especialmente nas primeiras horas da manhã, é importante glorificar guru-pāda-padma (os pés de lótus do guru) e cantar o Śrī Gurvāṣṭakam.
saḿsāra-dāvānala-līḍha-loka-
trāṇāya kāruṇya-ghanāghanatvam
prāptasya kalyāṇa-guṇārṇavasya
vande guroḥ śrī-caraṇāravindam
Śrī Gurvāṣṭakam (1), de Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura
[Para libertar os seres vivos queimados pelo incêndio ardente da existência material, śrī gurudeva, que é um oceano de qualidades auspiciosas, manifesta-se como uma nuvem densa de misericórdia. Eu adoro os pés de lótus de śrī gurudeva.]
Dāsyaṁ significa sempre pensar: “Sou um servo insignificante do Senhor Hari.” Sakhyam é o humor de amizade, e refere-se a servir Guru e Kṛṣṇa com intimidade, compreendendo que Kṛṣṇa é nosso melhor amigo. Por fim, ātma-nivedanam significa oferecer tudo o que possuímos aos pés de lótus de Guru e Kṛṣṇa. Esse é o processo pelo qual é possível desenvolver a vida espiritual.
Gṛhastha-āśrama e o chefe de família perfeito
O Senhor Rāmacandra estabeleceu o varṇāśrama-dharma (conjunto de deveres das classes sociais e ordens espirituais) e ofereceu tudo o que possuía ao seu guru, Vasiṣṭha Ṛṣi. Ele disse: “Ó Gurudeva, eu entrego tudo a você.” Então, Vasiṣṭha Ṛṣi respondeu: “Muito bem, eu receberei tudo o que é seu. Mas lhe dou a seguinte instrução: tudo o que você fizer, deve ser sob a minha orientação. E tudo o que você me deu, agora me pertence.” Nessa era de Kali, o chefe de família perfeito age assim: ele oferece tudo o que possui a Guru e Kṛṣṇa.
O próprio Senhor Caitanya Mahāprabhu nos ensinou como é possível viver como um chefe de família exemplar. Primeiro, Nimāi casou-se com Lakṣmī-priyā-devī e, após a partida dela, casou-se com Viṣṇu-priyā-devī. Ele demonstrou, com seu próprio exemplo, como se tornar um verdadeiro chefe de família. Todos os dias, Ele adorava sua Ṭhākurajī, banhava-se no rio Ganges e respeitava sua mãe, Śacī-devī. Dessa forma, Nimāi nos deu o exemplo do que é uma vida familiar pura — śuddha-gṛhastha-jīvana.
Esta vida humana é extremamente rara. Se você seguir os quatro princípios e se dedicar ao bhajana e sādhana (práticas espirituais), após abandonar o corpo você alcançará a morada eterna do Senhor. A vida de chefe de família é a melhor forma de vida, e os nossos śāstras (textos sagrados) nunca criticam os verdadeiros chefes de família. Existem duas categorias: gṛhastha (aquele que vive em família de maneira dedicada a Guru e Kṛṣṇa) e gṛhamedhī (aquele que simplesmente satisfaz seus sentidos como chefe de família). Os śāstras sempre glorificam os gṛhasthas.
Existem quatro āśramas (ordens de vida): brahmacārī (estudante celibatário), gṛhastha (chefe de família), vānaprastha (aquele se retira para a vida espiritual após a fase familiar) e sannyāsī (asceta renunciado). Os outros três āśramas são completamente dependentes do gṛhastha-āśrama. De quem os brahmacārīs recebem alimento? Dos chefes de família. O dever do brahmacārī é coletar doações (bikṣā), e ele as recebe da casa dos gṛhasthas. Os vānaprasthas também sustentam suas vidas por meio dos chefes de família, assim como os sannyāsīs, que recebem doações dos gṛhasthas. Por isso, a vida de gṛhastha é ideal para alcançar a morada do Senhor, pois eles sustentam e servem os outros três āśramas — brahmacarya, vānaprastha e sannyāsa. Por essa razão, os śāstras ensinam como se tornar um gṛhastha perfeito.
