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A Filosofia de Sri Madhvacharya

  • Foto do escritor: Vana Madhuryam Brasil
    Vana Madhuryam Brasil
  • 12 de out. de 2024
  • 31 min de leitura

Atualizado: 1 de nov. de 2024


Srila Bhaktivedanta Vana Gosvami Maharaja

30 de janeiro de 2023, Bolívia


Eu quero falar apenas algumas palavras sobre a filosofia de Madhvacharya. Em nossa Vaishnava Sampradaya, quatro sampradayas são muito proeminentes: Sri, Brahma, Rudra e Sanaka. 


O acharya original da Sri Sampradaya é Lakshimi Devi; o acharya original da Brahma Sampradaya é Brahmaji; o acharya original da Rudra Sampradaya é Shivaji, e o acharya original da Sanaka Sampradaya são os quatro Kumaras. 


Nesta Kali-yuga, o acharya da Sri Sampradaya é Ramanujacharya; o acharya da Brahma Sampradaya é Madhvacharya; o acharya da Rudra Sampradaya é Vishnuswami, e o acharya da Sanaka Sampradaya é Nimbaditya. O Padma Purana explica:


sampradāya-vihīnā ye mantrās te niṣphalā matāḥ

ataḥ kalau bhaviṣyanti catvāraḥ sampradāyinaḥ

śrī-brahma-rudra-sanakāḥ vaiṣṇavāḥ kṣiti-pāvanāḥ

catvāraste kalau bhāvya hyutkale puruṣottamāt


(Padma Purāṇa, Prameya-ratnāvalī, 1.5)


[Qualquer mantra que não venha em sucessão discipular é considerado infrutífero. Portanto, quatro indivíduos divinos aparecerão na era de Kali para fundar escolas discipulares. Os fundadores dessas quatro Vaishnava sampradayas são Lakshmi ou Sri, Brahma, Rudra e Sanaka Rishi, e os acharyas da Era de Kali que seguem suas linhas aparecerão na cidade sagrada de Purushottama em Orissa.]


Se você não receber os diksha-mantras de [um guru fidedigno de] uma dessas quatro Vaishnava Sampradayas (Sri, Brahma, Rudra ou Sanaka Sampradaya), você nunca alcançará a perfeição mais elevada. Você deve receber os diksha-mantras de uma delas. 


Sri Chaitanya Mahaprabhu, que é Bhagavan, não criou nenhuma sampradaya. Mahaprabhu respeita essas quatro sampradayas, todavia Ele aceitou a Brahma Madhva Sampradaya. Isso significa que Ele aceitou a filosofia de Madhvacharya. Portanto, nossa sampradaya é chamada de Sri Brahma Madhva Gaudiya Sampradaya. Gaudiya significa que seguimos a linha de Sri Chaitanya Mahaprabhu. 


Mahaprabhu dá o devido respeito a todos os vaishnava-acharyas, mas Ele aceitou a filosofia de Madhva. Por quê? Porque Madhvacharya explica muito claramente as cinco diferenças, chamadas de pancha-bheda. Pancha significa "cinco" e bheda significa "diferença". 


O primeiro aspecto que Madhvacharya explica é isvara-jiva-bheda, a diferença entre o Senhor e os seres vivos. Qual é a diferença entre o Senhor Bhagavan e as jivas (almas)? Primeiro, o Senhor é apenas um, e as jivas são inumeráveis, ananta-jiva.


bālāgra-śata-bhāgasya

śatadhā kalpitasya ca

bhāgo jīvaḥ sa vijñeyaḥ

sa cānantyāya kalpate


(Śvetāśvatara Upaniṣad, 5.9) 


[Quando a ponta de um fio de cabelo é dividida em cem partes e cada uma dessas partes é novamente dividida em cem, cada uma dessas partes representa a dimensão da alma espiritual.]


As jivas são minúsculas e inumeráveis. Quantos deuses existem? Deus é um, eka bhagavan. As jivas são incontáveis, ananta-jiva, e também são muito, muito pequenas. Deus é grande, mahan, e Ele é chamado de A Verdade Absoluta.


ekam eva tat parama-tattvam svābhāvikācintya-śaktya sarvadaiva 

svarupa-tadrupa-vaibhava-jiva-pradhāna-rūpena caturdhāvatiṣṭhate


(Bhāgavata-sandarbha, 16)


[A Verdade Absoluta é uma. Sua característica natural é que Ele tem potência inconcebível. Suas potências inconcebíveis são repousadas em quatro estágios diferentes: Sua forma pessoal (svarupa), as expansões de Sua forma divina (tad-rupa-vaibhava), as jivas (almas) e os ingredientes materiais (pradhana).]


O Senhor é um, mas Ele se manifesta em muitas formas. Madhvacharya explica dessa maneira as cinco diferenças. O primeiro aspecto é chamado de isvara-jiva-bheda, a diferença entre o Senhor e as entidades vivas. O Senhor é o Supremo, e as jivas, muito minúsculas. Elas são completamente dominadas por maya (a energia ilusória de Deus). O Senhor está além de maya.


harir hi nirguṇaḥ sākṣāt

puruṣaḥ prakṛteḥ paraḥ

sa sarva-dṛg upadraṣṭā

taṁ bhajan nirguṇo bhavet

 

(Śrīmad-Bhāgavatam, 10.88.5)


[O Senhor Hari, porém, não tem ligação alguma com os modos materiais. Ele é a Suprema Personalidade de Deus, a testemunha eterna de tudo, que é transcendental à natureza material. Quem O adora torna-se igualmente livre dos modos materiais.]


Sri Hari, Bhagavan, Sri Krishna está além de maya, a potência ilusória do Senhor. O Senhor tem três potências principais, chamadas: cit-shakti, jiva-shakti e maya-shakti


O Senhor cria o mundo transcendental, cit-jagat, com Sua potência transcendental. Vaikuntha-jagat é muito bela. Vaikuntha, Ayodhya, Dvaraka, Mathura e, então, Goloka Vrindavana — tudo isso é chamado de cit-jagat. O Senhor manifesta Suas muitas formas no mundo transcendental. Assim, temos a potência cit.


Outra potência chama-se jiva-jagat, que é onde estão todas as entidades vivas. Jiva-jagat abrange todos os seres vivos que se manifestam a partir de Sua tatastha-shakti (potência marginal do Senhor). 


Por fim, com Sua maya-shakti, a potência externa, o Senhor cria este mundo material. Madhvacharya explica esse tattva (filosofia).


O segundo aspecto é jiva-jiva-bheda, que refere-se à diferença entre um ser vivo e outro. Algumas jivas são classificadas como tamasik-jivas, ou seja, jivas completamente iludidas pelo modo da ignorância de maya. Outras jivas estão contaminadas pelo rajasik-guna (modo da paixão), enquanto algumas são afetadas pelo sattva-guna (modo da bondade). Portanto, existem três tipos de jivas: sattvik, tamasik e rajasik. Assim, jiva-jiva-bheda destaca as diferenças entre um ser vivo e outro.


Mesmo as jivas libertadas deste mundo material que entram no mundo transcendental também são diferentes. Algumas adoram Vishnu, outras adoram Ramachandra, e outras adoram Radha e Krishna. Existem diferentes rasas também: algumas experimentam sakhya-rasa, outras vatsalya-rasa, algumas madhurya-rasa e outras dasya-rasa. Entre as jivas, há entidades masculinas e femininas. Mesmo na fase de enredamento (baddha-jiva) existem diferenças, com algumas sendo masculinas e outras femininas.


[O terceiro aspecto é] jiva-jada-bheda, a diferença entre a entidade viva e o inerte. Os seres conscientes possuem três características: sensação, vontade e o poder de conhecer. Você sente que está frio ou quente. Você está sentindo isso ou não? Em relação à vontade, você tem desejos. Quais são os seus desejos? Se está com fome, então você quer comer. E por fim, o poder de conhecer. Portanto, um ser consciente possui essas três coisas. E aqueles que são inertes não têm nenhuma dessas três características, assim como uma pedra. Eles não têm sensação, vontade e conhecimento.


