As glórias de Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja
- Vana Madhuryam Brasil
- 24 de jul.
- 12 min de leitura

Śrīla Bhaktivedanta Vana Gosvāmī Mahārāja
08 de agosto de 2021, México
Hoje é um dia supremamente excelente e auspicioso, pois é o dia da partida transcendental de nitya-līlā-praviṣṭa oṁ viṣṇupāda aṣṭottara-śata Śrī Śrīmad Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja.
vaiṣṇavera āvirbhāva’ ‘tirobhāva’ mātra kahe veda
Caitanya-bhāgavata (Ādi-khaṇḍa, 3.52)
[Os Vedas afirmam que os passatempos dos Vaiṣṇavas jamais sofrem interrupções; eles apenas aparecem e desaparecem da nossa visão.]
Nossos Vedas explicam a importância dos dias do advento e da partida transcendental dos Vaiṣṇavas. Na Bhagavad-gita, o próprio Kṛṣṇa afirma a Arjuna:
janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna
Bhagavad-gītā (4.9)
[“Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu advento e atividades, ao deixar o corpo, não nasce novamente neste mundo material e alcança a Minha morada eterna, ó Arjuna.”]
Assim como ocorre com o Senhor, o advento e a partida dos Seus devotos puros (śuddha-bhaktas) neste mundo também são eventos transcendentais. Por isso, hoje celebraremos o dia do desaparecimento de nitya-līlā-praviṣṭa oṁ viṣṇupāda aṣṭottara-śata Śrī Śrīmad Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja.
Em sânscrito, este dia é chamado tirobhāva-tithi. Āvirbhāva significa “aparecimento”, e tirobhāva, “desaparecimento”. Hoje estamos sentindo viraha (saudade transcendental) de Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja; por isso, este é também um viraha-tithi. Em sânscrito, viraha geralmente significa “separação”, mas também possui outro sentido: vi significa “especial” e raha, “encontro”. Assim, viraha também pode ser compreendido como um "encontro especial". Portanto, neste dia, ao glorificarmos a vida e as contribuições dele, podemos, por meio dessas lembranças, estar em sua companhia.
Uma história de vida inspiradora
Sua Divina Graça, Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja, é o fundador do Śrī Caitanya Sarasvatī Maṭha. Ele nasceu em 1895, no distrito de Barddhamān, na Bengala Ocidental, em uma respeitável família de brāhmaṇas (sacerdotes) elevados conhecida como família Bhaṭṭācārya — uma das diversas linhagens tradicionais de brāhmaṇas, como Bhaṭṭācārya, Gaṅgotri, Cakravartī, entre outras. Ele estudou na Universidade de Berhampura.
Quando chegou a Māyāpura, Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja conheceu Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura Prabhupāda e notou que, no templo, todos os brahmacārīs (estudantes celibatários) eram extremamente eruditos. Naquela época, na Índia, especialmente na Bengala, era comum haver muita blasfêmia contra os Vaiṣṇavas. Muitas pessoas os viam como pertencentes a castas inferiores — indivíduos pobres, analfabetos, que haviam abandonado a vida social e não conseguiam se sustentar. A concepção popular era de que os Vaiṣṇavas vagavam por crematórios e cemitérios tocando mṛdaṅgas durante cremações, apenas para conseguir algum dinheiro e sobreviver. No entanto, ao chegar ao templo, Śrīla Śrīdhara Mahārāja percebeu que os brahmacārīs eram altamente eruditos.
Naquela época, Mahārāja era estudante de Direito e pensou: “Ainda preciso terminar a faculdade.” Por isso, ele retornou ao seu local de origem para concluir os estudos. Posteriormente, ele voltou a Māyāpurā e permaneceu na companhia de Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Prabhupāda. Desde a infância, ele já possuía uma fé profunda no Senhor Caitanya Mahāprabhu.
Meu primeiro encontro com ele
Quando cheguei ao templo Śrī Devananda Gauḍīya Maṭha, em Navadvīpa-dhāma, todos os sannyāsīs haviam saído para coletar arroz e dal (leguminosas) para o parikramā (peregrinação) de Śrī Navadvīpa-dhāma, em honra a Śrī Caitanya Mahāprabhu. Naquele dia, apenas alguns brahmacārīs e bābājīs idosos permaneceram no templo. Por essa razão, minha mente ficou um pouco perturbada, pois havia pouco ou nenhum hari-kathā (palestra sobre os passatempos do Senhor) sendo falado. Minha natureza é desejar ouvir e falar hari-kathā constantemente. Percebendo isso, um brahmacārī me disse: “Se você deseja ouvir hari-kathā, vá até o templo Śrī Caitanya Sārasvatī Gauḍīya Maṭha.” A partir de então, passei a ir todos os dias do templo Devananda Gauḍīya Maṭha até lá.
