As glórias de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
- Vana Madhuryam Brasil
- 5 de set.
- 13 min de leitura

Śrīla Bhaktivedānta Vana Gosvāmī Mahārāja
3 de Setembro de 2017, Delhi, Índia
Hoje é o auspicioso dia do advento de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, que nos legou uma riqueza inestimável de śuddha-bhakti, o serviço devocional puro a Deus. Ele é conhecido como o Bhagīratha da bhakti pura, pois, assim como Bhagīratha trouxe as águas do Ganges do mundo espiritual para o mundo material, fluindo do Gaṅgotri até o oceano, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura trouxe para nós as águas do Ganges de śuddha-bhakti.
O significado da concha
Quando se assopra uma concha (śaṅkha), toda negatividade simplesmente desaparece. Observam-se duas qualidades ao tocar a concha: primeiro, o som que ela produz destrói os maus auspícios; segundo, a concha simboliza vijaya, a vitória da vidyā (conhecimento) sobre avidyā (ignorância). O Senhor Viṣṇu carrega sempre uma concha em Sua mão.
Vocês entendem o significado de vitória? Nós somos almas condicionadas, submetidas à influência dos três modos da natureza material. Mas aquele que se abriga em Deus, Viṣṇu, torna-se vitorioso e capaz de superá-los. Além disso, quando Śrī Rādhā e Govinda se encontram em um kuñja (bosque), um aroma maravilhoso emana de Seus corpos, e esse aroma também destrói todas as impurezas, de maneira semelhante ao efeito da vibração da concha. Esses são alguns dos motivos pelos quais assopramos a concha após o ārati (adoração à Deidade). A importância da concha também é mencionada nos textos sagrados Śrī Govinda-līlāmṛta e Śrī Kṛṣṇa-bhāvanāmṛta.
Em nossos śāstras védicos, tudo o que é mencionado possui dois aspectos: um é a abordagem material ou científica de compreender o mundo, e o outro é o aspecto espiritual. Do ponto de vista científico, assoprar a concha faz com que todas as coisas negativas neste mundo material simplesmente desapareçam. Sob a perspectiva espiritual, ela representa o milana, encontro, de Rādhā e Kṛṣṇa, razão pela qual sempre se deve tocar a concha durante o brāhma-muhūrta (período auspicioso antes do nascer do sol). Na Bengala, as pessoas assopram a concha todas as manhãs, de modo que seu som se faz presente constantemente.
Na maior parte do mundo e também no norte da Índia, as pessoas guardam conchas nos templos ou em suas casas, mas raramente as assopram. Na verdade, a maioria nem sequer sabe como tocá-las da maneira apropriada, exceto na Bengala, onde você verá todos assoprando a śaṅkha. Em todas as casas, é possível ouvir o som da concha todas as manhãs, o que representa auspiciosidade, pois Lakṣmī-devī está entrando no lar. No passado, a concha também era tocada no início das guerras, servindo como estandarte antes das batalhas.
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura possuía um pensamento muito imaculado. Ele veio a este mundo como o Ganges puro, sem quaisquer obstruções, fluindo diretamente do Gaṅgotri. Quando ele falava sobre o dharma, era como se emanasse a fragrância dos encontros entre Rādhā e Kṛṣṇa, semelhante ao aroma de uma flor de lótus.
A integridade e a transparência de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
bhakativinoder doya koro vichar
vichar kore le chite pave chamatkar
[Mergulhe profundamente na misericórdia de Bhaktivinoda Ṭhākura. Assim, seu coração se encherá de alegria.]
Quaisquer glorificações de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura são puras, e elas constituem a vida e a alma dos Gauḍīya Vaiṣṇavas. Ele é o pregador original, bem como o promotor proeminente das instruções do Gauḍīya Vaiṣṇavismo.
Quando todos os companheiros (parikaras) do Senhor Caitanya Mahāprabhu — como os Gosvāmīs — se tornaram aprakaṭa (não manifestos), ou seja, quando deixaram este mundo material, surgiu uma grande lacuna: já não havia nenhum Gauḍīya Vaiṣṇava proeminente acessível ao mundo. Por essa razão, aquele período é conhecido como uma era de escuridão para os Gauḍīya Vaiṣṇavas, em que não havia pregadores ou ācāryas, mestres espirituais, presentes. Após esse tempo de provação, Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura misericordiosamente adveio a este mundo. Mas o que exatamente foi essa “escuridão”? As pessoas não conheciam a filosofia (vicāra) do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Após a partida dos Gosvāmīs, houve um longo período em que muitos se desviaram das instruções de Śrī Caitanya.