[O quarto aspecto é] jada-jada-bheda, a diferença entre inerte e inerte. O que é isso? A água é líquida, e a pedra é sólida. Ambos são inertes, mas diferentes. O vidro da janela e a parede também são diferentes. Ambos são inertes (jada); todavia, através do vidro, podemos ver o lado de fora, enquanto através da parede não conseguimos.


Por fim, [o quinto aspecto é] jada-isvara-bheda, a diferença entre o inerte e o Senhor. Isso é bem simples: o Senhor é supremo e é um ser consciente, brhad-chaitanya, enquanto jada (o inerte) não possui consciência.


Madhvacharya explica isso em sua filosofia bheda-vada — bheda significa diferença. Isso chama-se dualismo. O dualismo está em toda parte. A palavra sânscrita [para dualismo] é dvaita-vada. Madhvacharya explica isso. Ele também explica muito claramente como servir ao Senhor Bhagavan: você deve servi-lO com seus doces sentimentos.


Madhvacharya tinha uma grande peça de tilaka. Quando essa tilaka se quebrou, naquele instante manifestou-se uma forma belíssima de Krishna segurando um bastão para mexer iogurte. Desse modo, Madhvacharya estabeleceu essa vigraha e explicou como servir ao Senhor com o mais elevado sentimento, o gopi-bhava (sentimento das gopis).


Por essa razão, Sri Chaitanya Mahaprabhu aceitou a Madhva Sampradaya, a filosofia de Madhvacharya. Madhvacharya é um acharya muito poderoso. Na verdade, ele é a encarnação do ar, Vayu, e a encarnação de Hanuman. Hanuman manifestou-se através de seu corpo e fez muitas coisas. Madhvacharya tem muito poder. Trinta pessoas não conseguiam mover uma pedra, mas Madhvacharya a moveu sozinho. Ele também recebeu o diksha-mantra diretamente de Vyasadeva. Por essa razão, [é dito] em nosso guru-parampara:


kṛṣṇa hôite catur-mukha, haya kṛṣṇa-sevonmukha, 

brahmā hôite nāradera mati

nārada hôite vyāsa, madhva kahe vyāsa-dāsa, 

pūrṇaprajña padmanābha-gati



(Canção Śrī Guru-paramparā, verso 1, de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Prabhupada)


[No início da criação, a ciência do serviço devocional foi recebida pelo Brahma de quatro cabeças do Senhor Supremo Sri Krishna. O entendimento desta ciência divina por Devarsi Narada foi obtido de Brahma. O grande sábio Krishna Dvaipayana Vyasa, que foi capacitado a compilar as literaturas védicas, tornou-se discípulo de Devarsi Narada. Sripada Madhvacarya, o fundador da escola suddha-dvaita da filosofia Vedanta, que visitou Vyasadeva em Badarikasrama no século XIII para aprender com ele a filosofia Vedanta, se refere a si mesmo como servo de Krishna Dvaipayana Vyasa. Purnaprajna Tirtha [Madhva] é o guru e único refúgio de Padmanabha Tirtha.] 


Krishna deu o mantra a Brahma. Aqui, Krishna significa Vishnu Narayana. O Brahma Samhita explica desta forma: Krishna deu o gopala-mantra a Brahmaji através de sua flauta, e então Brahmaji passou isso para Narada: brahmā hôite nāradera mati / nārada hôite vyāsa, madhva kahe vyāsa-dāsa. Naradaji deu a Vyasadeva, e Vyasadeva deu a Madhvacarya. Desse modo, nós cantamos todos os dias [a canção] Guru-parampara: kṛṣṇa hôite catur-mukha, haya kṛṣṇa-sevonmukha, / brahmā hôite nāradera mati / nārada hôite vyāsa, madhva kahe vyāsa-dāsa, / pūrṇaprajña padmanābha-gati.


Dessa forma, nosso guru-parampara está se manifestando. Sri Chaitanya Mahaprabhu aceitou a filosofia de Madhva, e em sua sampradaya existem duas coisas: tattva-vichara e rasa-vichara. Tattva-vichara significa filosofia, e rasa-vichara significa madhurya (doçura). Naquela época, era muito difícil pregar suddha-bhakti (bhakti pura), pois a maioria das pessoas estava completamente influenciada pela filosofia de Shankara. A filosofia de Shankara dizia:  eka brahma dvitiya nāsti  só existe um Brahma, sem um segundo. 


Todavia, Madhvacharya estabeleceu: o Senhor é um, mas Ele possui inúmeras potências, ananta-shakti. O shastra explica: śakti śaktimator abhedaḥ [Vedānta-sūtra] não há diferença entre shakti (potência) e shaktiman (aquele que possui a potência). O Senhor é chamado de shaktiman, que significa que toda a potência está dentro dEle.


rādhā — pūrṇa-śakti, kṛṣṇa — pūrṇa-śaktimān

dui vastu bheda nāi, śāstra-paramāṇa


(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Ādi-līlā, 4.96)


[Śrī Rādhā é o poder pleno, e o Senhor Kṛṣṇa é o possuidor de pleno poder. Os dois não são diferentes, como evidenciam as escrituras reveladas.]


Srimati Radhika é chamada de purna-shakti, pois toda a potência está nela, e Krishna é chamado de shaktiman. Não há diferença entre shakti e shaktiman. Assim como o fogo (agni) e o calor do fogo. Onde está o fogo, o calor do fogo também está presente. Mas os advaitavadis (impersonalistas) não aceitam a shakti. Eles dizem que o Senhor é nir-shakti, não tem poder e potência.


Brahma é nirshakti, nirakara, nirvisesa, nirañjana — essa é a filosofia dos impersonalistas. Eles dizem que o Senhor não tem forma, e Brahma é chamado de nirakara, completamente sem forma. Na verdade, qual é o significado original de Brahma? 


‘brahma’-śabde mukhya arthe kahe — ‘bhagavān’

cid-aiśvarya-paripūrṇa, anūrdhva-samāna


(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Ādi-līlā 7.111)


[De acordo com o entendimento direto, a Verdade Absoluta é a Suprema Personalidade de Deus, que possui todas as opulências espirituais. Ninguém pode ser igual a Ele ou maior do que Ele.]


O significado original de Brahma é svayam bhagavan. Quem é Bhagavan? Bhagavan é aquele que possui seis opulências, ṣaḍ-aiśvarya Bhagavān.


aiśvaryasya samagrasya

vīryasya yaśasaḥ śriyaḥ

jñāna-vairāgyayoś caiva

ṣaṇṇāṁ bhaga itīṅganā

 

(Viṣṇu Purāṇa, 6.5.47) 


[Bhagavān significa aquele que possui essas seis opulências em sua totalidade: todas as riquezas, toda a força, toda a influência, toda a sabedoria, toda a beleza e toda a renúncia.]


Os Upanishads explicam quem é Bhagavan. Ele possui seis opulências. Aisvarya, Ele tem inúmeras opulências. Viryasya, Ele é muito poderoso. Ele controla todos, bem como Brahma, Shiva, Indra… Todos eles são controlados pelo Senhor. Existem incontáveis Brahmas. Nesta brahmanda, existe o Brahma de quatro cabeças, mas existem inúmeros deles: Brahma de oito cabeças, Brahma de dezesseis cabeças, Brahma de cem cabeças, Brahma de mil cabeças... E da mesma forma, [também existem] incontáveis universos.