Durante as minhas visitas àquele local, eu via nitya-līlā-praviṣṭa oṁ viṣṇupāda aṣṭottara-śata Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja falando hari-kathā para os seus devotos ocidentais. Naquele período, ele estava um pouco debilitado fisicamente, por isso se sentava em uma cadeira enquanto falava sobre o Bhakti-rasāmṛta-sindhu, composto por Śrīla Rūpa Gosvāmīpāda. Lembro-me especialmente de um hari-kathā muito belo, no qual ele explicou o significado de śuddha-bhakti, o serviço devocional puro ao Senhor, por meio do seguinte verso:
anyābhilāṣitā-śūnyaṁ
jñāna-karmādy-anāvṛtam
ānukūlyena kṛṣṇānu-
śīlanaṁ bhaktir uttamā
Bhakti-rasāmṛta-sindhu (1.1.11)
[O cultivo de atividades que se destinam exclusivamente ao prazer de Śrī Kṛṣṇa ou, em outras palavras, o fluxo ininterrupto de serviço a Śrī Kṛṣṇa, realizado por meio de todos os esforços do corpo, da mente e da fala, e por meio da expressão de vários sentimentos espirituais (bhāvas), que não é coberto por jñāna (conhecimento voltado para a liberação impessoal) e karma (atividade em busca de recompensa), e que é desprovido de todos os desejos além da aspiração de trazer felicidade a Śrī Kṛṣṇa, é chamado uttamā-bhakti, serviço devocional puro.]
Ele também explicou com grande clareza os comentários de Śrīla Viśvanātha Cakravartīpāda e Śrīla Jīva Gosvāmīpāda, elucidando as filosofias profundas contidas naquele verso. Lembro-me especialmente de como ele falou sobre avyāpti-doṣa e ativyāpti-doṣa — as falhas da restrição excessiva e da abrangência excessiva, respectivamente. Ao ouvir essa análise filosófica, fiquei muito impressionado, pois nunca antes havia escutado sobre esse tattva (princípio essencial).
Quando o bebê Kṛṣṇa estava mamando no seio de Mãe Yaśodā, ela interrompeu a amamentação, e Ele ficou muito zangado. Por não estar satisfeito com ela, Ele quebrou o pote de manteiga, e então ela O castigou. Bhakti, devoção amorosa, deve ser dedicada exclusivamente ao prazer de Kṛṣṇa, mas aqui Kṛṣṇa não está satisfeito com Sua mãe. No entanto, isso é bhakti. Por outro lado, quando Cāṇūra e Muṣṭika lutaram com Kṛṣṇa na arena de Kaṁsa, Kṛṣṇa ficou muito feliz lutando com eles — contudo, isso não é bhakti.
Pujyapāda Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja explicou que todos os esforços devem ser dedicados exclusivamente ao prazer de Kṛṣṇa: kṛṣṇārthe akhila ceṣṭā parāyaṇa. Isso inclui, inclusive, kṛṣṇārthe akhila bhoga-tyāga — abrir mão de toda e qualquer forma de felicidade pessoal em prol da satisfação do Senhor. Menciono isso porque ouvi essa explicação de Mahārāja enquanto ele comentava o verso "anyābhilāṣitā-śūnyaṁ…", que descreve śuddha-bhakti, a devoção pura.
Fiquei profundamente encantado com Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja. Ele estava sempre cantando gaura-nama: “Gaura, Gaura, Gaura, Gaura”. Isso me impressionou muito. Por isso, todos os dias eu ia do templo Devananda Gauḍīya Maṭha até o Caitanya Sārasvatī Gauḍīya Maṭha para ouvir seu hari-kathā, e ele demonstrava grande satisfação comigo. Lembro-me de que, certo dia, ele me perguntou sobre mim — de onde eu vinha, essas coisas — e eu respondi. Então ele disse: “Você pode ficar em nosso templo.” Respondi de maneira bem simples: “Não, não, ficarei no Devananda Gauḍīya Maṭha, meu tio está lá”, referindo-me a Śrīla Bhaktivedānta Madhusūdana Mahārāja, que na época era conhecido como Kṛṣṇa-kṛpā Brahmacārī.