Desde a época de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, na Bengala, existem muitos sahajiyās — imitadores que manifestam artificialmente os sintomas dos humores das gopīs. Eles dizem: “Você pode continuar cantando harināma e, ao mesmo tempo, comer o que quiser: seja alimentos não vegetarianos, bebidas alcoólicas, ou qualquer outra coisa; faça apenas o que tiver vontade.” Entretanto, naquela época, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura refutou esses argumentos afirmando: “Não! O que quer que vocês comam influenciará a forma como vocês pensam.”
Ele instruiu que não se deve comer alimentos não vegetarianos nem consumir álcool. É essencial compreender que, para ponderar com clareza, é necessário ingerir alimentos puros. Tudo o que vocês comem certamente influencia a forma como suas mentes funcionam. Por exemplo, ao consumir alimentos tāmasika, no modo da ignorância, a pessoa naturalmente adquire uma mentalidade desse mesmo modo. Por isso, é de grande importância alimentar-se de forma adequada, para que possamos manter o estado mental correto e, assim, meditar apropriadamente no Senhor.
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura não é uma personalidade comum. Na sua autobiografia, ele mencionou que, nos passatempos eternos de Rādhā e Kṛṣṇa, ele é ninguém menos que Kamala Mañjarī. É importante compreender que nem todo ācārya revela sua forma eterna, e alguns nem sequer falam sobre isso. No entanto, Bhaktivinoda Ṭhākura revelou sua identidade eterna e descreveu que, nessa forma, ele se veste com roupas adornadas com pedras preciosas e realiza kapūra-sevā — isto é, oferece cânfora em serviço ao Casal Divino, Rādhā e Kṛṣṇa.
Pouquíssimas pessoas conhecem a forma eterna de todos os nossos ācāryas; contudo, Bhaktivinoda Ṭhākura, em sua misericórdia, revelou abertamente a sua própria forma. Ele não é apenas um sādhaka, nem uma pessoa comum. Ainda assim, em sua naravata-līlā, passatempos humanos, ele desempenhou o papel de magistrado distrital e tornou-se muito influente e renomado devido à sua posição. Naquela época, a Índia estava sob o domínio rígido do Império Britânico, com muitas restrições e leis severas. Antes, as pessoas não precisavam pagar impostos, mas o governo britânico os impunha à força, enviando toda a arrecadação de volta para a Inglaterra, sem reinvesti-la na Índia. Durante o período de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, a Bengala era governada pelos britânicos, e ele ocupava o cargo de magistrado distrital nessa administração. Materialmente, ele era muito próspero.
Expondo o suposto Bhagavan
Na época de Bhaktivinoda Ṭhākura, havia um yogī, ou bābā, chamado Biṣakiṣen, que se assemelhava a Baba Ram Rahim, conhecido hoje por afirmar ser Deus. Naquela época, ele desafiou abertamente o governo inglês, declarando que iria matar todos os britânicos e remover sua autoridade de toda a Índia. Além disso, ele proclamou: “Porque eu sou Deus, Kṛṣṇa, realizarei a rāsa-līlā.” E em resposta às suas afirmações, o governo britânico emitiu uma ordem de Londres para investigá-lo.
Esse impostor tinha cabelos longos e apresentava-se como um yogī possuidor de muitos poderes místicos. As pessoas o visitavam e ficavam impressionadas com sua conduta aparente. Ele possuía até a habilidade de hipnotizar e manipular mulheres. Ele as desafiava dizendo: “Eu sou o Senhor”, e afirmava que elas eram mulheres de famílias proeminentes que haviam ido até ele para participar da dança da rāsa. Hoje, muitas pessoas são ignorantes quanto ao que os śāstras descrevem sobre as características do Senhor, e uma das qualidades de Bhagavan é que Ele nunca possui barba. Algumas pessoas podem ter algum conhecimento sobre tantras e mantras, mas, ainda assim, ao se depararem com esse bābā, acreditaram que ele era Deus.