Nossos shastras dizem isso. Quantas cabeças Shiva tem? Cinco. Brahmaji tem quatro cabeças — Chaturmukha Brahma — porém [isso ocorre] nesta brahmanda, neste universo. Este universo é o menor universo; por essa razão, o Brahma desta brahmanda tem apenas quatro cabeças. Existem inúmeras brahmandas e incontáveis Brahmas, Shivas e Indras, e todos eles estão prestando reverências a Krishna, svayam bhagavan. O Srimad-Bhagavatam fornece a evidência:


ete cāṁśa-kalāḥ puṁsaḥ

kṛṣṇas tu bhagavān svayam

indrāri-vyākulaṁ lokaṁ

mṛḍayanti yuge yuge


(Śrīmad-Bhāgavatam, 1.3.28)


[Todas as encarnações acima mencionadas são ou porções plenárias ou porções das porções plenárias do Senhor, mas o Senhor Śrī Kṛṣṇa é a Personalidade de Deus original. Todas elas aparecem nos planetas sempre que há um distúrbio criado pelos ateístas. O Senhor encarna para proteger os teístas.]


govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi


(Śrī brahma-saṁhitā)


[Eu adoro Govinda, o Ser Primordial.]


īśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ

sac-cid-ānanda-vigrahaḥ

anādir ādir govindaḥ

sarva-kāraṇa-kāraṇam


(Śrī Brahma-saṁhitā, 5.1)


[Krishna, que é conhecido como Govinda, é o Deus Supremo. Ele possui um corpo espiritual eterno e bem-aventurado. Ele é a origem de tudo. Ele não tem outra origem e é a causa primária de todas as causas.]


Sarva-kāraṇa-kāraṇam, Ele é a causa de todas as causas. Ele é chamado de Ísvara. Ele controla todos. Íśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ / sac-cid-ānanda-vigrahaḥ — Sua forma, vigraha, é sac-cid-ananda-mayi-vigraha.


namāmīśvaraṁ sac-cid-ānanda-rūpaṁ 

lasat-kuṇḍalaṁ gokule bhrājamanam 

yaśodā-bhiyolūkhalād dhāvamānaṁ 

parāmṛṣṭam atyantato drutya gopyā


(Śrī Dāmodarāṣṭakam, verso 1)


[Ao Senhor Supremo, cuja forma é a personificação da existência eterna, do conhecimento e da bem-aventurança, cujos brincos em forma de tubarão balançam para frente e para trás, que brilha lindamente no reino divino de Gokula, que (devido à ofensa de quebrar o pote de iogurte que Sua mãe estava batendo para fazer manteiga, e depois roubar a manteiga que estava pendurada em um balanço) está correndo rapidamente do pilão de madeira com medo da mãe Yashoda, mas que foi apanhado por trás por ela, que correu atrás Dele com maior velocidade — a esse Senhor Supremo, Sri Damodara, eu ofereço minhas humildes reverências.]


Bhagavat-vigraha, a forma do Senhor, é sac-cid-ananda. Nosso corpo condicionado é feito de cinco elementos. Quantos elementos há no seu corpo? Há cinco elementos. Quais são eles? Pṛthvī-ap-tejas-vāyu-ākāśa [terra, água, fogo, ar e éter.]


O corpo do Senhor é composto por três elementos: sat, cit e ananda. Sat significa “existência”, cit significa “cheio de conhecimento”, e ananda significa “pleno de bem-aventurança”. Por essa razão, o Senhor é chamado de sac-cid-ananda bhagavan. Íśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ, sac-cid-ānanda-vigrahaḥ.


Sac-cid-ananda-mayi bhagavan, Sua forma é belíssima. Como é a forma de Krishna?


barhāpīḍaṁ naṭa-vara-vapuḥ karṇayoḥ karṇikāraṁ

bibhrad vāsaḥ kanaka-kapiśaṁ vaijayantīṁ ca mālām

randhrān veṇor adhara-sudhayāpūrayan gopa-vṛndair

vṛndāraṇyaṁ sva-pada-ramaṇaṁ prāviśad gīta-kīrtiḥ


(Śrīmad-Bhāgavatam, 10.21.5)


[Usando um enfeite de pena de pavão sobre a cabeça, flores karṇikāra azuis nas orelhas, uma roupa amarela tão brilhante quanto o ouro e a guirlanda Vaijayantī, o Senhor Krishna exibia Sua forma transcendental como o maior dos dançarinos ao entrar na floresta de Vṛndāvana, embelezando-a com as marcas de Suas pegadas. Ele enchia os orifícios de Sua flauta com o néctar de Seus lábios, e os vaqueirinhos cantavam Suas glórias.]


O Srimad-Bhagavatam dá evidência de que, quando Krishna vai pastorear as vacas, naquele instante a Sua forma é muito bela e atraente. Há uma pena de pavão em seu turbante. Barhāpīḍaṁ naṭa-vara-vapuḥ, Ele está em uma pose de dança muito bonita chamada tribhanga-lalita; a forma tribhanga (curvada em três partes). Karṇayoḥ karṇikāraṁ [significa] uma flor chamada karnikara, de cor um pouco avermelhada, que às vezes, Krishna coloca em uma orelha, e às vezes em outra.


Bibhrad vāsaḥ, [Ele utiliza] vestes belíssimas de cor amarela, que superam a beleza do ouro da montanha, que é muito reluzente. Vaijayantīṁ ca mālām, Ele está adornado com uma belíssima vaijayanti-mala. Mala significa "guirlanda", e essa guirlanda é feita de cinco tipos de flores. 


E Ele toca a flauta. Quando Ele toca a flauta, todos ficam completamente inebriados. Vṛndāraṇyaṁ sva-pada-ramaṇaṁ prāviśad gīta-kīrtiḥ, Quando Ele percorre os caminhos de Vrindavana, suas pegadas ficam automaticamente marcadas no chão. Nessas pegadas de Krishna, há muitos sinais também. Dhvaja significa "bandeira", vajra significa "relâmpago/raio" e ankusha é o instrumento [gancho] utilizado para controlar os elefantes. Existem dezenove sinais nos pés de lótus de Krishna.


Naquele instante, todos os semideuses e semideusas, liderados por Brahma e Shiva, vieram a Vrindavana, e prestando seus pranamas e stava-stutis, eles adoraram aqueles pés de lótus. Krishna é muito alegre e atraente, assim como um ser humano, porque Krishna realiza todas as Suas lilas em Vraja como um ser humano. Isso é chamado de lokavat-lila-kevalam.


rudantaṁ muhur netra-yugmaṁ mṛjantam 

karāmbhoja-yugmena sātaṅka-netram 

muhuḥ śvāsa-kampa-tri-rekhāṅka-kaṇṭha- 

sthita-graiva-dāmodaraṁ bhakti-baddham


(Śrī Dāmodarāṣṭakam, verso 2)


[Eu adoro o Supremo Controlador, cuja forma é eterna, plena de conhecimento e felicidade. Em suas bochechas, brincos em forma de makara estão balançando, e Ele brilha de forma magnífica em Gokula. Correndo do pilão em grande medo de Mãe Yaśodā, Ele foi finalmente apanhado por trás.]


O bebê Krishna, Bala Gopala, cometeu duas ofensas: ele quebrou o pote de manteiga e também desperdiçou toda a manteiga, alimentando os macacos e os corvos. Assim, mãe Yashoda o repreendeu. Krishna ficou muito assustado com ela e correu pelos caminhos de Vrindavana. Essas são Suas doces lilas, madhurya. Mas os advaitavadis, os impersonalistas, não têm fé de que Krishna tem uma sac-cid-ananda vigraha. Eles pensam que tudo é uma ilusão.