A outra categoria de chefe de família é conhecida como gṛhamedhī. “Medhī” é um tipo de vara que se finca na terra. Se você pegar um bambu e colocar metade dele dentro da terra e a outra metade fora, e então amarrar uma corda ao bambu, conseguirá traçar apenas um círculo no chão ao seu redor. Do mesmo modo, quem pensa que apenas sua casa é tudo, e não serve Guru, Vaiṣṇavas e Bhagavān, é chamado de gṛhamedī. Portanto, gṛhastha é a categoria que define o chefe de família perfeito.
Gṛha significa casa, e gṛhī é aquele que reside na casa. Gṛha e gṛhī — a casa e o dono da casa — não são a mesma coisa. Vocês devem se tornar chefes de família perfeitos. Se não houver uma esposa na casa, esse local não é considerado um gṛha, mas sim um mandira (templo). Quem vive no templo são os brahmacārīs, os vānaprasthas e os sannyāsīs. Os gṛhasthas devem viver fora do templo e não devem se misturar com os outros três āśramas. Estou dizendo isso porque gṛha (casa), gṛhī (chefe de família) e mandira (templo) não são a mesma coisa. Quando esposo, esposa e filhos vivem juntos em um local, isso é chamado de gṛhastha-āśrama. Já os brahmacārīs, vānaprasthas e sannyāsīs vivem no templo, onde a Ṭhākurajī está presente, pois são pessoas renunciadas.
Os deveres da ordem de vida renunciada
Um sādhu (santo), ou sannyāsī, não deve permanecer em um mesmo local por mais de sete dias. Ele pode ficar por três, cinco, ou no máximo sete dias. Se permanecer por mais tempo, grandes problemas poderão surgir. Como diz o ditado: “Pedra que rola não cria limo”, da mesma forma, brahmacārīs, vānaprasthas e sannyāsīs não devem permanecer muito tempo em um só lugar.
O voto de brahmacarya
Se vocês aceitam o brahmacārī-veṣa (as vestes de um estudante renunciado) e, ao mesmo tempo, ficam indo e vindo, dizendo “Papai! Mamãe!”, qual é o verdadeiro significado de ter aceitado esse voto? Esse não é um comportamento adequado para um brahmacārī — ele deve ser verdadeiramente renunciante.
Existem dois tipos de brahmacārī: o naiṣṭhika-brahmacārī e o upakurvāṇa-brahmacārī. O naiṣṭhika-brahmacārī tem firmeza (niṣṭhā) em seu voto e renuncia completamente. Já o upakurvāṇa-brahmacārī, em algum momento da vida, pensa: “Não consigo controlar meus sentidos, portanto, irei me casar.” Assim, ele volta a vestir roupas brancas, procura uma esposa atraente e abandona o caminho da renúncia.
Quando você aceita as vestes de cor açafrão, isso significa que está fazendo um voto de desapego de tudo. Nesse momento, você aceita que Guru e Kṛṣṇa são como seu pai, sua mãe, e tudo para você. “Tvameva mātā, tvameva pitā, tvameva bandhuśca sakhā tvameva — Ó meu Senhor, Você é meu verdadeiro pai, minha verdadeira mãe, meu verdadeiro amigo.” Procurem compreender como se tornar brahmacārīs perfeitos. Isso se chama naiṣṭhika-brahmacārī. Com muito cuidado, esforcem-se para se tornarem naiṣṭhika-brahmacārīs.
Como transformar a sua casa em um templo
Como mencionei anteriormente, a vida de gṛhastha é uma boa vida. Na verdade, sua casa deve ser como um belo templo — um gṛha-mandira. Mahāprabhu nos ensinou como transformar nosso lar em um verdadeiro gṛha-mandira.
je-dina gṛhe, bhajana dekhi,
gṛhete goloka bhāya
caraṇa-sīdhu, dekhiyā gańgā,
sukha sā sīmā pāya
Śuddha-bhakata (6), de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
[Minha casa se transforma em Goloka Vṛndāvana quando vejo o bhajana de Śrī Rādhā-Kṛṣṇa sendo realizado ali. Quando contemplo o Gaṅgā, que é o néctar que emana dos pés do Senhor, minha felicidade não conhece limites.]
