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Glórias de Srila Gopala Bhatta Gosvami

  • Foto do escritor: Vana Madhuryam Brasil
    Vana Madhuryam Brasil
  • 16 de jan.
  • 17 min de leitura

Srila Bhaktivedanta Vana Gosvami Maharaja

30 de julho de 2021, México


Recentemente foi o dia do desaparecimento de Gopala Bhatta Gosvami, um dos Vaishnavas mais próximos e queridos do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Por isso, quero falar sobre a sua história de vida e contribuições. 


Gopala Bhatta Gosvami nasceu em Sri Rangam, próximo ao sul da Índia. Seu pai se chamava Venkata Bhatta, e Prabodhananda Sarasvatipada e Trimalla Bhatta eram seus tios. Eles eram de uma família de brahmanas de alta classe, e eram conhecidos como Bhatta parivara.


Quando o Senhor Chaitanya Mahaprabhu viajou pelo sul da Índia, primeiramente, ele se encontrou com Raya Ramananda nas margens do rio Godavari. Depois, Mahaprabhu chegou a um templo muito belo de Venkatesvara Bhagavan. Dentro do templo, o Senhor Chaitanya estava completamente absorto em seu humor estático enquanto cantava e dançava.


Ao presenciar isso, todos os presentes, incluindo Prabodhananda Sarasvatipada, Trimalla Bhatta e Venkata Bhatta, ficaram completamente surpresos enquanto recebiam o darsana de Mahaprabhu. Como um todo, a família Bhatta parivara era parte da Sri Sampradaya, e na verdade, eles adoravam Lakshmi-Narayana. Eles, então, convidaram o Senhor Chaitanya Mahaprabhu para permanecer com eles em sua casa por alguns dias. Durante esse período, era Chaturmasya.


Enquanto ficava em sua casa, Sriman Mahaprabhu glorificava os doces passatempos do Casal Divino, Radha e Krishna, todos os dias. Isso porque Chaitanya Mahaprabhu estava sempre absorto no humor de Srimati Radhika e, por essa razão, Ele narrou o Srimad Bhagavatam diariamente. Especialmente, ele glorificou os doces passatempos amorosos de Krishna com as gopis, e também falou sobre krishna-tattva, radha-tattva, prema-tattva e rasa-tattva. Chaitanya Mahaprabhu discutiu todos esses tattvas, deixando todos eles muito surpresos.


Particularmente, Mahaprabhu falou sobre rasa-pancha-dhyayi, que são os cinco capítulos do Srimad Bhagavatam, do 29 ao 33, do décimo canto. Durante essa ocasião, a família Bhatta parivara ficou maravilhada e completamente inebriada ao ouvir esse rasa-lila-katha. Durante a estadia de Mahaprabhu, eles demonstraram muito amor e afeição por Ele, e O trataram como se Ele fosse um membro da família — laukika-sad-bandhuvat-priti.


Às vezes, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu ria e brincava enquanto discutia diferentes tópicos com eles. Certo dia, Mahaprabhu, enquanto ria e brincava, perguntou: “Vocês adoram Lakshmi-Narayana. Porém, no Srimad Bhagavatam é dito que Lakshmi-devi está até hoje realizando austeridades severas em Vrindavana para conseguir entrar na dança da rasa. Mesmo assim, ela não é qualificada para entrar na dança da rasa com as gopis. Eu também ouvi sobre como os Srutis, Vedas e Puranas se manifestaram em forma de gopis e foram autorizados a participar da dança da rasa. Mas ainda sim, sua Lakshmi-devi não o pôde”.


“Sua Lakshmi-devi é conhecida por ser uma mulher casta. Mas por que ela abandonou o seu esposo Narayana para realizar duras austeridades em Baelvana, para conseguir entrar na dança da rasa e se encontrar com Krishna? Aqueles que adoram Lakshmi-Narayana seguem as regras e regulações das escrituras, vidhi-marga. Portanto, por que Lakshmi-devi abandonou o seu esposo Narayana e está realizando austeridades severas em Baelvana, Vrindavana?”.