Mas não, Krishna é sac-cid-ananda-vigraha, cuja vigraha é eterna e transcendental. Ele realiza doces lilas em Vraja. Os vrajavasis [residentes de Vraja] têm tanto amor e afeto por Ele, e Krishna também tem muito amor e afeto pelos vrajavasis. Por essa razão, Krishna diz: "Eu nunca saio um passo de Vrindavana".


vṛndāvanaṁ parityajya padam ekaṁ na gacchati


(Yamala-tantra, citado no Laghu-bhāgavatāmṛta, 1.5.461)


Onde Krishna está? Vrajendra Nandana Krishna está sempre em Vrindavana.


sucāru-vaktra-maṇḍalaḿ sukarṇa-ratna-kuṇḍalam

sucarcitāńga-candanaḿ namāmi nanda-nandanam

[...]

kareṇa veṇu-rañjitaḿ gati-karīndra-gañjitam

dukūla-pīta-śobhanaḿ namāmi nanda-nandanam


(Canção Śrī Nanda-nandanāṣṭakam, versos 1 e 4) 


[Eu ofereço pranama a Nandanandana, cujo rosto é extremamente encantador, cujas lindas orelhas pendem brincos adornados com joias, e cujo corpo inteiro é ungido com fragrante chandana. [...] Eu ofereço pranama a Nandanandana, cujas mãos de lótus seguram a flauta, cujo andar suave supera até mesmo o de um elefante apaixonado, e cujos membros escuros são embelezados por um xale amarelo.]


Quão belo é Krishna. Karena venu, Krishna sempre segura Sua flauta em Sua mão, e quando toca a flauta, a vibração do som se espalha por toda parte. Nesse momento, todos ficam completamente inebriados. Kā stry aṅga te kala-padāyata-veṇu-gīta… Sukadeva Gosvamipada disse esse verso.


kā stry aṅga te kala-padāyata-veṇu-gīta

sammohitārya-caritān na calet tri-lokyām 

trailokya-saubhagam idaṁ ca nirīkṣya rūpaṁ 

yad go-dvija-druma-mṛgāḥ pulakāny abibhran 


(Śrīmad-Bhāgavatam, 10.29.40)


[Querido Kṛṣṇa, qual mulher em todos os três mundos não se desviaria do comportamento religioso ao ser encantada pela doce e prolongada melodia de Sua flauta? Sua beleza torna todos os três mundos auspiciosos. De fato, até mesmo as vacas, os pássaros, as árvores e os cervos manifestam o sintoma extático de seus pelos se arrepiando quando veem Sua bela forma.]


Não são apenas as gopis que estão inebriadas com o som da flauta de Krishna. Go-dvija-druma-mṛgāḥ pulakāny abibhran. Go (as vacas de Vrindavana), dvija (os pássaros), druma (as árvores) e hiranya [mrga] (os cervos) — todos eles estão completamente extasiados com o som da flauta de Govinda.


Krishna possui 64 qualidades, mas quatro são extraordinárias. A primeira é rupa-madhurya, a doçura de Sua beleza; [a segunda é] lila-madhurya, a doçura de Suas atividades; [a terceira é] venu-madhurya, a doçura do som de Sua flauta; e a [quarta] outra é chamada de prema-madhurya, a doçura de Seu amor divino. Essas quatro qualidades são extraordinárias e não estão presentes em outras encarnações de Krishna. Nossos textos sagrados explicam isso, quão belo é:


aiśvaryasya samagrasya

vīryasya yaśasaḥ śriyaḥ

jñāna-vairāgyayoś caiva

ṣaṇṇāṁ bhaga itīṅganā

 

(Viṣṇu Purāṇa, 6.5.47) 


[A riqueza completa, a força, a fama, a beleza, o conhecimento e o desapego — essas são as seis opulências da Suprema Personalidade de Deus.]


Sri significa "beleza", e essa beleza é eterna e transcendental, sempre fresca. Todos estão completamente inebriados com a beleza de Govinda. Ele sempre possui uma forma belíssima, isso se chama nava-yauvanam.


advaitam acyutam anādim ananta-rūpam

ādyaṁ purāṇa-puruṣaṁ nava-yauvanaṁ ca

vedeṣu durlabham adurlabham ātma-bhaktau

govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi


(Śrī Brahma-saṁhitā, 5.33)


[Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que é inacessível aos Vedas, mas alcançável pela devoção pura e sem mistura da alma, que é único, que não está sujeito à decadência, é sem começo, cuja forma é infinita, que é o início e o puruṣa eterno; ainda assim, Ele é uma pessoa que possui a beleza da juventude em flor.]


Este verso explica nava-yauvanam ca, que se refere à Sua forma sempre bela e fresca. Krishna nunca envelhecerá. Ele tem uma forma muito bonita e encantadora.


kasturī-tilakaṁ lalāṭa-paṭale

vakṣaḥ-sthale kaustubhaṁ 

nāsāgre vara-mauktikaṁ karatale 

veṇuḥ kare kaṅkaṇam 

sarvāṅge hari-candanaṁ sulalitaṁ 

kaṇṭhe ca muktāvalī 

gopa-strī-pariveṣṭito vijayate 

gopāla-cuḍāmaṇiḥ 


(Śrī Gopāla-sahasra-nāma, verso 28)


[Sua testa está decorada com tilaka de almíscar; em Seu peito repousa a joia Kaustubha; uma pérola requintada adorna a ponta de Seu nariz; Sua mão de lótus segura a flauta; braceletes adornam Seus pulsos; todo o Seu corpo está ungido com polpa de sândalo (candana); um colar de pérolas embeleza Seu pescoço encantador; e Ele está rodeado por donzelas pastoras de vacas – toda glória àquele que é a joia suprema dos meninos pastores de vacas!]


Krishna tem essa forma. Mas os impersonalistas pensam que Krishna não tem forma. Isso é chamado de ofensa; eles são ofensores, aparadhis. Por quê? Porque não acreditam que o Senhor tenha forma. Mas todos os Vedas, Puranas, Upanishads e Srimad-Bhagavatam glorificam a bela forma de Krishna.


Nossas escrituras dizem: “mayavadi aparadhi”. Quem é chamado de mayavadi? Aqueles que dizem que o Senhor não tem forma, na verdade, são aparadhis. Krishna tem uma bela forma. Ele possui um poder inumerável, shakti. Ele é o controlador supremo, sarva-shaktiman. Os impersonalistas dizem que o Senhor não tem poder. Por isso, nossas escrituras dizem “mayavadi aparadhi”, eles são ofensores. Você tem olhos ou não? Com os seus olhos, você é capaz de enxergar. Da mesma forma, o Senhor tem olhos. O Vedanta Sutra explica: sa aikṣata [Aitareya Upaniṣad, 1.1.1-2] — Ele olha, então isso significa que Ele tem olhos. Com seus olhos, você está olhando, observando; da mesma forma, o Senhor tem olhos e está olhando. Por essa razão, o Vedanta Sutra afirma: sa aikṣata, sa aikṣata.


Apāṇi-pādo javano grahītā… Os Upanishads [3.19] afirmam que o Senhor não possui mãos nem pernas. Mas por que essa afirmação? Na realidade, o Senhor tem olhos, nariz, mãos e pernas, que são considerados aprakrta, ou seja, transcendental e sobrenatural. Essas características não são materiais. Quando se diz que o Senhor não tem olhos ou pernas, isso significa que Ele não possui essas características em sua forma material; ao contrário, elas são de natureza aprakrta.


Os impersonalistas não conseguem entender isso. Eles dizem: “Oh, mas os Vedas estão dizendo essas coisas”. Você pode compreender o significado de todos os shlokas dos Vedas, Upanishads e tudo mais em nosso shastra de duas maneiras: uma é chamada de abhidha-vrtti, e a outra é chamada de lakshana-vrtti, que são as formas direta e indireta. Direto significa que seu nome está lá, e eu estou o chamando. Se eu não estiver chamando seu nome, explico de outra maneira, e então todos entendem. 


Srila Gurudeva: Qual é o seu nome?


Devoto: Radha Ramana Das.


Srila Gurudeva: Ok, eu não estou dizendo seu nome, Radha Ramana Das: “Aqui está um menino, sentado, vestindo roupas brancas”, e explico todos os seus membros do corpo. Então todos olham. Quem é essa pessoa? Quem está completamente vestido de branco? Radha Ramana Prabhu ki jay! Caso contrário, podemos dizer diretamente: “Radha Ramana Prabhu está sentado aqui”, entenderam?


