Aparecimento de Srila Raghunatha dasa Gosvami
- Vana Madhuryam Brasil
- 14 de out. de 2024
- 23 min de leitura
Atualizado: 25 de mar.

Srila Bhaktivedanta Vana Gosvami Maharaja
16 de junho de 2016, Skype
Ontem foi um dia super excelente e auspicioso, o dia em que celebramos a lila de danda-mahotsava de Srila Raghunatha dasa Gosvami. Srila Krishnadasa Kaviraja Gosvami explica de forma muito bela e elaborada, como Nityananda Prabhu deu misericórdia a Raghunatha dasa Gosvami. Sem a misericórdia de Nityananda Prabhu, ninguém alcança o serviço devocional puro ao Senhor, suddha-bhakti.
nitāiyer karuṇā habe,
vraje rādhā-kṛṣṇa pābe,
dharô nitāir caraṇa du’khāni
(Nitāi-pada-kamala, verso 3, de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura)
[Se Nitāi é misericordioso, pode-se alcançar Rādhā e Kṛṣṇa em Vraja, então agarre firmemente os dois pés de lótus de Nitāi.]
Narottama dasa Thakura explica: com muito cuidado, segure-se nos pés de lótus de NItyananda Prabhu, e assim você receberá a misericórdia dEle. E então, por meio da misericórdia sem causa de Nityananda Prabhu, você alcançará Goloka Vrindavana e servirá o Casal Divino Radha e Krishna.
Raghunatha dasa Gosvami, como é claramente explicado no Gaura Ganoddesha Dipika, é Rati Manjari na lila de Krishna, e na lila de Mahaprabhu ele é Raghunatha dasa Gosvami.
Raghunatha dasa Gosvami é um Vaishnava muito proeminente entre os seis Gosvamis [Sri Rupa, Sri Sanatana, Sri Bhatta Raghunatha, Sri Jiva, Sri Gopala Bhatta, Sri Dasa Raghunatha]:
śrī rūpa, śrī sanātana, bhaṭṭa-raghunātha
śrī jīva, gopāla-bhaṭṭa, dāsa-raghunātha
ei chaya gosā̃ir kôri caraṇa vandana
ĵāhā hôite vighna-nāśa abhīṣṭa-pūraṇa
(Hari Haraye Namaḥ Kṛṣṇa, versos 4 e 5, de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura)
[Ofereço praṇāma a Śrī Rūpa, Śrī Sanātana, Śrī Raghunātha Bhaṭṭa, Śrī Jīva, Śrī Gopāla Bhaṭṭa e Śrī Raghunātha Dāsa Gosvāmīs. Adoro os pés de lótus desses seis Gosvāmīs, pela cuja misericórdia todos os obstáculos são destruídos e todos os desejos são realizados.]
Esse kirtana, Vaishnava-vandana, glorifica os seis Gosvamis e, dentre eles, Srila Raghunatha dasa Gosvami é um dos Vaishnavas proeminentes.
Hoje então vamos falar sobre esse belo festival do "flocos de arroz fritos" de Raghunatha dasa Gosvami. A danda-mahotsava lila também é chamada de chida-mahotsava lila. A palavra em sânscrito chida significa "flocos de arroz fritos". Nityananda Prabhu deu a Raghunatha dasa Gosvami esta benção para servir os Vaishnavas.
Eu quero falar muito brevemente sobre a história de vida de Raghunatha dasa Gosvami. Na lila do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, [ele nos mostrou] como realizar bhajana e sadhana e alcançar a misericórdia do Senhor Chaitanya Mahaprabhu.
Raghunatha dasa Gosvami nasceu na Bengala, e o sobrenome de sua família era Majumdar. Seu pai se chamava Hiranya Majumdar, e eles pertenciam a uma família muito rica de jamindaras [proprietários de terras]. Além disso, eles tinham amor e afeição pelos sadhus, especialmente por Haridasa Thakura, que costumava visitá-los em sua casa. No entanto, os pais de Raghunatha dasa Gosvami não eram suddha-vaishnavas, embora servissem os Vaishnavas. Nosso shastra explica que há dois tipos de Vaishnavas — um é chamado de vaishnava-praya e o outro é vishayi-praya.