Desta forma, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu ria e brincava com eles. Mahaprabhu também disse: “Krishna é minha ista-deva, e Ele é gopa-jati, nascido na dinastia dos gopas. Assim, ele é um vaqueirinho ordinário que passa os seus dias pastoreando as vacas com seus amigos. Krishna é um menino muito simples e completamente negro. Ele não veste nenhum tipo de ornamento em seu corpo, e simplesmente mantém uma pena de pavão em sua cabeça. Ele passa o seu tempo tocando flauta e até mesmo aceita os remanentes de comida dos seus amigos. A dinastia dos vaqueiros é mais baixa em casta que a dinastia brahmana. E a sua ista-deva, Lakshmi, é uma brahmani, portanto, ela é de uma classe mais elevada do que a dinastia dos vaqueiros”.


“Sabendo disso, por que Lakshmi-devi deseja se encontrar com Krishna, que pertence a uma dinastia inferior, a dos vaqueiros? Outro ponto é que, Lakshmi tem muita opulência em Vaikuntha — ela é chamada de Rainha de Vaikuntha. E ela tem tantas servas, bem como tem acesso a tantos tipos de opulência encontradas lá. Por que ela iria querer se encontrar com Krishna para dançar e cantar com ele na dança da rasa?” Dessa forma, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu ria e brincava com a família.


Depois disso, Prabodhananda Sarasvati, Venkata Bhatta e Trimalla Bhatta perguntaram ao Senhor Chaitanya Mahaprabhu: “Prabhu, por que Você está rindo e fazendo brincadeiras a respeito da nossa ista-deva Lakshmi? Os nossos sastras explicam que não há diferença entre o Senhor Narayana e Krishna”.


De acordo com as concepções de nossas escrituras, não há diferença entre Narayana e Krishna. O Senhor é um, todavia, de acordo com rasa-madhurya, Ele saboreia muitas rasas diferentes. Por esta razão, o mesmo Krishna se manifesta na forma de Narayana em Vaikuntha. Assim, de acordo com o tattva-vichara, não existe diferença entre Narayana e Krishna.


Uma pessoa pode ter duas profissões diferentes. Ela pode, por exemplo, ser advogada em um emprego e médica em outro. Sempre que ela for ao tribunal, todos irão se referir a ela como advogada, e quando estiver trabalhando em sua clínica, todos a chamarão de doutora. Embora seja a mesma pessoa em ambas as funções, ela se veste de maneira diferente, de acordo com cada profissão.


Para concluir, isso significa que não existe diferença entre Narayana e Krishna. Mesmo assim, de acordo com o rasa-vichara, a concepção das doçuras transcendentais, Krishna é o mais elevado. Contudo, a pessoa é a mesma. O Senhor não é uma pessoa diferente em cada uma de suas manifestações. Os nossos sastras explicam: eka brahma dvitīya nāsti — existe apenas um Brahma, sem haver um segundo.


A família Bhatta parivara usou sua lógica para perguntar ao Senhor: “Por que você está rindo e fazendo brincadeiras conosco? Lakshmi-devi não perdeu a sua castidade. Ela tem muita nistha pelo seu esposo Narayana. Por que você ri e faz brincadeiras sobre a nossa ista-deva Lakshmi-devi dessa forma?”.


Mahaprabhu respondeu: “Essa é uma boa pergunta. O Senhor é um, mas de acordo com as suas lilas (passatempos), Ele se manifesta em diferentes formas: Vaikuntha Narayana, Ayodhya Ramachandra, Dvarakadhisa Krishna, Mathuradhisa Krishna e Vrajendra-nandana Syamasundara”.


Dessa maneira, o Senhor saboreia muitas doçuras diferentes nos corações de Seus devotos. Aqui, nós estamos vendo a deidade na forma do Senhor Jagannatha. Mas quem é Jagannatha? Ele é não diferente de Krishna; Ele é Dvarakadhisa Krishna. E também existe Mathuradhisа Krishna. O Senhor se manifesta de diferentes maneiras em Vrindavana, Mathura, Dvarаka, Ayodhya e Vaikuntha-dhama.


Srimati Radhika permanece sempre em Goloka Vrindavana. Contudo, ela também se manifesta de diferentes formas em Vaikuntha, Ayodhya, Dvaraka e Mathura. A própria Srimati Radha se manifesta na forma de Lakshmi-devi em Vaikuntha. E da mesma maneira, Sri Radha se manifesta em Ayodhya na forma de Sita-devi. Srimati Radhika também se manifesta em Dvaraka na forma de Satyabhama. Isso significa que não há diferença entre Srimati Radharani e Lakshmi. Similarmente às muitas encarnações de Krishna, Srimati Radhika também manifesta muitos tipos de encarnações. 