Às vezes, os Vedas explicam de maneira direta e, outras vezes, explicam todos os tattvas de forma indireta. Em sânscrito, isso é chamado de abhidha-vrtti e lakshana-vrtti. Radha Ramana Prabhu nunca come durante o dia, porém ele é muito gordo. Mas como ele é tão gordo? Ele nunca come durante o dia, isso é verdade, mas ele come à noite. Caso contrário, como ele seria tão gordo? Radha Ramana não come durante o dia, mas come à noite.


Da mesma forma, você pode entender o significado dos shlokas dos Vedas, Puranas e Upanishads dessas duas maneiras — abhidha-vrtti e lakshana-vrtti. O Srimad-Bhagavatam explica: ete cāṁśa-kalāḥ puṁsaḥ kṛṣṇas tu bhagavān svayam. Isso é abhidha-vrtti. O Senhor é svayam bhagavan — esse é  um exemplo de abhidha-vrtti (explicação de forma direta). Há outra forma de responder à pergunta "Quem é Bhagavan?" — Ele é a Suprema Personalidade de Deus, Aquele que possui seis opulências. Aqui não está sendo dito "Krishna", mas estamos nos referindo àquele que é Bhagavan, a Suprema Personalidade de Deus, que possui 6 opulências. Quais são as seis opulências? Eu já mencionei: aisvarya [opulência], viryasya [força], yasah [fama], sri [beleza], jnana [conhecimento] e vairagya [renúncia].


Quem é Svayam Bhagavan? Krishna, porque Ele possui incontáveis aisvarya, ou seja, opulência. Ele é o controlador supremo do cit-jagat, o mundo transcendental; Ele é o controlador supremo do mundo material, e Ele é o controlador supremo de todos os seres vivos, jiva-jagat. Ele é svayam bhagavan. Virya significa que Ele é muito poderoso e controla a todos. 


Brahma, Shiva, e todos [os semideuses] prestam suas reverências aos pés de lótus de Krishna. Yasas significa que Ele possui fama e reputação incontáveis. Sri significa beleza, e a beleza de Krishna é única e incomparável. Mesmo todas as Suas encarnações (avataras), que não são diferentes Dele, estão ávidas para ter o darshana de Sua bela forma. A beleza de Krishna é sem igual e inigualável, e todas as encarnações se manifestam a partir Dele.


rāmādi-mūrtiṣu kalā-niyamena tiṣṭhan

nānāvatāram akarod bhuvaneṣu kintu

kṛṣṇaḥ svayaṁ samabhavat paramaḥ pumān yo

govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi


(Śrī Brahma-saṁhitā, 5.39)


[Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que se manifestou pessoalmente como Krishna e os diferentes avatāras no mundo nas formas de Rāma, Nṛsiṁha, Vāmana, etc., como Suas porções subjetivas.]


O Brahma Samhita dá a evidência: Rama, Nrsimha, Kalki, Varaha, Matsya e todas as encarnações se manifestaram de Krishna, e também não são diferentes Dele. Isso é chamado de acintya-tattva, algo que está além da nossa concepção material. Mas todas essas mesmas encarnações, avataras, estão ávidas para ter o darshana de Krishna. Quão bela é a forma de Krishna! Krsnera (govindera) mādhurī dekhi’ vāsudevera kṣobha… [Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā, 20.179]


Até mesmo Vasudeva Krishna está muito ávido para ter o darshana da bela forma de [Vrajendra Nandana] Krishna. Nós não podemos entender isso com nossa concepção material, mas os Vedas, Puranas e Upanishads explicam isso. A beleza de Krishna é única e incomparável. E, especialmente, também é explicado que Ele possui quatro qualificações extraordinárias: rupa-madhurya, lila-madhurya, venu-madhurya e prema-madhurya.


O que eu disse? (Srila Gurudeva questiona os devotos) Rupa-madhurya significa a doçura da beleza Dele. Vocês precisam aprender isso. Depois, venu-madhurya, a doçura do som de Sua flauta. Quando Krishna toca a flauta, todos ficam extasiados. Brahma e Shiva ficam completamente inebriados, seus corpos começam a tremer, e todas as suas atividades ficam completamente de cabeça para baixo. 


Quando Krishna toca Sua flauta em Vrindavana, a água do rio para de descer. Nadyas tadā tad upadhārya mukunda-gītam… [Śrīmad-Bhāgavatam, 10.21.15] Quando Krishna toca a flauta, a água do rio não flui, e forma redemoinhos. Para onde a água do rio corre? De cima para baixo. No entanto, quando Krishna toca a flauta, a água do rio não corre, mas gira em redemoinho. Nadyas tadā tad upadhārya mukunda-gītam… Vrindavana é muito bonita e atraente. E, especialmente, o som [vibração] da flauta de Krishna (govinda venu-dhvani). Venu-madhurya!


Por essa razão, Sukadeva Gosvamipada, no Srimad-Bhagavatam, glorifica o som da flauta de Govinda, venu-madhurya, em muitos versos. Quando Krishna toca a flauta, as vacas de Vrindavana ficam completamente perplexas, como estátuas. Elas simplesmente abrem os olhos e contemplam a bela forma de Govinda. Elas escutam o doce som da flauta com seus ouvidos, e seus corações se derretem completamente, fazendo com que lágrimas escorram de seus olhos.


Por que estou dizendo isso? Porque [estou explicando] a beleza de Krishna, rupa-madhurya, depois venu-madhurya, e então lila-madhurya, onde Ele realiza doces lilas em Vrindavana. E o quarto, prema-madhurya, é a doçura do Seu Amor Divino. Ele é svayam bhagavan, a Suprema Personalidade de Deus. 


Em Vrindavana, Krishna presta Suas reverências, colocando sua testa nos pés de lótus de Srimati Radhika. Brahma, Shiva e Narada prestam reverência a Krishna, e agora o mesmo Krishna curva completamente sua cabeça aos pés de lótus de Srimati Radhika.


smara-garala-khaṇḍanaṁ mama śirasi maṇḍanaṁ

dehi pada-pallavam udāram

jvalati mayi dāruṇo madana-kadanārnalo

haratu tad-upāhita-vikāram


(Śrī Gīta-govinda, 8)


[Ó Meu amado! O delírio do amor tomou conta da Minha mente. Coloque as pétalas frescas dos Teus encantadores pés ali para neutralizar o veneno, e que esses pés acalmem o fogo ardente dos desejos amorosos que queimam dentro de Mim.]


Jayadeva Gosvamipada compôs este verso do Gita-govinda. Na verdade, esse verso foi escrito em um momento em que Jayadeva Gosvami se questionava: como é possível que Krishna, que é a suprema personalidade de Deus, Bhagavan, se curve diante dos pés de Srimati Radhika? Como é possível que Srimati Radhika coloque Seus pés sobre a cabeça Dele?


Smara-garala-khaṇḍanaṁ mama śirasi maṇḍanaṁ / dehi pada-pallavam udāram… Srimati Radhika ficou em mana (ira transcendental), portanto Krishna tentou quebrar o mana Dela. Você entende o que é mana? Mana significa humor emburrado, raiva. Às vezes, você também fica nesse estado de mana, mas Srimati Radhika não tem esse tipo de raiva [material].


De qualquer forma, quando Srimati Radhika ficou em mana, Krishna tentou quebrar o mana Dela. Mas o mana de Srimati Radhika é durjaya-mana, um mana inquebrável, e esse mana é chamado de ahaituki-mana. Ahaituki significa sem razão, sem causa. Então, Krishna diz: "Srimati Radhika, abandone o seu mana".


Krishna, muito humildemente, está dizendo: "Qual é a minha culpa? Por que você está brava comigo?". Mas Srimati Radhika é muito teimosa em suas ações. Existem dois tipos de mana: hetu-mana e ahaituki-mana. Quando existe uma causa, Ela fica brava, e isso é chamado de hetu-mana. Às vezes, você fica brava com seu marido ou namorado, porque talvez alguma causa tenha surgido. Mas aqui, Srimati Radhika está brava com Krishna sem razão, e isso é chamado de ahaituki-mana.