Vishayi-praya significa que, externamente, [os Vaishnavas] parecem ser materialistas, mas seus corações estão completamente encobertos por krishna-bhakti e krishna-prema. Já vaishnava-praya refere-se àqueles que, externamente, exibem atividades de um Vaishnava, mas cujos corações estão completamente encobertos pela gratificação dos sentidos materiais. Por essa razão, nossos shastras definem claramente quem pode ser chamado de vaishnava-praya. Ainda assim, alguns devotos se confundem com essa filosofia de vaishnava-praya e vishayi-praya. Na verdade, vishayi-praya é superior ao vaishnava-praya.
A companhia de Haridasa Thakura
Os pais e a família de Srila Raghunatha dasa Gosvami se pareciam com Vaishnavas, mas seus corações estavam completamente encobertos pelo desfrute dos sentidos materiais. De qualquer forma, eles serviam os Vaishnavas, e às vezes, namacharya Haridasa Thakura visitava sua casa para discutir hari-katha. Dessa forma, Raghunatha dasa Gosvami, ainda na infância, recebeu a associação de namacharya Haridasa Thakura. Nossos shastras estabelecem que, sem a associação de um devoto puro, bhakti não se manifestará.
‘sādhu-saṅga’, ‘sādhu-saṅga’ — sarva-śāstre kaya
lava-mātra sādhu-saṅge sarva-siddhi haya
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā, 22.54)
[O veredicto de todas as escrituras reveladas é que, mesmo com um momento de associação com um devoto puro, pode-se alcançar todo o sucesso.]
O que as escrituras reveladas glorificam a respeito de sadhu-sanga? Se você obtiver a associação de um sadhu por um momento, mesmo que seja apenas metade de um momento [muito breve], sua vida será bem-sucedida e você alcançará a perfeição mais elevada. Da mesma forma, em sua infância, Raghunatha dasa Gosvami obteve a associação de Haridasa Thakura. Por essa razão, devido às visitas de namacharya Haridasa Thakura em sua casa, Raghunatha dasa Gosvami tinha muito amor e afeto por harinama [o cantar dos santos nomes]. Ele cantava os santos nomes e recebeu seus diksha-mantras de seu Guru, Yadunandana Acharya.
Srila Raghunatha dasa Gosvami glorificou muito belamente seu Guru, Yadunandana Acharya, em seu elevado grantha, Mukta-charita. Notavelmente, ele escreveu granthas muito belos e elevados, como o Vilapa-kusumanjali, Stavavali, Mukta-charita, e outros.
nāma-śreṣṭhaṁ manum api śacī-putram atra svarūpaṁ
rūpaṁ tasyāgrajam uru-purīṁ māthurīṁ goṣṭhavāṭīm
rādhā-kuṇḍaṁ giri-varam aho! rādhikā-mādhavāśāṁ
prāpto yasya prathita-kṛpayā śrī guruṁ taṁ nato ’smi
(Śrī Mukta-carita (4), de Śrīla Raghunātha dāsa Gosvāmī)
[Ofereço praṇāma a śrī guru, por cuja misericórdia abundante obtive o nome supremo de Śrī Hari, os mantras de dīkṣā, o serviço de Śrī Śacīnandana Gaurahari, Śrī Svarūpa Dāmodara, Śrī Rūpa Gosvāmī, seu irmão mais velho, Śrī Sanātana Gosvāmī, a vasta morada de Śrī Mathurā, Vraja, Rādhā-kuṇḍa e Govardhana, assim como o desejo pelo serviço amoroso de Śrī Śrī Rādhā Mādhava.]
O respeito de Srila Raghunatha dasa Gosvami por seus diksha e shiksha-gurus
No shloka acima, Srila Raghunatha dasa Gosvami glorifica seu diksha-guru, Yadunandana Acharya, dizendo: “Pela misericórdia sem causa de meu diksha-guru, Yadunandana Acharya, recebi o harinama — nāma-śreṣṭhaṃ manum api. E também recebi o gopala-mantra, e outros mantras do meu Guru. E pela misericórdia sem causa de meu Guru, eu também alcancei os pés de lótus do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, Svarupa Damodara, Raya Ramananda, Rupa Gosvamipada e Sanatana Gosvamipada. Além disso, pela misericórdia sem causa de meu Guru, estou residindo às margens do Radha-kunda e Shyama-kunda em Vrindavanaˮ.