śuddha-bhakata-caraṇa-reṇu,
bhajana-anukūla
bhakata-sevā, parama-siddhi,
prema-latikāra mūla
Śuddha-bhakata (1), de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
[A poeira dos pés de lótus dos devotos puros é extremamente favorável para o bhajana. O serviço aos devotos puros é a perfeição suprema e a própria raiz da trepadeira de prema.]
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura escreveu e cantou esta canção: “Je-dina gṛhe, bhajana dekhi, gṛhete goloka bhāya” — a casa daquele que realiza bhajana e sādhana para Kṛṣṇa é como Goloka Vṛndāvana. Assim, um lar onde há uma belíssima Ṭhākurajī, onde Guru e Vaiṣṇavas são recebidos, e onde há nāma-saṅkīrtana — essa casa é Goloka Vṛndāvana. “Caraṇa-sīdhu, dekhiyā gańgā, sukha sā sīmā pāya” — até mesmo Gaṅgā-devī sente imensa felicidade com isso. Se vocês simplesmente tocarem a água do Ganges, já serão purificados. E, da mesma forma, ao receber o darśana (visão auspiciosa) de um Vaiṣṇava, a purificação também ocorrerá automaticamente.
A maioria dos seguidores de Śrī Caitanya Mahāprabhu eram chefes de família, como Nityānanda Prabhu, Advaita Ācārya e Śrīvāsa Ṭhākura. Eles levaram uma vida de chefe de família muito bonita. Isso é gṛha-mandira (transformar seu lar em um verdadeiro templo).
O significado de vānaprastha
O voto de vānaprastha significa que, após os cinquenta anos de idade, a pessoa deve se afastar da vida familiar e retirar-se para a floresta [para dedicar-se à vida espiritual]. Isso pode ser feito sozinho ou, se o cônjuge concordar, ambos podem ir juntos.
Estou explicando isso para mostrar como funciona o sistema de varṇāśrama-dharma. O quanto cada um consegue seguir, é outra questão — mas este é o princípio. Após os cinquenta anos, deve-se abandonar todas as obrigações e responsabilidades e ir para a floresta. No entanto, muitos dizem: “Eu tenho negócios e compromissos, o que devo fazer?” A resposta é: essas responsabilidades devem ser entregues aos filhos. Esse é o sistema.
Os sintomas de um sannyāsī
Um sannyāsī é completamente desapegado de todas as coisas materiais. Sannyāsa significa: “samyak rūpe nyasanam iti sannyāsaḥ — o ato de renunciar plenamente a todos os tipos de apego”. Há tanto o comportamento externo quanto o interno de um sannyāsī. Internamente, ele está sempre se lembrando de Kṛṣṇa (smaraṇaṁ).
bāhya, antara, — ihāra dui ta’ sādhana
‘bāhye’ sādhaka-dehe kare śravaṇa-kīrtana
‘mane’ nija-siddha-deha kariyā bhāvana
rātri-dine kare vraje kṛṣṇera sevana
Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā (22.156-157)
[Existem dois processos pelos quais alguém pode executar esta rāgānugā-bhakti — o externo e o interno. Quando autorrealizado, o devoto avançado externamente permanece como um neófito e executa todas as injunções das escrituras, especialmente aquelas relacionadas a ouvir e cantar. Mas dentro de sua mente, em sua posição original, purificada e autorrealizada, ele serve a Kṛṣṇa em Vṛndāvana de sua maneira particular. Ele serve a Kṛṣṇa vinte e quatro horas por dia, dia e noite.]
Mahāprabhu disse: “Esteja sempre absorto em Sua forma constitucional transcendental e se lembre de Sua adorável deidade, Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa.” Esse é o sintoma interno de um sannyāsī — estar constantemente apegado a sua iṣṭa-deva (deidade adorável).