Krishna está dizendo neste verso: “Ó Radhe! Qual é a minha culpa? Por que você está brava comigo?”. Mas Srimati Radhika é muito teimosa em seu mana. Como Krishna quebrará o mana dela? Krishna é muito humilde. Primeiro, Ele juntou as mãos e colocou a testa no chão: “Ó Radhe! Desista do seu mana, Smara-garala-khaṇḍanaṁ mama śirasi maṇḍanaṁ… Eu curvo minha cabeça aos seus pés de lótus”. Krishna oferece Sua flauta e a pena de pavão aos pés de lótus de Srimati Radhika: “Estou te dando tudo!”. Mas mesmo assim, Srimati Radhika não abandonou Sua raiva, mana. Portanto, como Krishna quebrará o mana dEla?


Se alguém pede perdão a você, o que você faz? Você deve perdoar, porque o perdão é uma grande fortuna. Se alguém comete uma ofensa e diz: "Oh, isso é minha culpa", o que você dirá? Você perdoará. Ele irá prometer: "Não cometerei esse tipo de erro novamente", e desse modo, você dará seu perdão. Isso é verdade ou não? Mas aqui, Krishna diz assim: "Ó Radhe, qual é a minha culpa? Estou pedindo perdão". Não somente Krishna se curvou repetidamente, colocando sua testa nos pés de lótus de Srimati Radhika, como também prometeu: "Não cometerei nenhuma ofensa novamente, aceite minha flauta e minha pena de pavão". Os artigos mais preciosos de Krishna são a flauta e Sua pena de pavão. Krishna diz: "Aqui estão meus itens mais valiosos e preciosos. Estou dando a você, aceite isso".


yat-kiṅkarīṣu bahuśaḥ khalu kāku-vāṇī

nityaṁ parasya puruṣasya śikhaṇḍa-mauleḥ

tasyāḥ kadā rasa-nidher vṛṣabhānu-jāyās

tat-keli-kuñja-bhavanāṅgana-marjanī syām


(Śrī-Śrī Rādhā-Rasa-Sudhā-Nidhi, texto 8)


[Ó filha de Vṛṣabhānu Mahārāja, oceano de rasa, aquele belo menino que usa uma pena de pavão graciosamente inclinada em seus cabelos é, na verdade, a Suprema Personalidade de Deus original. Ainda assim, Ele está sempre caindo aos pés de Suas servas e implorando com palavras humildes e lastimosas para ganhar entrada em Seu kuñja, onde vocês dois se envolvem em passatempos amorosos e brincalhões. Minha vida seria bem-sucedida se eu pudesse ser apenas um graveto na vassoura que Suas servas usam para limpar Seu encantador kuñja.]


Prabodhananda Sarasvati Thakura escreveu esse verso. Srimati Radhika ficou em mana, e Krishna juntou Suas mãos e inclinou Sua cabeça, pedindo repetidamente perdão. Todavia, Srimati Radhika não abandonou seu mana, porque esse era o chamado ahaituki-mana — mana sem causa.


Então, Krishna recita este verso: “smara-garala-khaṇḍanaṁ mama śirasi maṇḍanaṁ / dehi pada-pallavam udāram… Ó, Srimati Radhike! Você é muito generosa, então coloque seus pés sobre a Minha cabeça". Jayadeva Gosvami não conseguiu escrever essa linha, então Krishna apareceu na forma de Jayadeva Gosvami e escreveu esse verso. Isso é prema-madhurya, a doçura de Seu prema (amor).


Krishna é completamente controlado pelo amor divino de Srimati Radhika. Ele é dhira-lalita-nayaka, e é completamente controlado por Sua consorte. Ramachandra não é controlado por Sua esposa Sita Devi, e Nrsimhadeva não é controlado por Sua esposa Lakshimi Devi. 


Quando Nrsimhadeva apareceu e matou Hiranyakashipu, naquele momento Nrsimhadeva estava muito furioso, portanto ninguém se aproximou Dele. Todos os semideuses e semideusas tinham medo de ficar diante Dele. Alguns disseram: "Ei, Lakshimi Devi, por favor, vá acalmar seu marido". Lakshimi Devi respondeu: “Desta vez eu não posso ir”. Dessa forma, ela não conseguiu controlá-lO, mas aqui, Srimati Radhika controla Krishna.


nirantaraḿ vaśī-kṛta-pratīti-nandanandane

kadā kariṣyasīha māḿ kṛpā-katākṣa-bhājanam

[...]

madonmadāti-yauvane pramoda-māna-maṇḍite

priyānurāga-rañjite kalā-vilāsa-paṇḍite

ananya-dhanya-kuñja-rājya-kāma-keli-kovide


(Śrī Rādhā-kṛpā-kaṭākṣa-stava-rāja, versos 3 e 5)


[Ó Você, com o arco de Cupido, Suas encantadoras e auspiciosas sobrancelhas arqueadas, Você dispara Suas flechas de amor com mensagens dos cantos de Seus olhos, que fazem o encantador filho de Nanda ser atingido com ilusões amorosas de nobre submissão a Você por toda a eternidade! Ó, quando Você me fará o objeto de Seu olhar lateral de misericórdia sem causa? Ó Você, que é uma juventude extremamente alegre e cheia de amor! Ó Você, que é adornada com a grande felicidade de ciúme amoroso, birra e raiva! Ó Você, que tem extremo e puro afeto amoroso por Seu amado Sri Krsna! Ó Você, a mais perita em todos os vários atos de amor amoroso! Ó Você, a mais sábia em arranjar passatempos amorosos de puro amor em luxuosos pavilhões secretos nas melhores florestas! Quando? Ó, quando Você me fará o objeto de Seu olhar lateral de misericórdia sem causa?]


Srimati Radhika controla Krishna com Seu amor divino, e aqui, Krishna, como um ser humano, realiza essas lilas. Isso é prema-madhurya, a doçura de Seu amor divino. Lakshmi Devi não consegue controlar Narayana, e Sita Devi não consegue controlar Ramachandra. Mesmo em Dvaraka Puri, Rukmini e Satyabhama não conseguem controlar Krishna. Mas em Vrindavana, as gopis conseguem facilmente controlar Krishna com seu amor divino.


Krishna é como um elefante louco, entende? Como controlar um elefante louco? Você sabe como fazer isso? É preciso um instrumento pequeno, uma vara de controle chamada ankusha. Colocam-no na parte de baixo das orelhas do elefante e assim o elefante é controlado. Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, Bhagavan, sarva-shaktiman. Krishna é svatantra, completamente independente, mas Srimati Radhika controla Ele com Seu amor divino transcendental, esse é o ankusha dEla. O que é isso? É o amor, prema-ankusha. Portanto, isso é prema-madhurya


As quatro qualidades extraordinárias de Krishna são: rupa-madhurya, lila-madhurya, prema-madhurya e venu-madhurya. Por que estou dizendo isso? Porque você pode entender o significado do shastra de duas maneiras: abhidha-vrtti (de forma direta) e lakshana-vrtti (de forma indireta). Diretamente, o shastra diz que Krishna é svayam bhagavan, ete cāṁśa-kalāḥ puṁsaḥ kṛṣṇas tu bhagavān svayam. E a outra maneira de explicar [indiretamente] que Krishna é svayam bhagavan é porque Ele possui as seis opulências, e essas seis opulências serão completamente manifestadas.


Mas os advaitavadis dizem: "Oh, não, o shastra diz que o Senhor não tem pernas, não tem mãos...". Are! Quando se diz que o Senhor não tem pernas, significa que Ele não tem pernas materiais, mas Ele tem pernas transcendentais. Você entende ou não? Quais pernas o Senhor tem? Transcendentais, aprakrta. O Senhor não tem forma, isso é verdade, mas isso significa que o Senhor não tem uma forma material. Sua forma é sad-cid-ananda, transcendental.