Prabodhananda Sarasvatipada e outro Bhatta parivara perguntaram ao Senhor: “Prabhu, por que Você está brincando e rindo conosco enquanto critica a nossa ista-devi Lakshmi-devi? Como nós explicamos, Lakshmi-devi tem nistha pelo Senhor Narayana, e ela não perdeu a sua castidade, pois o Senhor Narayana não é diferente de Krishna”.


Mahaprabhu disse: “A sua resposta é boa, e Eu a aceito. No entanto, os Vedas, Puranas e Upanishads conseguiram manifestar suas formas de gopi, e após realizarem austeridades severas, eles entraram na dança da rasa, enquanto Lakshmi-devi não teve essa qualificação. Por quê?”.


Eles responderam: “Prabhu, nós não sabemos o porquê…” Então, Mahaprabhu disse: “Escutem com muito cuidado. Certa vez, Narada Rsi foi a Vaikuntha-dhama. Enquanto estava lá, ele começou a glorificar a dança da rasa com as gopis — a lila mais elevada de Krishna”.


jaya jaya ujjvala-rasa sarva-rasa-sāra

parakīyā-bhāve ĵāhā vrajete pracāra


(Sri Vraja-dhama-mahimamrta, verso 10)


[Todas as glórias, todas as glórias ao ujjvala-rasa (śṛṅgāra-rasa), que é a essência e o mais excelente de todos os rasas, conhecido como o parakīya-bhāva (amor extra conjugal) de Vraja.]


"Dessa forma, Narada Rsi glorificou lindamente a rasa-lila Krishna com Suas gopis em Vrindavana. Ao ouvir isso, um grande desejo surgiu no coração de Lakshmi-devi. Ela perguntou a Narada Rsi: 'Ó, Rsi! Diga-me, como posso entrar nessa dança da rasa com as gopis em Vrindavana?' Narada respondeu: 'Entrar na dança da rasa em Vrindavana é muito simples. Tudo o que você precisa fazer é ir até lá e realizar austeridades severas. Assim, Krishna ficará satisfeito com você e, talvez, permita que você participe de Sua dança da rasa'. Seguindo as instruções de Narada Rsi, Lakshmi-devi deixou Vaikuntha-dhama e foi até Bhauma-Vrindavana para iniciar árduas austeridades", contou Mahaprabhu.


Se você visitar Baelvana, poderá ver Lakshmi-devi sentada de mãos postas, prestando reverências e realizando duras austeridades. Vrindavana é um local muito quente, especialmente durante o verão. Não é fácil tolerar o calor de Vrindavana, principalmente quando ventos quentes começam a soprar.


Normalmente, Lakshmi-devi reside em Vaikuntha, um lugar muito agradável, belo e opulento, onde o ar é sempre agradável. No entanto, agora, sob condições severas, ela realiza austeridades rigorosas em Vrindavana, que é repleta de vento, poeira e vacas por todos os lados.


Mesmo com todas essas dificuldades, Lakshmi-devi foi até Vrindavana realizar austeridades rigorosas. Ela abandonou todo tipo de gratificação dos sentidos, bhoga-tyaga. Enquanto está em Vrindavana, ela não tem servas. Ninguém a está abanando, oferecendo água, comida ou qualquer outra coisa. Isso é porque Lakshmi-devi é a rainha de Vaikuntha e, quando reside lá, ela tem muitas servas ao seu redor, prestando diversos serviços. Contudo, agora, ela abandonou todas as suas opulências e está realizando austeridades rigorosas em Baelvana, Vrindavana.


Talvez, para manter sua vida, ela beba somente um suco de bael (marmelos), sem nenhum outro alimento. Por muitos anos em Vrindavana, Lakshmi-devi realizou austeridades severas dessa maneira. Eventualmente, Krishna apareceu na sua frente e disse: “Ó Lakshmi-devi, estou muito satisfeito com você. Peça qualquer bênção que deseje”.