Por fim, Bhaktivinoda Ṭhākura cruzou o caminho de Biṣakiṣen e teve muitas discussões em desavença com ele. Bhaktivinoda Ṭhākura disse: “Você não é Deus; é um impostor. Não é apropriado que você se envolva com mulheres ou se compare ao Senhor Kṛṣṇa, imitando a rāsa-līlā.” Ainda assim, Biṣakiṣen respondeu: “Assim como Kṛṣṇa realiza a dança da rāsa, eu também farei. Primeiro, irei realizá-la durante a pūrṇimā (lua cheia), e depois, com meu cakra especial, matarei todos os britânicos e os expulsarei deste país.” Dessa forma, ele tentou comparar suas posses com o sudarśana-cakra (disco) de Kṛṣṇa.
Em resposta à sua desobediência, Bhaktivinoda Ṭhākura, com o auxílio do exército britânico, capturou Biṣakiṣen. Como yogī, ele possuía vários tipos de ṛddhi-siddhi (poderes místicos), sendo capaz de transformar seus cabelos em chamas, por exemplo. Ainda assim, Bhaktivinoda Ṭhākura, sendo um siddha-mahāpuruṣa, agarrou sem dificuldade os dreadlocks incandescentes de Biṣakiṣen com as próprias mãos, sem se queimar. Em seguida, deu-lhe um tapa e cortou seus cabelos sem auxílio algum. Os soldados britânicos, temendo se queimar com o fogo, fugiram apavorados, mas Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, destemidamente, cortou os cabelos de Biṣakiṣen e os lançou de lado, antes de enviá-lo à prisão.
Bhaktivinoda Ṭhākura tinha plena autoridade concedida pelo governo britânico para decidir o destino daquele yogī, e desejava que ele passasse o resto da vida na prisão. No entanto, mesmo encarcerado, ele continuava usando seus poderes místicos para influenciar as pessoas. Muitos de seus seguidores exigiram que ele fosse libertado, mas Bhaktivinoda Ṭhākura respondeu firmemente: “Não, ele é um criminoso e deve ser punido.” Esse caso lembra o de Ram Rahim, que atualmente também se encontra preso.
Bhaktivinoda Ṭhākura tinha a responsabilidade de proferir a sentença no tribunal. No dia do julgamento, ele sofreu com dor de estômago, causada pelo fato de Biṣakiṣen, que conhecia ṛddhi-siddhi e o canto de mantras tântricos, ter realizado essas práticas enquanto estava na prisão, afetando todos os envolvidos no processo. Apesar das fortes dores no corpo e no estômago, Bhaktivinoda Ṭhākura cumpriu seu dever e foi ao tribunal para proferir a sentença.
Na Índia, uma pessoa que comete um crime similar a este geralmente é condenada a muitos anos de prisão e, da mesma forma, Biṣakiṣen recebeu uma sentença longa e foi obrigado a realizar trabalhos pesados. Normalmente, cidadãos que trabalham duro precisam suportar grande esforço apenas para conseguir comer dois roṭīs (pães) à noite, obtendo suas refeições com muita dificuldade, enquanto uma pessoa presa, como Ram Rahim Baba, pode viver confortavelmente sem tanto esforço.
Assim, Bhaktivinoda Ṭhākura se certificou de que Biṣakiṣen tivesse um aprisionamento rigoroso, sendo obrigado a realizar um trabalho pesado. Em alguns países bárbaros, os criminosos chegam a ser enforcados em público, mas Biṣakiṣen permaneceu preso por 40 dias e, então, faleceu.
As contribuições eternas de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
Embora Bhaktivinoda Ṭhākura ocupasse a posição de magistrado, ele costumava cantar diariamente uma lakha (64 voltas) de harināma. Após cumprir suas obrigações, ele visitava vilas próximas para pregar śuddha-harināma, os nomes puros do Senhor. Naquela época, havia várias apasampradāyas (grupos pseudo-devocionais) na Bengala, e ele se dedicava a erradicá-las, oferecendo harināma às pessoas e demonstrando o poder de entoar o śuddha-nāma. Dessa forma, Bhaktivinoda ensinava a filosofia do Senhor Caitanya Mahāprabhu, reunindo-se com todos à noite para realizar belos kīrtanas juntos.