Por exemplo, durante o dia ele não está comendo, mas ele está “gorda” [Srila Gurudeva brinca, falando a palavra "gorda" em português]. Aqui está dizendo que durante o dia ele não está comendo, isso é verdade, mas ele come à noite. Caso contrário, como ele estaria "gorda"? Ele come ou não? Da mesma forma, você pode entender o significado dos shlokas dos shastras de duas maneiras: às vezes, o shastra diz diretamente, e às vezes, indiretamente. 


Diretamente, o Srimad-Bhagavatam diz: kṛṣṇas tu bhagavān svayam. Indiretamente, é dito que, quem é Bhagavan, possui seis opulências: aisvarya, viryasya, yasahsri, jñana e vairagya. Jñana significa que Ele tem todo o conhecimento. Bhagavan conhece todas as línguas: as línguas dos gatos, cães e animais; até mesmo a linguagem das pequenas formigas! Você conhece a linguagem das pequenas formigas? Bhagavan conhece. Você conhece a linguagem dos cães? Bhagavan conhece.


Ramachandra conhece a linguagem dos cães. Certa vez, um cachorro veio ao tribunal de Ramachandra. O cachorro estava sentado do lado de fora do tribunal, então Ramachandra perguntou ao cachorro: "Qual é a sua reclamação?". O cachorro disse: "Seu pujari me chutou, por quê? Você deve puni-lo". Ramachandra chamou o pujari: "Por que você o chutou?". O pujari respondeu: "Oh, este cachorro bloqueou o caminho, por isso eu fiquei muito irritado e o chutei". Ramachandra disse: "Não, ele é um animal, você não deve chutá-lo, você não deve perturbar os animais. Você não tem o direito de incomodar os outros. Você é um ser humano, pode ir por outro caminho. Se o cachorro bloqueou este caminho, dormindo no meio da rua, você pode ir por outro trajeto, ou pode acordá-lo com amor e carinho, mas não deve chutá-lo. Portanto, isso é sua culpa".


Ramachandra disse: "Eu tenho que lhe dar uma punição. Cachorro, diga-me, qual punição você quer que eu dê a ele?". O cachorro disse: "Ei, Bhagavan Rama, dê a punição que ele será o presidente do Templo Dourado". Ramachandra ficou surpreso e disse: "Por quê? Esse Templo Dourado recebe milhões e milhões de moedas de ouro todos os dias, e há tanta opulência". Desse modo, ele seria o comandante do Templo Dourado. No sul da Índia, há um templo chamado Kalindi Pradesh. O cachorro disse: “Você deve ser o presidente daquele Templo Dourado. Muita riqueza virá, e você terá nome, fama e reputação”. 


Surpreso, Ramachandra disse: "Este pujari te chutou, e agora você está dando a ele a mais elevada posição de presidente do Templo Dourado. Por quê?". O cachorro respondeu: "Na verdade, eu era o presidente do Templo Dourado, e todos os dias vinha tanta riqueza e dinheiro, que eu não consegui controlar minha saliva e desfrutei da gratificação dos sentidos com o dinheiro daquele templo. Por essa razão, agora eu vim na forma de um cachorro, e agora estou sofrendo neste corpo animal”.


Se você sente dor, você vai ao médico; até mesmo se um mosquito te picar, você passa algum líquido [no local onde foi picado]. Mas se muitos mosquitos picarem o cachorro, ele vai sofrer. Por essa razão, ele disse: "Ele se tornará o presidente do Templo Dourado, e não conseguirá controlar sua saliva, ou seja, não conseguirá controlar o prazer da gratificação dos sentidos materiais, e abusará do dinheiro do templo. Por essa razão, ele se tornará um cachorro, e por fim compreenderá qual é o significado do corpo de cachorro”. Qual corpo é melhor, o corpo humano ou o corpo de cachorro?


Devotos: O corpo humano!


Algumas pessoas dizem: "Não, o corpo de cachorro é bom, eu vou me tornar o cachorro do presidente da América, então terei acesso a ótimos hoteis e hospitais para cães". Mas os cães estão sofrendo ou não? Eles estão sofrendo porque são animais e não podem fazer bhajana e sadhana. O que lhes for dado, eles têm que comer. Se [os donos] cuidam deles ou não, isso é outra coisa; mas eles não podem falar. Isso é sofrimento ou não? Quando você obtiver o corpo de cachorro, então entenderá.


Se você é uma pessoa rica, você cuida do seu cachorro, isso é verdade. Mas você sempre dependerá do seu mestre. Por outro lado, como humano, você pode ir a qualquer lugar. Portanto, não pense: "Na próxima vida, eu serei o cachorro de uma pessoa rica".


Por que estou dizendo isso? Porque Ramachandra Bhagavan conhece a linguagem dos cães. Bhagavan conhece todas as línguas de todos os seres vivos, sarva bhāṣā-vit. [Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā, 23.71] As jivas não podem se tornar Bhagavan; o conhecimento delas é limitado. Mas Bhagavan tem um vasto conhecimento, ananta-jñana.


Por que estou dizendo isso? Aisvarya, viryasya, yasahsri, jñana e vairagya. Vairagya significa desapego. Krishna realiza doces lilas em Vraja e inebria todos os vrajavasis com Seu amor divino. Mas Krishna deixou Vrindavana e foi para Mathura. De acordo com o Srimad-Bhagavatam, Krishna não retornou de Mathura para Vrindavana.


Portanto, Krishna é svayam bhagavan. Mas os impersonalistas não entendem isso, pois apenas pensam: eka brahma dvitiya nāsti (só existe um Brahma, sem um segundo); e dizem:  jyotir-maya brahma (Brahma é uma refulgência). Mas esse brilho vem de onde? [Por exemplo], aqui você pode ver o brilho dessa lâmpada [acesa]. Mas de onde vem esse brilho? Há uma lâmpada dentro, com seus filamentos, mas você consegue ver a lâmpada? Você enxerga apenas o brilho dela. 


Se essa luz vier de uma lâmpada halógena, de 400 watts, você não conseguirá enxergar dentro da lâmpada, só conseguirá ver a luz. Na verdade, essa luz está vindo de dentro da lâmpada, e dentro dela existem dois filamentos. Da mesma forma, a refulgência de Brahma vem do corpo de Krishna, mas os jñanis, jñanavadis, e advaitavadis não conseguem ver a refulgência do corpo de Krishna; eles veem apenas a refulgência, não veem Seu corpo.

 

Portanto, o shastra explica:


[verso]


Dentro da refulgência está Krishna com duas mãos tocando a flauta. Aqueles que são devotos puros, através do serviço devocional, conseguem ver a bela forma de Krishna. Ele é um, mas possui três aspectos:


vadanti tat tattva-vidas

tattvaṁ yaj jñānam advayam

brahmeti paramātmeti

bhagavān iti śabdyate


(Śrīmad-Bhāgavatam, 1.2.11)


[Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta chamam essa substância não-dual de Brahman, Paramātmā ou Bhagavān.]


O Senhor é um, mas possui três aspectos: Brahman, Paramatma e Bhagavan. Brahman é chamado de sua refulgência corporal. Paramatma é a Superalma, que reside no coração de todos os seres vivos. E Bhagavan é aquele que possui as seis opulências.


Como você conhecerá Bhagavan? [Somente] se você praticar serviço devocional, bhakti. Ao realizar karma, jñana, yoga ou tapasya, você não pode compreender Deus. Você só poderá compreendê-lO com seu serviço devocional, suddha-bhakti. Os impersonalistas não querem praticar bhakti, e por essa razão, eles não conseguem ver o Senhor. Se você realizar serviço devocional (seva) — bhakti significa seva — então você poderá vê-lO. 


bhaktir evainaṁ nāyati

bhaktir evainaṁ darśayati

bhakti-vaśaḥ puruṣo

bhaktir eva bhūyasī


(Mathara-śruti)


[Bhakti conduz a jīva ao Senhor e permite que a alma veja a Suprema Personalidade de Deus. O Senhor é controlado por bhakti. Bhakti é o melhor de todos. (Comentário de Madhvacharya ao Vedanta-sutra 3.3.53)]


Bhaktir evainaṁ nāyati — Bhakti te leva ao Senhor. Bhakti-vaśaḥ puruṣo — Ele é completamente controlado por suddha-bhakti. Mãe Yashoda controla Krishna com seu vatsalya-bhava, humor de amor parental. Subala e Sridama controlam Krishna com seu sakhya-bhava, humor de amizade. As gopis controlam Krishna com seu humor doce, madhurya-bhava. E Srimati Radhika controla completamente Krishna com seu humor de amor mais elevado, o parakiya-bhava.