Lakshmi-devi disse: “Ó Govinda, eu desejo apenas entrar em Sua dança da rasa como uma de Suas gopis”. Contudo, Krishna respondeu: “Isso é impossível para você.” Lakshmi-devi insistiu: “Não, não… Eu preciso entrar em Sua dança da rasa na forma de uma gopi!” Então, Krishna disse: “Para entrar em Minha dança da rasa, você deve seguir algumas de Minhas instruções. A primeira instrução é: você deve abandonar seu ego de ser uma brahmani brahmani-abhimana”.


Krishna deu essa instrução porque Lakshmi-devi tem muito orgulho de suas atividades como brahmani. Ela pensa: “Eu sou uma brahmani. Sou de uma casta muito elevada.” Por essa razão, a primeira instrução de Krishna foi que, primeiramente, ela deveria abandonar esse ego. Ao ouvir isso, Lakshmi-devi disse: “Como é possível que eu abandone o meu orgulho de ser uma brahmani?” Krishna disse: “Não apenas isso. Há mais uma condição: você precisa nascer em Vrindavana”.


Lakshmi-devi perguntou: “Como é possível que eu nasça em Vrindavana, que é cheia de poeira? Minha morada é Vaikuntha, que está sempre limpa e organizada. Como poderia eu nascer em um lugar como Vrindavana?” Krishna continuou: “Escute, há mais instruções. Em terceiro lugar, você deve nascer do ventre de uma gopi.” Lakshmi-devi rebateu: “Isso é simplesmente impossível para mim. Eu não desejo nascer no ventre de nenhuma gopi.” Krishna disse: “Continue ouvindo, pois ainda há mais condições. Você também deve se casar com um gopa, e com um humor extraconjugal, parakiya-bhava, você se encontrará Comigo”.


Ao ouvir isso, Lakshmi-devi rapidamente respondeu: “Isso é impossível para mim. Eu sou uma mulher casta. Como poderei abandonar meu marido Narayana para me casar com um gopa? Desse modo, eu vou para o inferno!” Krishna prosseguiu: “Não somente isso. Existem outras condições. Você deve permanecer na companhia das gopis que são nitya-parikaras, como Radha, Lalita e Visakha”. Lakshmi-devi disse: “Como é possível que eu me associe com elas? Elas são simples vaqueirinhas e eu sou Rajarani, a Rainha de Vaikuntha!”.


“Além disso, você deve abandonar sua vestimenta opulenta de rainha, que é cheia de ornamentos, e deve se vestir como uma gopi comum. E mais, você deve realizar deveres domésticos ordinários de gopi, como fazer bolinhas de esterco com as mãos”, disse Krishna. Quando ouviu isso, Lakshmi-devi respondeu: “Como é possível que eu faça bolinhas de esterco de vaca com as minhas próprias mãos? Um mau cheiro surgirá! Eu não quero fazer isso.” Finalmente, Krishna disse: “Você não é qualificada para entrar na Minha dança da rasa na forma de uma gopi”.


Mesmo não sendo qualificada para entrar na dança da rasa, até hoje, Lakshmi-devi continua realizando austeridades severas em Baelvana. Isso ocorre porque o Senhor Chaitanya Mahaprabhu disse à Bhatta parivara: “Embora Lakshmi-devi esteja realizando austeridades rigorosas lá, ela foi incapaz de entrar na dança da rasa. No entanto, vemos que os Vedas, Puranas e Upanishads, como o Gopala-tapani Upanishad, após realizarem austeridades em Vrindavana, foram permitidos a entrar na dança da rasa”.


Por quê? Porque os Vedas e Upanishads seguiram todas as regras e regulações de Vrindavana. Todavia, nós vemos claramente que Lakshmi-devi não quer seguir nenhuma das regras de Vraja. Ela deseja entrar na dança da rasa com sua própria forma de Lakshmi, mas isso não é possível. Outro aspecto é que Krishna sempre aparece na dinastia gopa, na família de vaqueiros. Por isso, Krishna não aceita ninguém que tenha nascido fora da dinastia gopa. Esse verso do Chaitanya-charitamrita explica claramente:


gopa-jāti kṛṣṇa, gopī — preyasī tāṅhāra

devī vā anya strī kṛṣṇa nā kare aṅgīkāra


(Chaitanya-charitamrita, Madhya-lila, 9.135)


[O Senhor Krishna pertence à comunidade vaqueira, e as gopis são as suas mais queridas amadas. Mesmo que as esposas dos habitantes dos planetas celestiais sejam as mais opulentas desse mundo material, nem mesmo elas ou nenhuma outra mulher no universo material é capaz de conseguir a associação de Krishna.]