Os sintomas externos de um sannyāsī são que ele realiza nāma-saṅkīrtana e permanece na companhia dos devotos. Esses são os sinais visíveis, e o próprio Senhor Caitanya Mahāprabhu agiu dessa maneira. Externamente, o Senhor Caitanya se reunia com os devotos, lhes demonstrava amor e afeto, perguntava se tinham algum problema, entre outras coisas. Essas são as atividades externas e o dever de um sannyāsī.
Se um sannyāsī não interagir com os devotos, sua pregação não terá sucesso. Embora, internamente, ele não seja apegado a ninguém, externamente ele demonstra amor e afeição por todos. Bāhye loka-vyavahāra refere-se ao comportamento externo com os devotos e outras pessoas. O comportamento social (loka-vyavahāra) é muito importante.
Por que os sannyāsīs visitam sua casa?
mahad-vicalanaṁ nṝṇāṁ
gṛhiṇāṁ dīna-cetasām
niḥśreyasāya bhagavan
kalpate nānyathā kvacit
Śrīmad-Bhāgavatam (10.8.4)
[Nanda Mahārāja disse a Garga-Muṇī: “Ó Senhor, grandes pessoas santas como você visitam as casas de chefes de família humildes como eu com o único propósito de conceder-lhes auspiciosidade.”]
mahānta-svabhāva ei tārite pāmara
nija kārya nāhi tabu yāna tāra ghara
Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā (8.39)
[É prática geral das pessoas santas libertarem os caídos. Portanto, eles vão para a casa das pessoas, embora não tenham nenhum assunto pessoal para tratar por lá.]
Os sannyāsīs não têm interesse próprio. Eles vão até a casa dos chefes de família e de outras pessoas para oferecer suas bênçãos.
Como os santos purificam as casas dos devotos
No Śrīmad-Bhāgavatam é dito:
na yatra vaikuṇṭha-kathā-sudhāpagā
na sādhavo bhāgavatās tadāśrayāḥ
na yatra yajñeśa-makhā mahotsavāḥ
sureśa-loko ’pi na vai sa sevyatām
Śrīmad-Bhāgavatam (5.19.24)
[Uma pessoa inteligente não se interessa por um lugar, mesmo que pertença ao sistema planetário mais elevado, se o puro Ganges dos tópicos relativos às atividades do Senhor Supremo não flui por ali, se não há devotos ocupados no serviço devocional às margens desse rio de piedade, ou se não há festivais de saṅkīrtana-yajña para satisfazer o Senhor.]
Se na sua casa não há hari-kathā (narrações sobre o Senhor Hari), e se Guru e Vaiṣṇavas não estão indo até lá, essa casa é como o buraco de uma cobra. O rato cava o buraco, mas quem permanece ali é a cobra — ela mata o rato e se aloja buraco. O Śrīmad-Bhāgavatam explica isso. Guru, Vaiṣṇavas, sādhus, sannyāsīs e brahmacārīs vão até a sua casa para purificá-la.
bhakta-pada-dhūli āra bhakta-pada-jala
bhakta-bhukta-avaśeṣa—ei tina mahā-bala
ei tina-sevā haite kṛṣṇa-premā haya
punaḥ punaḥ sarva-śāstre phukāriyā kaya
Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā (16.60–61)
[A poeira dos pés de lótus dos devotos puros, a água que lava seus pés e as sobras do seu mahā-mahā-prasādam (tanto hari-kathā quanto prasādam) — esses três são extremamente poderosos. Ao prestar serviço a esses três, alcança-se o objetivo supremo do amor extático por Kṛṣṇa. Em todas as escrituras reveladas isso é proclamado repetidamente em alta voz.]