No ano passado, Śrīla Madhusūdana Mahārāja deixou este mundo material. Seu nome completo agora é nitya-līlā-praviṣṭa oṁ viṣṇupāda aṣṭottara-śata Śrī Śrīmad Bhaktivedānta Madhusūdana Mahārāja. Ele era um Vaiṣṇava extremamente elevado e exaltado, um verdadeiro paṇḍita e erudito em sânscrito, nomeado inclusive pelo governo como professor dessa língua. Apesar de todo o seu conhecimento, ele mantinha-se profundamente humilde. Por isso, Śrīla Gurudeva, Śrīla Bhaktivedānta Nārāyaṇa Gosvāmī Mahārāja, tinha por ele grande amor e afeição.
Uma vida de devoção: seu legado e contribuições
Lembro-me de como o hari-kathā e o tattva-siddhānta (as conclusões filosóficas das escrituras) de Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja eram profundamente impressionantes. Assim como Śrī Jīva Gosvāmīpāda — um grande erudito e estudioso — ele analisava cuidadosamente os versos dos granthas (textos sagrados) de nossos Gosvāmīs, como mencionei anteriormente ao falar dos dois aspectos de bhakti: a falha de restrição excessiva e a falha de abrangência excessiva. Em especial, Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Mahārāja também manifestava profunda firmeza e lealdade ao mestre espiritual — guru-niṣṭhā. Gurudeva sempre dizia:
guru-pāda-padme rahe jāra niṣṭhā-bhakti
jagat tārite sei dhare mahā-śakti
Āśraya Kôriyā Vandõ (11)
[Aquele que se apega aos pés de lótus do guru com devoção firme, carrega consigo o grande poder de libertar o mundo.]
Niṣṭhā significa firmeza, constância. Guru-niṣṭhā é o foco exclusivo e a devoção resoluta a Śrī Gurudeva. Tanto guru-niṣṭhā quanto guru-bhakti — a devoção amorosa ao mestre espiritual — são a espinha dorsal de nossas práticas espirituais, bhajana e sādhana.
Quando recebeu sannyāsa, a ordem de vida renunciada, de Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Prabhupāda, ele foi nomeado Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja. “Śrī” refere-se a Lakṣmī — e a sarva-lakṣmī, a suprema entre todas as Lakṣmīs, é Śrīmatī Rādhikā. “Dhara” significa “aquele que sustenta” ou “aquele que guarda”. Assim, o significado perfeito do nome Śrīdhara é “aquele que guarda em seu coração todo o amor divino de Śrīmatī Rādhikā”. Já “Bhakti Rakṣaka” significa “aquele que protege a bhakti, o serviço devocional, no coração de todos os seres vivos”.
Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja também compôs muitos ślokas (versos) e granthas (textos sagrados) em sânscrito. Em especial, ele glorificou nitya-līlā-praviṣṭa oṁ viṣṇupāda aṣṭottara-śata Śrī Śrīmad Bhaktisiddhānta Sarasvatī Prabhupāda em onze ślokas, conhecidos como Śrī Prabhupāda-padma-stavakah, a glorificação de Prabhupāda. Todos os dias, logo pela manhã, após o canto do Śrī Gurvaṣṭakam, cantamos e glorificamos Prabhupāda com o Prabhupāda-daśakam:
sujanārbuda-rādhita-pāda-yugaṁ
yuga-dharma-dhurandhara-pātra-varam
varadābhaya-dāyaka-pūjya-padaṁ
praṇamāmi sadā prabhupāda-padam
Śrī Prabhupāda-padma-stavakaḥ (1)
[Seus dois pés de lótus são adorados por um número ilimitado de pessoas santas, e ele é a personalidade mais competente para liderar o processo de realização nesta era, nāma-saṅkīrtana. Seus adoráveis pés de lótus concedem todos os tipos de bênçãos e destemor. Ofereço para sempre praṇāma aos pés de Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura Prabhupāda.]