Assim, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu estabeleceu que a lila mais elevada de Krishna é a rasa-lila. Embora seja confirmado que Krishna é um, também é aceito que Ele possui muitas encarnações. Em sua forma original como Vrajendra-nandana Syamasundara, Krishna possui sessenta e quatro qualificações. Porém, uma particularidade de Vrajendra-nandana Syamasundara é que Ele possui quatro qualificações extraordinárias, as quais não são encontradas no Senhor Narayana, no Senhor Ramachandra ou em Dvarakadhisha Krishna.


E quais são essas quatro qualidades extraordinárias? 1) rupa-madhurya, a doçura de Sua beleza divina; 2) lila-madhurya, a doçura de Seus passatempos divinos; 3) prema-madhurya, a doçura do Seu amor divino; e 4) venu-madhurya, a doçura do divino som de Sua flauta.


Essas quatro qualificações extraordinárias não são encontradas em nenhuma outra encarnação do Senhor, nem mesmo em Ayodhyapati Ramachandra e Vaikuntha-Adipati Narayana — somente Krishna as possui.


Dessa forma, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu glorificou os doces passatempos de Krishna — madhurya-lila. Então, Prabodhananda Sarasvatipada, Venkata Bhatta e Trimalla Bhatta perguntaram: “Como poderemos alcançar os pés de lótus de Srimati Radhika e Vrajendra-nandana Syamasundara?” Mahaprabhu respondeu: “Você deve adorar Vrajendra-nandana Syamasundara, abandonar todos os tipos de atividades, e realizar bhajana e sadhana sob a guia das vraja-gopis”.


gopī-ānugatya vinā aiśvarya-jñāne

bhajileha nāhi pāya vrajendra-nandane


(Chaitanya-charitamrita, Madhya-lila, 8.230)


[A não ser que se siga os passos das gopis, não é possível alcançar o serviço aos pés de lótus de Krishna, o filho de Nanda Maharaja. Se alguém é vencido pelo conhecimento da opulência do Senhor, ele não pode obter os pés de lótus do Senhor, mesmo que ele esteja engajado em serviço devocional.]


Sem seguir os passos das gopis, ninguém pode entrar em Vraja. E o que gopi-anugatya significa exatamente? Que você precisa realizar bhajana e sadhana sob a guia das vraja-gopis. Isso é muito importante. Nós acabamos de ouvir que Lakshmi-devi não quer seguir as instruções das gopis, gopis-anugatya. E também, ela não deseja nascer em Vrindavana no ventre de uma gopi. No entanto, sem ter uma gopi-deha, a forma de uma gopi, não é possível entrar na dança da rasa.


Após ouvir tudo isso do Senhor, Prabodhananda Sarasvatipada, Trimalla Bhatta e Venkatta Bhatta mudaram completamente de ideia, pararam de adorar Lakshmi-Narayana e começaram a adorar o casal divino Radha-Krishna. Então, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu os instruiu a como obter a forma de uma gopi e como realizar bhajana e sadhana em Goloka Vrindavana.


Naquela época, Gopala Bhatta Gosvami era apenas uma criança muito pequena, talvez com apenas cinco ou seis anos de idade. Apesar de sua tenra idade, ele demonstrava muito apego ao Senhor Chaitanya Mahaprabhu, e diariamente, ele massageava Seus pés de lótus. Mahaprabhu ficava muito satisfeito com Gopala Bhatta Gosvami e oferecia Seus próprios remanentes para ele.


Diariamente, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu narrava a lila-kathamrita de Vrindavana de forma belíssima. Contudo, após quatro meses, Mahaprabhu teve que continuar Suas viagens. Então, como um garotinho, Gopala Bhatta Gosvami falou para Ele: “Eu quero ir com Você!” Mas Mahaprabhu respondeu: “Não, Gopala… Fique em sua casa e sirva os seus pais, porque eles são Vaishnavas.” O Senhor Chaitanya Mahaprabhu instruiu a todos:


prabhu kahe, — “vaiṣṇava-sevā, nāma-saṅkīrtana


(Chaitanya-charitamrita, Madhya-lila, 16.70)


[O Senhor respondeu: “Você deve se engajar no serviço aos servos de Krishna e sempre cantar os santos nomes de Krishna”.]