Se apenas uma partícula da poeira dos pés de lótus de um sādhu (santo) entrar em sua casa, ela será completamente purificada e se tornará Goloka Vṛndāvana. Mas, se os sādhus não vão até essa casa, ela se tornará um cemitério, ou o buraco de uma cobra — sarpa-garta. Sarpa significa cobra, e garta significa buraco. Sua casa deve ser como Goloka Vṛndāvana, livre de estupidez e tolices — sem alho, cebola, ovos, carne, peixe, bebidas alcoólicas e gañjā-bhang (cannabis). A casa deve ser totalmente limpa.
Primeiro, vocês devem transformar suas casas em um bhagavat-mandira e em um gṛha-mandira. Primeiro, expliquei o conceito de mandira (templo), e agora estou explicando o conceito de gṛha-mandira (a casa como um templo). Isso é muito benéfico. Sirvam sempre Guru e Vaiṣṇavas. Tudo o que vocês receberem, utilizem para servi-los, e aceitem a prasāda (misericórdia) deles.
A história de uma jaca e duas pessoas e meia
Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Prabhupāda contou uma história belíssima. Nesta época do ano, na Índia, o Ratha-yātrā está prestes a acontecer. Especialmente na Bengala, é a estação em que as jacas começam a amadurecer.
Certa vez, um chefe de família comprou uma jaca bem grande no mercado — talvez pesando entre 10 e 15 quilos. Em sua casa, havia apenas duas pessoas e meia: o marido, a esposa e um filho pequeno, de três ou quatro anos de idade, cujo nome era Hari.
O marido disse à sua esposa: “Veja, eu comprei essa jaca bem grande no mercado.” Um aroma muito doce emanava dela. Se vocês forem à Malásia, verão que lá existe uma fruta muito semelhante à jaca, chamada durião, que tem um cheiro muito forte. Eles não permitem que essa fruta seja levada dentro de aviões [e hoteis, táxis e metrôs, devido ao odor intenso que se espalha pelo ambiente].
A Bengala e o Brasil são muito parecidos — até as pessoas se assemelham! A única diferença é que aqui algumas pessoas têm a compleição mais clara, enquanto outras têm a compleição mais escura. Fora isso, tudo é muito semelhante. Todos os tipos de frutas e vegetais encontrados na Bengala também existem no Brasil. Que vegetal de lá não pode ser encontrado aqui? Praticamente todos estão disponíveis — talvez apenas com nomes diferentes. O Brasil tem todos os tipos de frutas e vegetais. O Brasil é como Vraja — e em Vraja, tudo se manifesta!
Retornando à história. O marido disse à sua esposa: “Eu trouxe uma jaca bem grande, mas em nossa casa há apenas duas pessoas e meia! Como poderemos comer toda essa jaca?” Naquela época, não havia geladeira para armazenar e conservar os alimentos por mais tempo. Então, o marido disse: “Perto da nossa casa há um templo. Podemos oferecer metade da jaca ao templo, pois lá vivem muitos brahmacārīs e sannyāsīs. Dessa forma, poderemos realizar vaiṣṇava-sevā (servir os devotos), já que os Vaiṣṇavas residem ali.”
Todos que residem no templo são Vaiṣṇavas, assim como Līlānanda Prabhu, Rādhā-Śyāmasundara Prabhu, Saccidānanda Prabhu, Gaurāṅga Dīdī, Prāṇā-Kiśorī Dīdī, Tīrthanidhi Dīdī, Narahari Prabhu… Muitos Vaiṣṇavas e Vaiṣṇavīs residem no templo. Por isso, o marido disse: “Servir os Vaiṣṇavas será bom para nós.”
prabhu kahe vaiṣṇava-sevā, nāma-saṅkīrtana
dui kara, śīghra pābe śrī-kṛṣṇa-caraṇa
Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā (16.70)
[Śrī Caitanya Mahāprabhu respondeu: "Você deve se engajar no serviço aos Vaiṣṇavas e sempre cantar o santo nome de Śrī Kṛṣṇa. Se você fizer essas duas coisas, muito em breve alcançará o abrigo aos pés de lótus de Kṛṣṇa."]