Por essa razão, Srimati Radhika controla Krishna, pois sua bhakti e seva são únicos e incomparáveis. Os jnanis e yogis não possuem o humor de serviço, então Krishna não revela Sua forma a eles. Krishna não é controlado pelas atividades deles.


na sādhayati māṁ yogo 

na sāṅkhyaṁ dharma uddhava 

na svādhyāyas tapas tyāgo 

yathā bhaktir mamorjitā 


(Śrīmad-Bhāgavatam, 11.14.20) 


["Meu querido Uddhava, Eu não posso ser controlado por aqueles que estudam a filosofia Sānkhya ou as escrituras (śāstra), ou que praticam yoga místico, atos piedosos, austeridade ou renúncia. Eu sou controlado apenas por aquela poderosa bhakti oferecida a Mim por Meus devotos de coração puro."]


Krishna está dizendo muito claramente que, através da execução de karma, jnana, yoga, tapasya, apenas lendo os Vedas, shastras e acumulando conhecimento — você não pode controlar Krishna. Como controlá-lO? Através de suddha-bhakti. Se você praticar suddha-bhakti, você poderá controlá-lO.


anyābhilāṣitā-śūnyaṁ

jñāna-karmādy-anāvṛtam

ānukūlyena kṛṣṇānu-

śīlanaṁ bhaktir uttamā


(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā,, 19.167)


[Quando o serviço devocional de primeira classe se desenvolve, a pessoa deve ser desprovida de todos os desejos materiais, conhecimento obtido pela filosofia monística e ação fruitiva. O devoto deve constantemente servir Krishna favoravelmente, como Krishna deseja.]


Uttama-bhakti é suddha-bhakti, o serviço devocional puro a Krishna. É o cultivo de atividades para o prazer exclusivo de Krishna, que não está coberto por jnana, karma, yoga e tapasya, e é livre de todos os tipos de coisas indesejadas. São atividades voltadas exclusivamente para dar prazer a Krishna.


Anyābhilāṣitā-śūnyaṁ, jñāna-karmādy-anāvṛtam, ānukūlyena kṛṣṇānu-śīlanaṁ. Todas as suas atividades serão favoráveis ao serviço a Krishna, isso é uttama-bhakti. Essa uttama-bhakti está completamente presente no coração de Srimati Radhika. Por esse motivo, Srimati Radhika controla Krishna.


Srimati Radhika diz: "Ei, Krishna! Sente-se", e Krishna se senta. Ela diz: "Levante-se", e Ele se levanta. Por esse motivo, Krishna diz: rādhikāra prema — guru, āmi — śiṣya naṭa… [Śrī Caitanya-caritāmṛta, Ādi-līlā, 4.124] Srimati Radhika é minha prema-guru. Dessa maneira, Srimati Radhika controla Krishna. Ele diz: "Eu sou Seu discípulo e Srimati Radhika é minha guru".


Primeiro, os shastras dizem: krishna vande jagad guru, Krishna é jagat-guru, o guru do universo. E aqui Krishna está dizendo: "Não, não, Srimati Radhika é minha guru". Que tipo de guru? Prema-guru. Srimati Radhika, com seu amor divino, prema, O controla. Ela diz: “Ei Krishna, coloque alta (líquido vermelho) nos meus pés”. Sita Devi não pode dizer isso a Ramachandra. Mas aqui, Srimati Radhika diz: “Faça isso, faça aquilo”. Por quê? Porque Ela tem esse tipo de amor supremo.


Que tipos de prema estão presentes no coração de Srimati Radhika? Com esse prema Ela controla Krishna. Prema, sneha, mana, pranaya, raga, anuraga, bhava, mahabhava, rudha, adhirudha, mohana, modana e madanakhya-mahabhava. Por isso, Srimati Radhika controla absolutamente Krishna. Entendem? Vocês podem não entender, mas tentem compreender. Que tipo de amor há no coração de Srimati Radhika? Por que estou dizendo isso? Porque os Upanishads estão dizendo: Bhaktir evainaṁ nayati, bhaktir evainaṁ darśayati… [Somente bhakti pode colocar alguém em contato com a Suprema Personalidade de Deus.]


Como ver o Senhor? Com seus olhos, você não pode vê-lO. É necessário bhakti e seva-vrtti (disposição para o serviço devocional). Se você quiser ver o Senhor com seus olhos [materiais], você verá: "Oh, isso é metal, isso é pedra...". Tente ver o Senhor com seus olhos transcendentais e com amor transcendental e divino.


Temos dois tipos de olhos: olhos de luxúria e olhos de amor divino. Com quais olhos você está olhando para o Senhor? Isso depende de você. O Senhor nos deu dois olhos, isso é verdade, mas com quais olhos você está olhando para Ele? Com os olhos de luxúria, você pode ver o Senhor como se fosse metal ou pedra, mas com os olhos de amor, você terá o darshana de Sua sad-cid-ananda-vigraha. Por isso:


ātmendriya-prīti-vāñchā — tāre bali ‘kāma’

kṛṣṇendriya-prīti-icchā dhare ‘prema’ nāma


(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Ādi-līlā,, 4.165)


[O desejo de alguém de satisfazer os próprios sentidos é kāma (luxúria), mas o desejo de satisfazer os sentidos do Senhor Kṛṣṇa é prema (amor).]


Qual é a diferença entre amor e luxúria? Krishnadasa Kaviraja Gosvami, no Chaitanya-charitamrita, dá a definição sobre isso. Você entende? Ātmendriya-prīti-vāñchā — tāre bali ‘kāma’, o que se refere à própria gratificação dos sentidos é chamado de luxúria. Mas o que é para o prazer exclusivo de Krishna é chamado de amor divino.


Portanto, que tipo de olhos você está usando para olhar para o Senhor? Olhos de gratificação dos sentidos ou olhos de amor divino? Da mesma forma, você pode controlar Krishna com seu serviço devocional, bhakti, seva. Você pode controlar qualquer um quando serve a Ele. O Senhor é completamente controlado pelo serviço devocional de Seus devotos. Seva hi paramo dharma, servir é a maior virtude. Se você servir alguém, então ele será controlado. Sirva Guru e Krishna com seu corpo, mente e fala, kayu mano vakya seva.


etāvaj janma-sāphalyaṁ

dehinām iha dehiṣu

prāṇair arthair dhiyā vācā

śreya-ācaraṇaṁ sadā


(Śrīmad-Bhāgavatam, 10.22.35)


[É dever de todo ser vivo realizar atividades de bem-estar em benefício dos outros com sua vida, riqueza, inteligência e palavras.]


O Srimad-Bhagavatam fornece as evidências: etāvaj janma-sāphalyaṁ — esta vida será bem-sucedida quando você servir Guru, Vaishnavas e Bhagavan com seu corpo, mente e fala. Isso está explicado muito claramente.


Em qualquer lugar, sirva Guru e Krishna. Aprenda este verso do Srimad-Bhagavatam [10.22.35]. Seva-vrtti, sempre sirva, seva hi bhakti. O que é bhakti? Bhakti significa servir, bhajate sevate iti bhakti.


Gaura Premanande!

Jay Jay Sri Radhe!



Transcrição: Braja Sundari Devi Dasi

Edição: Taruni Gopi Dasi

Revisão: Acyuta Priya Devi Dasi


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