Para pregar os santos nomes, Bhaktivinoda Ṭhākura viajava de vila em vila montado em um cavalo. Certa vez, ele cavalgava por um pequeno caminho na selva, rumo à sua casa; estava escuro como breu e ele mal conseguia enxergar, havendo apenas vagalumes para iluminar o trajeto. Tudo estava muito silencioso, e ele só podia ouvir o som das corujas e dos cascos do cavalo. A cerca de 150 metros de distância, ele percebeu o fraco som de uma garota chorando. Bhaktivinoda Ṭhākura se aproximou e encontrou uma menina jovem sentada debaixo de uma árvore, e perguntou: “Quem é você? Por que está aqui chorando à meia-noite?”
A menina então se revelou a ele e disse: “Eu sou Māyā-devī, e é meu dever manter as pessoas sob ilusão. No entanto, agora que você está pregando os santos nomes, todos estão entoando śuddha-nāma, e meu efeito ilusório sobre eles diminuiu. Por isso, sinto-me mal e estou chorando.” Quanto mais alguém entoa os santos nomes puros, mais Māyā se afasta. Ela pediu a Bhaktivinoda Ṭhākura: “Por favor, não pregue harināma.” Mas ele respondeu: “Isso não é possível para mim; eu preciso pregar as glórias dos santos nomes puros.”
Hare Kṛṣṇa Hare Kṛṣṇa
Kṛṣṇa Kṛṣṇa Hare Hare
Hare Rāma Hare Rāma
Rāma Rāma Hare Hare
Na autobiografia de Bhaktivinoda Ṭhākura está registrado como ele estabeleceu nāma-hatta e pregou as glórias de śuddha-nāma. Ele também pregou contra os maus hábitos alimentares das pessoas e o consumo de álcool. Bhaktivinoda Ṭhākura explicava que é impossível manter a mente pura enquanto se consome alimentos impuros. Na época, a pregação comum dizia: “coma o que quiser, inclusive peixe, apenas cante harināma e mantenha o corpo saudável; pois, se o corpo não estiver forte, como conseguirá cantar os santos nomes?” Mas Bhaktivinoda Ṭhākura afirmava: “Não, sua alimentação deve ser pura. Só assim a consciência será purificada, e então você conseguirá ouvir bhagavat-katha, as narrativas sobre o Senhor, adequadamente.”
Bhaktivinoda Ṭhākura visitou diversas vilas, estabeleceu nāma-hatta e promoveu śuddha-nāma. Com o tempo, os smārta-brāhmaṇas e líderes de outras apasampradāyas perceberam que seu controle sobre a região estava diminuindo e, em resposta, se uniram contra ele. Mesmo assim, Bhaktivinoda Ṭhākura continuou firme em sua missão.
kṛṣṇera saṁsāra karô chāḓi’ anācāra
jīve dayā, kṛṣṇa-nāma—sarva-dharma-sāra
Canção Nadīyā-godrume (4), de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
[“Abandone todos os comportamentos pecaminosos e viva sua vida tendo Kṛṣṇa ao centro de tudo. A essência de todas as formas de religião é demonstrar compaixão por todos os seres vivos e cantar os santos nomes de Kṛṣṇa.”]
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura promoveu com grande êxito o estabelecimento do kṛṣṇa-samsara (vida centrada em Kṛṣṇa), mostrando como todas as famílias e lares devem ter Kṛṣṇa como centro. Este mundo, assim como tudo e todos que nele existem, pertence a Kṛṣṇa, e não a nós. Essa é a essência de todos os Vedas e demais textos sagrados.
Ele também manifestou muitos granthas (livros), cerca de quatrocentos ao todo! Nenhum ācārya anterior havia produzido tantos. Para nós, escrever apenas um grantha exige grande esforço e energia, mas Bhaktivinoda Ṭhākura produziu todos esses livros, além de inúmeras orações. As almas liberadas possuem imensa energia e podem realizar muito neste mundo justamente por causa de seu estado não condicionado.
Há duas contribuições proeminentes de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura. A primeira, e mais evidente, foi ele ter trazido ao mundo Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura Prabhupāda, que, em seus passatempos eternos em Goloka Vṛndāvana, não é outro senão Nayana Mañjarī. Ele a manifestou neste mundo pois, para que a pregação continue, é necessário que surjam personalidades da mesma categoria. Certa vez, Rādhajī disse a Kamala Mañjarī, que é Bhaktivinoda Ṭhākura: “Continue pregando śuddha-nāma, e Eu te enviarei Minha própria Nayana Mañjarī para dar continuidade ao processo de entoar dos santos nomes puros.”