Todos devem cantar os santos nomes e servir os Vaishnavas. Nesse sentido, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu instruiu Gopala Bhatta Gosvami: “Seus pais são Vaishnavas, então não há necessidade de abandonar sua casa. Porém, quando eles partirem deste mundo material, vá para Vrindavana, fique com Rupa e Sanatana e continue seu sadhana lá.” Depois disso, Mahaprabhu deixou seu vilarejo. Após a partida, o pequeno Gopala Bhatta Gosvami desmaiou por não conseguir tolerar a separação do Senhor Chaitanya Mahaprabhu.


De acordo com a instrução de Mahaprabhu, Gopala Bhatta Gosvami serviu seus pais, cantou os santos nomes e todos os seus mantras diariamente. Após muitos anos, seus pais abandonaram o corpo. Então, Gopala Bhatta Gosvami deixou sua casa e foi para Vrindavana. No meio do caminho, ele chegou ao lago Sarovara e, enquanto se banhava no rio, uma grande shalagrama foi parar em sua mão.


Então, Gopala Bhatta Gosvami começou a adorar essa shalagrama-shila. Ele pensava: “Essa é a forma combinada do Casal Divino, Radha e Krishna.” Na verdade, existem vários tipos de shalagrama-shilas. O Hari-bhakti-vilasa explica como cada shalagrama-shila possui um sinal que indica se ela é narayana-shila, damodara-shila ou narasimha-shila.


Ao se estabelecer em Vrindavana, Gopala Bhatta Gosvami iniciou seu bhajana e sadhana sob a guia de Srila Rupa e Srila Sanatana Gosvami. Ele passou dia e noite cantando os santos nomes enquanto sentia profunda separação do Senhor Chaitanya Mahaprabhu.


saṅkhyā-pūrvaka-nāma-gāna-natibhiḥ kālāvasānī-kṛtau

nidrāhāra-vihārakādi-vijitau cātyanta-dīnau ca yau

rādhā-kṛṣṇa-guṇa-smṛter madhurimānandena sammohitau

vande rūpa-sanātanau raghu-yugau śrī-jīva-gopālakau


(Sad-gosvami-astaka, verso 6)


[Eles passavam o tempo diariamente cantando um número fixo de santos nomes, entoando canções específicas e oferecendo reverências reguladas [aos santos, deidades e locais dos passatempos do Senhor]. Assim, conquistaram plenamente os impulsos de comer, dormir, recrear-se e outros. Sempre se considerando ilimitadamente humildes e insignificantes, tornaram-se encantados com o doce êxtase de lembrar-se das qualidades de Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa. Eu adoro Śrī Rūpa, Sanātana, Raghunātha Bhaṭṭa, Raghunātha dāsa, Jīva e Gopāla Bhaṭṭa Gosvāmīs.]


Srinivasa Acharya compôs essa glorificação aos seis Gosvamis chamada Sad-gosvami-astaka.


Gopala Bhatta Gosvami, devido a sua associação direta com Gaura Hari, sentiu as dores da saudade do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Ele era incapaz de esquecer o amor e a afeição dados por Ele. Certo dia, ele estava pensando: “Se a minha Thakuraji é o Casal Divino, Radha e Krishna, desejo vesti-La com belas roupas e decorá-La muito bem. No entanto, a minha Thakuraji é uma shalagrama-shila. Como posso colocar qualquer roupa Nela? Minha Thakuraji não possui pernas e mãos, ela é redonda!” Redonda como uma rasagulla.


Ao meio dia, Gopala Bhatta Gosvami saiu de seu kutira para coletar doações nas casas dos Vrajavasis. Ao retornar, ele notou que sua shalagrama-shila tinha se manifestado em uma esplêndida forma dobrada em três partes chamada tribhanga-lalita. E qual o nome dessa deidade? Radha Ramana. Ela tem uma forma belíssima, tocando flauta e com um rosto sorridente. É possível ver que Ela até mesmo possui alguns dentes.