Mahāprabhu disse: “Sirva os Vaiṣṇavas e cante os santos nomes. Assim, muito facilmente, você alcançará o Senhor.” Portanto, o marido decidiu: “Nós devemos dar metade da jaca para o templo.” Contudo, a esposa contestou: “Are! Mas em nossa casa também há Vaiṣṇavas! Você quer dizer que somente aqueles que residem no templo são Vaiṣṇavas, e nós não somos?”
Há um ditado em bengali que diz: “Āmi vaiṣṇava, tu vaiṣṇava āra vaiṣṇava hari, tina vaiṣṇava ra-ite kāṭhāla khābe pare? — Eu sou Vaiṣṇava, você é Vaiṣṇava, nosso filho Hari também é Vaiṣṇava — e nós três podemos comer essa jaca inteira!”
“Não é preciso servir o templo e os devotos”, continuou a esposa, “pois nós também somos Vaiṣṇavas.” Contudo, esse pensamento está equivocado. Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Prabhupāda ensinou: “Nós devemos servir aos Vaiṣṇavas.”
Existe o gṛhastha-vaiṣṇava (aquele que vive em sua casa) e o tyāgī-vaiṣṇava (o renunciante que vive no templo). Devemos servir a ambos. Esse é o processo para dar amor e afeto a todos. Dessa maneira, a vida familiar se torna perfeita — esse é o caminho. Vocês entendem esses conceitos? Se não entenderem, perguntem-me. Sirvam Guru e Vaiṣṇavas. Dessa forma, a vida familiar será bem-sucedida, assim como a vida de brahmacārī, de vānaprastha e de sannyāsī.
As quatro categorias de sannyāsīs
Há quatro categorias de sannyāsīs: kuṭīcaka, bahūdaka, haṁsa e paramahaṁsa. Aquele que pertence à categoria kuṭīcaka permanece em um único local ou āśrama. Já o bahūdaka-sannyāsī é um viajante.
Quando um sannyāsī está pregando, ele precisa ir a diferentes lugares, e, dessa maneira, bebe água de diversos locais — Brasil, Estados Unidos, Rússia, Austrália, Malásia, Singapura… Ele também experimenta diferentes climas — há lugares muito quentes e outros muito frios. A Sibéria, por exemplo, é extremamente fria, chegando às vezes a -50°C, com tudo completamente coberto de neve. Já na Índia, hoje em dia, as temperaturas podem alcançar 50°C! Digo tudo isso para explicar sobre o sannyāsī que está sempre viajando. Esse tipo de sannyāsī é chamado bahūdaka — udaka significa água — e esse nome indica que ele bebe água de diferentes lugares [porque está sempre viajando e pregando].
O terceiro tipo é o haṁsa, que é como um cisne. Se você oferecer leite misturado com água a um cisne, ele beberá somente o leite e rejeitará a água. Isso significa que esse tipo de sannyāsī haṁsa não é apegado a nada nem a ninguém.
O quarto tipo, paramahaṁsa, está sempre absorto na aṣṭa-kālīya-līlā, assim como Śrīla Gaurakīśora dāsa Bābājī Mahārāja.
A prática espiritual é essencial em todos os āśramas
Dessa maneira, o nosso śāstra (texto sagrado) explica como funciona o varṇāśrama-dharma (conjunto de deveres das classes sociais e ordens espirituais), e como seguir as regras e regulações da sociedade. Em qualquer āśrama em que vocês estejam, pratiquem bhajana e sādhana — desde o primeiro estágio de brahmacārī.
jñāne prayāsam udapāsya namanta eva
jīvanti san-mukharitāṁ bhavadīya-vārtām
sthāne sthitāḥ śruti-gatāṁ tanu-vāṅ-manobhir
ye prāyaśo ’jita jito ’py asi tais tri-lokyām
Śrīmad-Bhāgavatam (10.14.3)
[Aqueles que, mesmo enquanto situados em suas posições sociais estabelecidas, rejeitam o processo de conhecimento especulativo e, com seu corpo, palavras e mente, oferecem todo o respeito às descrições acerca de Vossa personalidade e atividades, dedicando suas vidas a essas narrações, que são vibradas por Vós mesmo e por Vossos devotos puros, com certeza Vos conquistam, embora, de outro modo, sejais inconquistável por parte de qualquer um dentro dos três mundos.]