A segunda contribuição de Bhaktivinoda Ṭhākura foi a manifestação do Yogapīṭha. Na época dele, a área estava completamente ocupada por mulçumanos e havia até sido transformada em um cemitério. Graças aos esforços de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, o Yogapīṭha foi redescoberto. Quando ele visitou o local pela primeira vez, percebeu que os mulçumanos haviam ocupado todos os lugares que antes eram templos hindus e até alterado o nome de Māyāpura para Miyapur.
Quando se aposentou do cargo de magistrado distrital, Bhaktivinoda Ṭhākura disse: “Irei para um lugar isolado em Vṛndāvana e lá continuarei meu bhajana.” No caminho, ele parou em um templo na Bengala chamado Tarakesvara, onde Śivajī lhe concedeu seu darśana (visão auspiciosa) e instruiu: “Você é uma alma liberada que veio a este mundo para propagar os santos nomes puros e estabelecer Gaura-dhāma. Sua missão, designada por Kṛṣṇa, é retornar a Navadvīpa. Não vá para Vṛndāvana; volte e pregue as glórias de śuddha-nāma e estabeleça o Yogapīṭha.” Naquela época, as pessoas já haviam esquecido o que era, de fato, o Yogapīṭha. Assim, após receber o darśana e as instruções de Śivajī, Bhaktivinoda Ṭhākura decidiu retornar a Navadvīpa.
Há um grande templo dedicado a Śivajī chamado Taraknath, onde as pessoas vão com o propósito de terem seus desejos satisfeitos. Quando eu era garoto, visitei esse templo, onde havia uma Śiva-liṅga semelhante à encontrada no templo de Gopīśvara Mahādeva. Ao despejar água sobre a liṅga, se fosse ouvido um som borbulhante, significava que Śiva havia aceitado o pedido e o desejo seria realizado. Naquela ocasião, também ofereci água sobre a liṅga, embora não tivesse nenhum desejo material a cumprir. Ainda assim, ouvi o som borbulhante e a água penetrou na liṅga. Naquela época, eu não sabia que Bhaktivinoda Ṭhākura havia passado uma noite naquele mesmo templo e que Śivajī lhe havia concedido darśana, instruindo-o: “Você deve estabelecer o local de nascimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu.” Mais tarde, ao ler a biografia de Bhaktivinoda Ṭhākura e ouvir os relatos do nosso Gurudeva e de outros ācāryas, compreendi que ele havia visitado justamente aquele mesmo templo de Tarakesvara.
Certa noite, em Godruma, Bhaktivinoda Ṭhākura estava cantando harināma em voz alta em sua casa quando notou, do outro lado do Ganga (onde hoje está o Yogapīṭha), uma luz radiante iluminando toda a área. Ele então viu o Pañca-tattva realizando um kīrtana extático, com mṛdaṅgas e karatālas. Śrīla Bhaktivinoda contemplou essa visão transcendental do telhado de sua casa em Godruma. Na manhã seguinte, ao visitar o local, encontrou apenas plantas de tulasī crescendo ali — o que era incomum, pois os muçulmanos não utilizam tulasīs.
Então, Bhaktivinoda Ṭhākura perguntou a um dos moradores: “Vocês são muçulmanos e não têm necessidade dessa planta. Por que, então, cultivam tulasī aqui?” O homem respondeu: “Nós não a cultivamos. Plantamos sementes de várias outras plantas, mas nada cresce. Apenas tulasī brota espontaneamente.” Havia um cemitério próximo, e ele acrescentou: “Ali nada floresce, mas nesta área, de uns vinte e cinco metros quadrados, só nasce tulasī e nada mais.”
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura encomendou um mapa antigo de Londres que fazia parte de uma coleção levada pelos britânicos da Índia, juntamente com todos os outros mapas do país. Como ele havia sido magistrado distrital, solicitou que esses mapas fossem enviados a ele. Os mapas tinham cerca de 300 anos. Ao recebê-los, Bhaktivinoda Ṭhākura percebeu que aquele realmente era o local de nascimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu.