Nas costas de Radha Ramana, ainda é possível ver a shalagrama-shila original. Você pode se perguntar: quem é Radha Ramana? Na verdade, essa deidade não é diferente do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. E quem é o Senhor Chaitanya Mahaprabhu? Ele é a forma combinada do Casal Divino, Radha e Krishna. Sri Radha Ramana ki jaya!


Radha Ramana, deidade adorada por Gopala Bhatta Gosvami
Radha Ramana, deidade adorada por Gopala Bhatta Gosvami

mero radha ramana giridhari

giridhari syama banvari


Gopala Bhatta Gosvami adorava a sua Thakuraji, Radha Ramana, com muita dedicação. Atualmente, Radha Ramana está localizada no templo de Radha Ramana em Vrindavana, onde Bhatta parivara também costumava adorá-La.


Na nossa linhagem Gaudiya Vaishnava, existem três deidades proeminentes: Govinda, Gopinatha e Madana-Mohana. De forma extraordinária, Radha Ramana representa essas três deidades em uma só. Assim, ao ter o darshana de Radha Ramana, você obtém os mesmos resultados ou frutos de ter o darshana de Govinda, Gopinatha e Madana-Mohana juntos.


Gopala Bhatta Gosvami também compôs muitos granthas (escrituras sagradas). Certa vez, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu o instruiu: “Você deve reunir todos os slokas sobre Vaishnava shuddha-sadachara”. Esses versos falam sobre o comportamento apropriado dos Vaishnavas. 


Seguindo as instruções do Senhor, Gopala Bhatta Gosvami reuniu muitos slokas sobre shuddha-sadachara da Ramanujacharya Sampradaya e da Sri Sampradaya. Além disso, ele também escreveu o comentário da escritura Krishna-karnamrita e compôs diversos outros granthas. Após reunir os slokas de shuddha-sadachara, Gopala Bhatta Gosvami entregou todos eles a Sanatana Gosvamipada. Então, Sanatana Gosvamipada organizou esses versos e manifestou o grantha Hari-bhakti-vilasa.


Gopala Bhatta Gosvami também manifestou o grantha Sat-kriya-sara-dipika, que ensina como realizar sacrifícios de fogo e diversas atividades Vaishnavas, como a cerimônia de grãos, conhecida como annaprashana-samskara, e também os upanayana-samskaras. Muitos outros samskaras estão descritos neste grantha.


Enquanto estava em Vraja, Gopala Bhatta Gosvami se absorveu em meditação nas asta-kaliya-lilas do Casal Divino, Radha-Krishna. Ele realizou grande parte de seu bhajana e sadhana em Vrindavana, especialmente em Sanketavana. Se você fizer o parikrama (peregrinação) de Vrindavana, visitará um local entre Varshana e Nandagaon chamado Sanketa Isvari. Lá, Krishna toca sua flauta e todas as gopis se apressam para encontrá-lo e participar da belíssima rasa-lila. Foi nesse mesmo local que Gopala Bhatta Gosvami realizou seu bhajana e sadhana, e hoje, seu samadhi está ali.


A forma transcendental de Gopala Bhatta Gosvami, sua siddha-deha, é Guna Manjari, uma das sakhis mais queridas de Srimati Radhika. 


Gopala Bhatta Gosvami também tem um discípulo. Narottama, Syamananda e Srivasa receberam diksha de gurus diferentes: Narottama Dasa Thakura recebeu diksha de Lokanatha Dasa Gosvami; Syamananda Prabhu recebeu diksha de Hridaya Chaitanya; e Srivasa Acharya recebeu diksha de Gopala Bhatta Gosvami. Contudo, todos eles receberam siksha de Jiva Gosvamipada.


Todos eles satisfizeram os desejos de seu gurudeva. Qual é o melhor desejo do guru? O que um guru fidedigno quer? Uma roupa muito bela? Uma prasada muito saborosa? Muito suco? Muito dinheiro? Nenhuma dessas coisas. Na verdade, um guru fidedigno deseja que satisfaçam seu desejo de servir sua ista-deva, o Casal Divino, Radha e Krishna.