Em qualquer āśrama em que vocês estejam — brahmacārī, gṛhastha, vānaprastha ou sannyāsī — comecem a praticar bhajana e sādhana imediatamente. Não pensem: “Agora eu sou um brahmacārī; quando eu me tornar vānaprastha ou sannyāsī, aí sim farei bhajana e sādhana.” Não pensem assim. Desde o estágio de brahmacārī, pratiquem a vida espiritual.
Hare Kṛṣṇa Hare Kṛṣṇa
Kṛṣṇa Kṛṣṇa Hare Hare
Hare Rāma Hare Rāma
Rāma Rāma Hare Hare
Sthāne sthitāḥ significa que, em qualquer āśrama em que você esteja agora, é a partir desse ponto que deve começar seu bhajana e sādhana. Não é necessário esperar mudar de um āśrama para outro. Esse é o caminho.
Pratiquem bhajana e sādhana, sirvam a Ṭhākurajī, o Guru e os Vaiṣṇavas, e estejam sempre absortos em serviço — assim como na história que contei ontem sobre Aruni e Upamanyu, que se renderam completamente aos pés de lótus do guru e seguiram fielmente suas instruções. Dessa forma, todo o tattva-jñāna (o conhecimento transcendental) manifestou-se em seus corações.
A potência da fé nas palavras do mestre espiritual
Guru-vākya-viśvāsa — tenha fé firme nas instruções do guru. Ontem, eu contei a história de um brahmacārī que estava lendo a Bhagavad-gītā em sânscrito. Sua pronúncia não era perfeita, e grandes paṇḍitas (eruditos) riam dele e faziam piadas por causa disso.
Certa vez, o Senhor Caitanya Mahāprabhu sentou-se diante daquele brahmacārī e perguntou: “Ó brahmacārī, por que você chora enquanto lê a Gītā?” Ao que o menino respondeu: “Na verdade, eu não conheço o significado desses ślokas (versos) da Bhagavad-gītā. Certo dia, meu Gurudeva me instruiu a ler essa escritura todos os dias. Seguindo a ordem de meu mestre, diariamente eu abro a Bhagavad-gītā e vejo a imagem de Kṛṣṇa, com Seu belíssimo rosto sorridente, dando instruções a Arjuna. Quando vejo essa imagem, meu coração se derrete.” Após ouvir isso, Mahāprabhu disse: “Você está lendo a Bhagavad-gītā perfeitamente.” Por quê? Porque ele tinha fé nas instruções de seu guru — guru-vākya-viśvāsa.
Bhakti se manifestará muito facilmente em seus corações se vocês tiverem fé nas instruções do guru. Bhakti não depende de mais nada além de viśvāsa (fé). Por isso, todos os dias, nós cantamos a seguinte canção:
śrī-guru-caraṇa-padma, kevala-bhakati-sadma,
bando muñi sāvadhāna mate
jāhāra prasāde bhāi, e bhava toriyā jāi,
kṛṣṇa-prāpti hoy jāhā ha'te
Śrī Guru-caraṇa-padma (1), de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura
[Os pés de lótus de śrī guru são o tesouro de prema-bhakti pura e imaculada. Eu adoro esses pés de lótus com grande cuidado. Pela misericórdia de śrī guru, ó irmão, alguém pode atravessar o universo material e alcançar Śrī Kṛṣṇa.]
guru-mukha-padma-vākya, cittete koribo aikya,
ār nā koriho mane āśā
śrī-guru-caraṇe rati, ei se uttama-gati,
je prasāde pūre sarva āśā
Śrī Guru-caraṇa-padma (2), de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura
[Torne as palavras que emanam da boca de lótus de śrī guru uma só com o seu coração e não aspire por mais nada. O apego aos pés de lótus de śrī guru é a maior realização. Pela sua misericórdia, todos os desejos são satisfeitos.]