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura pediu a Jagannātha Dāsa Bābājī Mahārāja, que se encontrava em Vṛndāvana, que confirmasse a localização. Naquela época, Jagannātha Dāsa Bābājī Mahārāja tinha 144 anos e precisou ser carregado até o local por seu próprio sevaka, servo, em uma cesta. Sua tarefa era estabelecer aquele ponto como o local de nascimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Quando chegou a Māyāpura, apesar da idade avançada, ele miraculosamente saltou da cesta e começou a dançar, confirmando que aquele era de fato o local de nascimento de nosso Gaurahari. Após a confirmação de Jagannātha Dāsa Bābājī Mahārāja, todos aceitaram. No entanto, quem controlava aquela área era ainda os muçulmanos.
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura então recorreu a Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura Prabhupāda para resolver a questão, e ele designou a tarefa a Vinoda-bihārī Brahmacārī. Essa līlā específica, do estabelecimento do local de nascimento de Gaurasundara, foi realizada pelos esforços conjuntos de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, Śrīla Bhaktisiddhānta Prabhupāda e Vinoda-bihārī Brahmacārī, que, como responsável pela administração da propriedade de Prabhupāda, precisou confrontar os muçulmanos de forma rigorosa para que pagassem os impostos corretamente, pois na época eles não o faziam.
Certa noite, Vinoda-bihārī Brahmacārī retirou todos os ossos dos túmulos naquela área sagrada e os levou para o Ganges. Em seguida, transformou o local em um jardim, removendo todas as sepulturas durante a noite e plantando árvores grandes, como mangueiras, jaqueiras e coqueiros. Na manhã seguinte, muitas pessoas se reuniram, e a notícia de como os hindus haviam coberto o antigo cemitério dos muçulmanos se espalhou. Então, Parama-gurudeva, Śrīla Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja — que na época era conhecido como Vinoda-bihārī Brahmacārī — ordenou que todos se retirassem.
Os muçulmanos então relataram à polícia: “Vejam, eles tomaram nossas terras.” Vinoda-bihārī Brahmacārī respondeu: “Que terras suas foram tomadas?” Eles insistiram: “Nosso cemitério.” Quando a polícia chegou para verificar, os muçulmanos indicaram a área como sendo seu cemitério, mas Parama-gurudeva já havia plantado árvores enormes ali. Ele então disse: “Isso não é um cemitério. Vocês veem algum túmulo? Essas árvores cresceram aqui há muitos anos. Eles estão mentindo.” Como resultado, os muçulmanos foram severamente repreendidos e espancados pela polícia, sem outra opção senão fugir.
Graças aos esforços de Vinoda-bihārī Brahmacārī, Śrīla Bhaktisiddhānta Prabhupāda pôde estabelecer um belo templo naquele local, hoje conhecido como Yogapīṭha. Se não fosse por Śrīla Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja, os muçulmanos ainda estariam ocupando a área, e Māyāpura continuaria a ser chamada de Miyapur.
Concluindo, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura era um Vaiṣṇava puro que ajudou a estabelecer Gaura-dhāma e o gaura-nāma, representando algumas de suas contribuições mais importantes à filosofia Gauḍīya Vaiṣṇava. Hoje celebramos o dia do seu advento, pois, sem sua presença e misericórdia, não teríamos conhecimento sobre Navadvīpa, visto que ele também nos deixou o livro Navadvīpa-dhāma-mahatmya.
Para complementar, Śrīla Bhaktivedānta Svāmī Mahārāja fundou o templo da ISKCON, e sem sua aparição, a pregação mundial do Senhor não teria se espalhado. Seguindo seus passos, nosso Gurudeva, Śrīla Bhaktivedānta Narayana Gosvāmī Mahārāja, deu continuidade a essa missão.
Bolo Gurudeva kī jaya!
Jaya Jaya Śrī Rādhe!
Bolo Bhaktivinoda Ṭhākura kī jaya!
Tradução: Indu-mohinī devī dāsī (AL)
Verificação de integridade: Līlā-govinda dāsa (MG)
Diacríticos: Mañjarī-priya devī dāsī (SC)
Edição: Taruṇī-gopī dāsī (SP)
Revisão: Vṛndāvana-candra dāsa (SP)