Raghunatha dasa Gosvami sempre oferecia o devido respeito ao seu diksha-guru e demonstrava o mesmo respeito aos seus shiksha-gurus: Rupa Gosvamipada, Sanatana Gosvamipada, Svarupada Damodara, Raya Ramananda, Sarvabhauma Bhattacharya, e ele também teve a associação do Senhor Chaitanya Mahaprabhu.
Mahaprabhu ofereceu Raghunatha dasa Gosvami às mãos de Svarupa Damodara. Por essa razão, Raghunatha dasa Gosvami também era conhecido como "Svarupera Raghu", o que significa que ele pertencia a Svarupa Damodara. Em krishna-lila, Svarupa Damodara é conhecido como "Lalita-sakhi". Isso significa que o Senhor Chaitanya Mahaprabhu tomou a mão de Raghunaha dasa Gosvami e o ofereceu às mãos de Lalita-devi, que é Svarupa Damodara. Esse é nosso bhajana e sadhana muito confidencial: nosso anseio por servir o Casal Divino, Radha e Krishna, sob a orientação de Svarupa Damodara (Lalita-sakhi), e também sob a orientação de Rupa Manjari (Rupa Gosvamipada).
O fruto da associação apropriada com o sadhu
Desde sua tenra infância, Raghunatha dasa Gosvami era completamente desapegado de todo tipo de desfrute dos sentidos materiais e possuía apego pelo cantar dos santos nomes. Esse é o resultado de sadhu-sanga. Se você receber apropriadamente a associação de um sadhu, sua vairagya (renúncia) automaticamente surgirá. Isso significa que o desapego por desfrutar dos sentidos materiais virá, porque essa é a natureza de bhakti. Uma vez que bhakti se manifesta, o coração espontaneamente renunciará ao desfrute dos sentidos materiais, e simultaneamente se tornará apegado a krishna-bhakti e krishna-prema.
Dessa forma, desde sua tenra infância, Srila Raghunatha dasa Gosvami obteve a associação de Srila Haridasa Thakura. Dele, ouviu as glórias dos santos nomes, pois Haridasa Thakura sempre glorificava harinama (nama-mahatmya). Por essa razão, Chaitanya Mahaprabhu concedeu a Haridasa Thakura o título de namacharya [o mais exaltado professor dos santos nomes]. Por isso, ele é conhecido como namacharya Srila Haridasa Thakura.
Dessa associação em sua infância, Srila Raghunatha dasa Gosvami desenvolveu tanto amor e afeição por harinama, e era completamente desapegado de toda gratificação dos sentidos materiais, vairagya. Dia e noite, ele pensava: “Como eu deixarei minha vida familiar e alcançarei os pés de lótus do Senhor Chaitanya Mahaprabhu?ˮ. Já que Raghunatha dasa Gosvami era o filho único em sua família, (depois de seu pai e seu tio, ele era o único filho da família), por essa razão, todos os membros da família eram muito apegados a ele. Ainda assim, a mente de Raghunatha dasa Gosvami estava completamente encoberta pelo Senhor Chaitanya Mahaprabhu.
A instrução de Chaitanya Mahaprabhu
Quando Chaitanya Mahaprabhu aceitou sannyasa, Ele foi à casa de Advaita Acharya em Shantipura com alguns devotos. Nessa ocasião, Raghunatha dasa Gosvami se encontrou com Chaitanya Mahaprabhu e se agarrou aos Seus pés, dizendo: “Prabhu, eu não quero permanecer em minha casa. Eu quero ir com o Senhor para Jagannatha Puriˮ. No entanto, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu respondeu: “Ei, Raghunatha, não seja louco!ˮ.
markaṭa-vairāgya nā kara loka dekhāñā
yathā-yogya viṣaya bhuñja’ anāsakta hañā
antare niṣṭhā kara, bāhye loka-vyavahāra
acirāt kṛṣṇa tomāya karibe uddhāra
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā, 16.238-239)
["Você não deve se tornar um devoto de aparências, exibindo-se como um falso renunciante. Por enquanto, desfrute do mundo material de forma adequada e não se apegue a ele.” Śrī Caitanya Mahāprabhu continuou: "Dentro do seu coração, você deve manter-se muito fiel, mas externamente, pode se comportar como uma pessoa comum. Assim, Kṛṣṇa logo ficará muito satisfeito e o libertará das garras de māyā".]