Belíssimo! Esses versos em sânscrito foram compostos segundo a métrica poética clássica, o chanda. Śrīla Bhaktisiddhānta Prabhupāda também é glorificado como uma bela lua cheia, enquanto seus discípulos são comparados aos raios da lua e às muitas estrelas que a cercam:
nija-sevaka-tāraka-rañji-vidhuṁ
vidhutāhita-huṅkṛta-siṁha-varam
varaṇāgata-bāliśa-śanda-padaṁ
praṇamāmi sadā prabhupāda-padam
Śrī Prabhupāda-padma-stavakaḥ (4)
[Ele é a agradável lua para suas estrelas servas, e com a excelência de um leão rugindo, afasta as pessoas inimigas (fazendo-as fugir de medo). Ao buscar o abrigo de seus pés, os inocentes alcançam auspiciosidade. Ofereço praṇāma eternamente aos pés de Śrīla Prabhupāda.]
São onze ślokas ao todo, mas o quarto é especialmente belo, pois glorifica Śrīla Bhaktisiddhānta Prabhupāda e todos os seus discípulos. Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja também compôs o magnífico Śrī Prema-dhāma-deva-stotra. Kṛṣṇa desceu de Goloka Vṛndāvana para Navadvīpa-dhāma para saborear três aspectos do amor de Śrīmatī Rādhikā, e Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja os glorifica assim:
śrī-rādhāyāḥ praṇaya-mahimā kīdṛśo vānayaivā-
svādyo yenādbhuta-madhurimā kīdṛśo vā madīyaḥ
saukhyaṁ cāsyā mad-anubhavataḥ kīdṛśaṁ veti lobhāt
tad-bhāvāḍhyaḥ samajani śacī-garbha-sindhau harīnduḥ
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā 1.6)
[Desejando compreender a glória do amor de Śrīmatī Rādhārāṇī (praṇaya-mahimā), as qualidades maravilhosas em Si mesmo que somente Ela saboreia por meio de Seu amor (adbhuta-madhurimā), e a felicidade (saukhyaṁ) que Ela sente ao perceber a doçura do amor dEle, o Senhor Supremo Hari, ricamente imbuído das emoções dEla, apareceu do ventre de Śrīmatī Śacī-devī, assim como a lua surgiu do oceano.]
Kṛṣṇa Se perguntou: “Quais são as glórias do amor divino de Śrīmatī Rādhikā?” Em segundo lugar, pensou: “O que há em Minha beleza que Śrīmatī Rādhikā está sempre saboreando?” E, em terceiro: “Quando Śrīmatī Rādhikā aprecia Minha beleza, que sentimentos surgem em Seu coração?” Por essa razão, Kṛṣṇa desceu de Goloka Vṛndāvana para Navadvīpa-dhāma na forma de Sacinandana Gaurahari, assumindo duas qualidades de Śrīmatī Rādhikā: Sua tez e Seu humor.
Pujyapāda Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja explicou que, quando Kṛṣṇa desceu de Goloka Vṛndāvana, foi Śrīmatī Rādhikā quem cobriu completamente Seu corpo. A tez de Śrīmatī Rādhikā, na verdade, não é diferente da própria Śrīmatī Rādhikā — deha dehi bheda nāsti (não há distinção entre o corpo e o dono). Śrīmatī Rādhikā envolveu completamente o corpo de Kṛṣṇa porque pensava: “Somente Eu posso suportar o estágio de mahā-bhāva-dāśā, o Meu Amado não pode.”
Assim, Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja apresentou muitos tattva-siddhāntas, conclusões filosóficas e evidências, baseados nos śāstras e Purāṇas, de forma semelhante a Śrīla Gour Govinda Gosvāmī Mahārāja, que também expôs inúmeros exemplos e tattva-siddhāntas extraídos de diversos śāstras. Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja também compôs um grantha muito belo chamado O Vulcão Dourado do Amor Divino. Todos devem ler esse livro, pois por meio dele compreenderão por que Kṛṣṇa desceu de Goloka Vṛndāvana para este mundo material na forma de Sacinandana Gaurahari.
Seguindo os passos de um santo
Todos os discípulos de Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Prabhupāda eram muito eruditos. Quando nitya-līlā-praviṣṭa oṁ viṣṇupāda aṣṭottara-śata Śrīla Bhaktivedānta Svāmī Mahārāja partiu deste mundo material, muitos de seus discípulos refugiaram-se aos pés de lótus de Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja e ouviram seu hari-kathā. Assim, ele continuou a pregação. Creio que ele não tenha visitado os países ocidentais, mas milhares de devotos ocidentais refugiaram-se aos seus pés de lótus. Assim como as abelhas são automaticamente atraídas pelo florescer do lótus, esses devotos também foram atraídos por ele.