Guru-mukha-padma-vākya, cittete koribo aikya, ār nā koriho mane āśā. Espero que vocês compreendam o significado simples deste verso. Há muitos anos, vocês o estão recitando. A única esperança é satisfazer os desejos do guru — guru-vākya-viśvāsa.
guru-pāda-padme rahe ĵāra niṣṭhā-bhakti
jagat tārite sei dhare mahā-śakti
Āśraya Kôriyā Vandõ (11) de Śrī Sanātana dāsa
[Aquele cuja devoção permanece firme aos pés de lótus de śrī guru possui grande poder para libertar o universo.]
Isso é guru-vākya-viśvāsa — “O que Gurudeva disser, eu seguirei, e nada além disso.”
Agora, contarei uma breve história. Certa vez, um discípulo perguntou ao seu Gurudeva: “Ó Gurudeva, quando Kṛṣṇa irá me conceder o Seu darśana (visão auspiciosa)?” Ao que o guru respondeu: “Por ora, faça bhajana e sādhana, cante os santos nomes e sirva Guru e Vaiṣṇavas. Quando o momento certo chegar, Bhagavān lhe dará o Seu darśana.”
No entanto, todos os dias, o discípulo fazia a mesma pergunta ao seu guru: “Gurudeva, quando Kṛṣṇa irá me conceder o Seu darśana? Quando isso ocorrerá? Quando isso ocorrerá?” Então, certo dia, seu gurudeva estava sentado, cantando os santos nomes, quando o discípulo, mais uma vez, perguntou: “Ó Gurudeva, quando Kṛṣṇa irá me dar o Seu darśana?” O guru, então, respondeu: “Vá e pule naquele poço — assim Kṛṣṇa lhe dará o Seu darśana!” Às vezes, o guru se irrita e diz: “Ei, seu tolo, patife!”
Então, o menino pulou no poço, e Kṛṣṇa apareceu diante dele e o segurou, dizendo: “Oh! Você tem fé nas instruções do seu guru! Por essa razão, agora estou lhe concedendo o Meu darśana.” Isso é guru-vākya-viśvāsa. Quando vocês tiverem essa fé firme nas instruções do guru, Kṛṣṇa Se revelará diante de vocês.
dhyāna-mūlaṁ guror mūrtiḥ
pūjā-mūlaṁ guror padam
mantra-mūlaṁ guror vākyaṁ
mokṣa-mūlaṁ guror kṛpā
Śrī Guru Stotram
[A raiz da meditação é a forma do guru. A raiz da adoração são os pés do guru. A raiz do mantra são as instruções do guru. A raiz da libertação é a misericórdia do guru.]
Agora, faremos um sacrifício de fogo e um pouco de kīrtana — não levará mais que vinte minutos. Depois disso, tomem mahā-prasāda e retornem ao templo, pois às cinco e meia da tarde começará o kīrtana [do programa noturno], seguido pelo ārati (cerimônia de adoração a Deidade), hari-kathā, e, por fim, mahā-prasāda novamente. Eu estou sempre dizendo: hari-kathā, mahā-prasāda, mahā-prasāda, hari-kathā! Não se esqueçam dessas duas coisas.
Bolo Vṛndāvana-bihārī-lālā kī jaya!
Jaya jaya Śrī Rādhē!
Transcrição: Gaurāṅgi-devī dāsī (SP)
Edição: Tāruṇī-gopī dāsī (SP)
Revisão: Līlā-govinda dāsa (MG)
Colaboração: Mahākāla dāsa (SP), Kṛṣṇa-kṛpā dāsa (SP), Kṛṣṇa-priya dāsī (EUA), Madana-gopāla dāsa (SC), Premānanda dāsa (ESP), Tāruṇī-gopī dāsī (AUS) e Vṛndāvana-candra dāsa (SP)