O guru ficará satisfeito se você servi-lo com vani-seva. Existem dois tipos de guru-seva: vapu-seva e vani-seva. Vapu-seva significa servir o guru fisicamente, como lavar suas roupas, cozinhar para ele, massagear seus pés, entre outros. Vani-seva significa ouvir o hari-katha dos lábios de lótus do guru e pregar esse katha por todo o planeta. Isso é chamado de brhat-mrdanga-seva, ou seja, pregar os ensinamentos de gurudeva de um canto a outro do mundo. Isso inclui publicar livros, grantha-seva, que é considerado o melhor serviço ao guru. Gurudeva disse: “Você pode publicar e distribuir livros, mas deve ler todos eles. Caso contrário, você os distribuirá sem saber o que está escrito neles”.


Um devoto da ISKCON se encontrou com Gurudeva, Srila Narayana Gosvami Maharaja. Srila Gurudeva perguntou a ele: “Qual é o seu serviço no templo?” O devoto respondeu: “Eu distribuo livros.” Gurudeva, então, perguntou: “Quais livros você está distribuindo?” O devoto respondeu: “Estou distribuindo um livro muito bom, o Bhakti-rasamrita-sindhu.” Gurudeva continuou: “Quem escreveu o Bhakti-rasamrita-sindhu?” O devoto disse: “Eu não sei...” Gurudeva perguntou: “Você já leu o livro?” O devoto respondeu: “Não, eu não li. Eu apenas carrego muitos livros e os distribuo”. 


Então, Gurudeva disse: “Tudo bem, distribuir livros, grantha-seva, é muito bom. Esse é um dos melhores serviços, e eu acredito nisso. Mas você precisa ler os livros. Você está distribuindo o Bhakti-rasamrita-sindhu e não sabe sobre o que ele trata. Você conhece o verso que define suddha-bhakti?” O devoto respondeu: “Não”.


anyābhilāṣitā-śūnyaṁ jñāna-karmādy-anāvṛtam

ānukūlyena kṛṣṇānu-śīlanaṁ bhaktir uttamā


(Bhakti-rasāmṛta-sindhu, 1.1.11, de Śrīla Rūpa Gosvāmī)


[Uttamā-bhakti, serviço devocional puro, é o cultivo de atividades destinadas exclusivamente ao prazer e benefício de Śrī Kṛṣṇa. Trata-se de um fluxo ininterrupto de serviço a Śrī Kṛṣṇa, realizado através de todos os esforços do corpo, mente e fala, bem como pela expressão de vários estados espirituais (bhāvas). Não é encoberto por jñāna (conhecimento especulativo voltado para a liberação impessoal), karma (atividades que buscam recompensas), yoga místico ou austeridades; e está completamente livre de todos os desejos, exceto a aspiração de trazer felicidade a Śrī Kṛṣṇa.]


Srila Gurudeva disse: “Você distribui livros, e esse é o melhor serviço, mas você também deve lê-los. Dessa forma, você aprende e prega”.


Todos os nossos Gosvamis cumpriram os desejos do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Em especial, Srila Rupa Gosvami satisfez plenamente os desejos de Mahaprabhu. Por isso, Narottama Dasa Thakura compôs um verso em glorificação a Srila Rupa Gosvami.


śrī-caitanya-mano-’bhīṣṭaṁ sthāpitaṁ yena bhūtale

svayaṁ rūpaḥ kadā mahyaṁ dadāti sva-padāntikam


(Prema Bhakti Chandrika, verso 2, de Srila Narottama Dasa Thakura)


[Quando Srila Rupa Gosvami, que estabeleceu no mundo os desejos mais íntimos de Sri Chaitanya Mahaprabhu, concederá a mim o abrigo aos seus pés de lótus?]


Aprendam esse verso. “Ó, quando irei me abrigar aos pés de lótus de Srila Rupa Gosvamipada?” Isso é muito importante. Por que estou dizendo isso? Porque todos os nossos Gosvamis satisfizeram os desejos do Senhor Chaitanya Mahaprabhu.


Gaura-premanande! Hari Haribol!

Jaya Gopala Bhatta Gosvami ki jaya!

Jaya Guna Manjari ki jaya!

Jaya jaya Sri Radhe!




Tradução: Manjari Priya Devi Dasi

Edição e revisão: Taruni Gopi Dasi

Colaboração: Premananda Dasa (Espanha)


Logo Vana Madhuryam Brasil com a imagem de Radha e Krishna.

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