A maioria dos discípulos de Śrīla Bhaktisiddhānta Prabhupāda era muito erudita e estudiosa, e pregou por todo o mundo. Outro exemplo é Śrīla Bhakti Pramoda Pūrī Gosvāmī Mahārāja. Creio que ele também não tenha vindo ao Ocidente, mas possuía milhares de discípulos e muitos templos espalhados pelo mundo. Portanto, o que importa não é quem veio ou não aos países ocidentais, mas sim como as pessoas são atraídas pelo seu hari-kathā e tattva-siddhānta. Além disso, Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Mahārāja tinha muito amor e afeição por todos os devotos.
Os Vaiṣṇavas nunca discriminam dizendo: “Este é meu discípulo, aquele é seu discípulo”. Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Prabhupāda costumava dizer: “Eu não fiz nenhum discípulo”. Ele era extremamente humilde e, em seu hari-kathā, dizia que o público presente era seu vipat-tāraṇa bandhu — ou seja, seus amigos que o protegiam do perigo. Por conta de sua humildade, dainya, ele expressava: “A audiência está presente, por isso estou falando hari-kathā, e assim, estou protegido de māyā.” Essa é a verdadeira humildade.
Quando não falamos hari-kathā, māyā, a energia ilusória do Senhor, inevitavelmente se aproxima. Agora, estamos todos aqui, ouvindo hari-kathā, mas se não houvesse essa palestra, māyā-kathā — assuntos mundanos — começaria automaticamente. Vocês logo pegariam seus celulares e começariam a conversar no Facebook. A esse respeito, Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Prabhupāda costumava dizer: “Quando você ouve hari-kathā na companhia de um sādhu (santo), está protegido de māyā.” E acrescentava: “O guru não forma discípulos; ele forma gurus.” Um professor na escola ou na universidade ensina seus alunos com o objetivo de que, um dia, também se tornem professores. Da mesma forma, um guru forma gurus. Śrīla Bhaktisiddhānta Prabhupāda formou muitos gurus, e todos eles pregaram pelo mundo, difundindo a mensagem do Senhor Caitanya Mahāprabhu.
Certa vez, em uma palestra, Śrīla Bhaktisiddhānta Prabhupāda disse: “Se eu tivesse dinheiro, compraria um avião.” Alguém então perguntou: “Por que o senhor gostaria de um avião?” Prabhupāda respondeu: “Porque assim eu poderia espalhar rapidamente a mensagem de Caitanya Mahāprabhu de um canto a outro do mundo.” O próprio Senhor Caitanya Mahāprabhu previu:
pṛthivīte āche yata nagarādi grāma
sarvatra pracāra haibe mora nāma
Caitanya-bhāgavata (Antya-khaṇḍa, 4.126)
[“Em todas as cidades, vilas e aldeias que existirem na superfície da Terra, Meus santos nomes serão pregados e cantados.”]
Podemos perceber que todos os discípulos de Śrīla Bhaktisiddhānta Prabhupāda são altamente qualificados. Eles são nitya-parikaras — companheiros eternos do Casal Divino, Rādhā e Kṛṣṇa. O verso a seguir descreve o nosso guru-paramparā (linhagem contínua e ininterrupta de mestres espirituais):
kṛṣṇa hôite catur-mukha, haya kṛṣṇa-sevonmukha,
brahmā hôite nāradera mati
nārada hôite vyāsa, madhva kahe vyāsa-dāsa,
pūrṇaprajña padmanābha-gati
Śrī Guru-paramparā (1)
[No início da criação, Śrī Kṛṣṇa falou a ciência do serviço devocional ao Senhor Brahmā. Ele, por sua vez, transmitiu esses ensinamentos a Śrī Nārada Muni, que aceitou Śrī Kṛṣṇa Dvaipāyana Vyāsadeva como seu discípulo. Śrī Vyāsa transmitiu esse conhecimento a Śrī Madhvācārya, também conhecido como Pūrṇaprajña Tīrtha, que é o único refúgio de seu discípulo, Śrī Padmanābha Tīrtha.]
Nosso guru-paramparā tem ínicio com Madhavendra Purīpāda, que é o broto do amor divino, premāṅkūra. Em seguida, vem Īśvara Purīpāda, Śrī Caitanya Mahāprabhu, Rūpa Gosvāmīpāda, Sanātana Gosvāmīpāda, Raghunātha dāsa Gosvāmī, Narottama, Śyāmānanda, Śrīnivāsa e Jīva Gosvāmīpāda.
Em seguida, temos Śrīla Gaurakiśora dāsa Bābājī Mahārāja, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura e Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Prabhupāda. Depois, todo o nosso guru-varga: Śrīla Bhaktivedānta Svāmī Mahārāja, Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja, Śrīla Bhakti Pramoda Pūrī Gosvāmī Mahārāja, Śrīla Bhakti Vaibhava Pūrī Mahārāja e Śrīla Bhakti Prajnāna Keśava Gosvāmī Mahārāja. Dessa forma, muitos ramos e sub-ramos, śākhā e upaśākhā, se manifestaram.
Por fim, temos Śrīla Gurudeva, Bhaktivedānta Nārāyaṇa Gosvāmī Mahārāja, que, junto com todo o nosso guru-varga, espalhou a mensagem do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Isso ocorreu porque Mahāprabhu infundiu o mais elevado prema, amor puro, de Goloka Vṛndāvana no coração de Rūpa Gosvāmī.
anarpita-carīṁ cirāt karuṇayāvatīrṇaḥ kalau
samarpayitum unnatojjvala-rasāṁ sva-bhakti-śriyam
hariḥ puraṭa-sundara-dyuti-kadamba-sandīpitaḥ
sadā hṛdaya-kandare sphuratu vaḥ śacī-nandanaḥ
Śrī Caitanya-caritāmṛta (Antya-līlā, 1.132)
[Que o Supremo Senhor, conhecido como o filho de Śrīmatī Śacīdevī, esteja transcendentalmente situado no íntimo do seu coração. Resplandecente com o brilho do ouro derretido, Ele desceu na era de Kali por Sua misericórdia sem causa para conceder o que nenhuma encarnação jamais ofereceu antes: o mais elevado sabor do serviço devocional, o sabor do amor conjugal.]
Śrīla Rūpa Gosvāmī compôs este verso, revelando o amor mais elevado que os mestres em nosso guru-paramparā estão distribuindo, algo que o próprio Śrī Caitanya Mahāprabhu disse não poder conceder sozinho.
O prema que o Senhor distribuiu não foi o de Vaikuṇṭha, Ayodhyā, Dvārakā ou Mathurā, mas sim o de Goloka Vṛndāvana, que é o mais elevado de todos, e que é raro até mesmo para Brahmāji alcançar — brahmāra durlabha prema sabākāre jāce. Pode surgir a pergunta: “Qual é esse amor tão raro e secreto que Ele difundiu?” Trata-se do mañjarī-bhāva, um sentimento muito confidencial. Antes da vinda de Mahāprabhu, poucos conheciam essa filosofia, mas Ele a revelou e compartilhou com todos.
Todos os nossos Gosvāmīs em nosso guru-varga são muito próximos e queridos por Śrīmatī Rādhikā. Rūpa Gosvāmī é Rūpa Mañjarī, Jīva Gosvāmī é Vilāsa Mañjarī, Sanātana Gosvāmī é Lavan̄ga Mañjarī, Raghunātha dāsa Gosvāmī é Rati Mañjarī, Śrīla Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja é Vinoda Mañjarī, e Śrīla Gurudeva, Bhaktivedānta Nārāyaṇa Gosvāmī Mahārāja, é Ramana Mañjarī. Mahāprabhu distribuiu o prema mais elevado, jamais antes compartilhado.
Hoje, portanto, ofereço minhas reverências a Śrīla Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja e oro para que ele nos abençoe, para que, um dia, possamos compreender essa filosofia suprema e servir a seus pés de lótus.
Jaya nitya-līlā-praviṣṭa oṁ viṣṇupāda aṣṭottara-śata Śrī Śrīmad Bhakti Rakṣaka Śrīdhara Gosvāmī Mahārāja ki jaya!
Jaya jaya Śrī Rādhe!
Tradução: Induprabhā devī dāsī
Edição: Acyuta-priyā devī dāsī
Revisão: Taruṇī-gopī dāsī