Antare niṣṭhā kara — primeiro fixe sua mente. E então, [permanecendo internamente desapegado de todas as coisas materiais] comporte-se externamente [como uma pessoa normal] em sua casa — isso é chamado yukta-vairagya. Yukta-vairagya significa que, enquanto você reside em sua casa, você deve aceitar tudo que for favorável a bhakti e rejeitar tudo aquilo que for desfavorável. Acirāt kṛṣṇa tomāya karibe uddhāra — Krishna muito rapidamente irá te libertar do oceano da existência material. Essa é a instrução do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Nā hao vātula — não fique louco. Raghunatha dasa queria abandonar sua vida familiar, a casa de seus pais, e aceitar a ordem de vida renunciada. Mas seus pais tinham muito apego a ele, e sempre o pegavam de volta. Assim, quando Raghunatha dasa Gosvami se aproximou de Mahaprabhu, ele queria abandonar sua vida familiar, mas Mahaprabhu o instruiu: Antare niṣṭhā kara…
Markaṭa-vairāgya nā kara loka dekhāñā — não demonstre externamente a renúncia de um macaco, isso é chamado de markata-vairagya. Markata significa "macaco", e vairagya significa "ordem renunciada". Os macacos demonstram uma renúncia externamente, enquanto seus corações estão completamente cheios de desejo de desfrutar da gratificação dos sentidos materiais.
Da mesma forma, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu instruiu Raghunatha dasa Gosvami: “Não mostre a sua renúncia como um macaco. Antare niṣṭhā kara — primeiro fixe sua mente e realize seu bhajana e sadhana. Então, chegará o momento em que Krishna fará os arranjos para que você saia da vida familiarˮ.
De acordo com a instrução do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, Raghunatha dasa Gosvami permaneceu em casa. Mesmo assim, sua mente ficava completamente absorta, dia e noite, no Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Ele tentou até mesmo fugir de sua casa, por duas vezes, mas seu pai o trazia de volta. Eventualmente, seu pai arranjou seu casamento com uma jovem garota muito bela, e Raghunatha dasa Gosvami se casou com ela. No entanto, sua mente permaneceu completamente absorta no Senhor Chaitanya Mahaprabhu.
Raghunatha dasa Gosvami nunca teve apego à sua esposa ou à sua riqueza mundana. Sua mente estava sempre ocupada a pensar em como estar sempre com o Senhor Chaitanya Mahaprabhu. No entanto, seu pai foi muito rigoroso em proibi-lo de sair de casa, inclusive colocando um guarda-costas no local.
Raghunatha dasa Gosvami se encontra com Nityananda Prabhu
Um dia, seu Guru Yadunandana Acharya disse que Nityananda Prabhu estaria em Panihati, e Raghunatha dasa Gosvami deveria ir se encontrar com ele. Na verdade, foi somente pela misericórdia de seu Guru que Raghunatha dasa Gosvami foi capaz de conhecer Nityananda Prabhu quando Ele veio a Panihati — que ficava muito perto da casa de Raghava Pandita, um associado muito íntimo do Senhor Chaitanya Mahaprabhu.
Quando Raghunatha dasa Gosvami ouviu que Nityananda Prabhu estava em Panihati, de uma maneira muito humilde, ele disse a seu pai: “Eu quero me associar com um sadhu e conhecer um sadhu. Eu preciso ir lá”. Seu pai permitiu que ele fosse, mas apenas se viajasse com um grupo de pessoas. O pensamento de seu pai era: “Talvez Raghunatha dasa Gosvami tente fugir novamente”. Nesse contexto, Raghunatha dasa Gosvami, com alguns servos, foi a Panihati para se encontrar com Nityananda Prabhu. Na primeira vez que conheceu o Senhor Nityananda Prabhu, ele prestou suas reverências a Seus pés de lótus. Então, Nityananda Prabhu pressionou Seus pés sobre a cabeça de Raghunatha dasa Gosvami. Raghunatha dasa Gosvami recebeu misericordiosamente a poeira dos pés de Nityananda Prabhu. Nossas escrituras explicam que, sem a misericórdia de Nityananda Prabhu, ninguém poderá obter shuddha-bhakti.
Então, agora, quando Raghunatha dasa Gosvami ofereceu reverências aos pés de lótus de Nityananda Prabhu, Nityananda Prabhu falou de uma maneira muito doce, ainda que com palavras de repreensão: “Ei, você é um chora (ladrão)”. Em sânscrito, a palavra chora significa tomar a propriedade de outros sem permissão (roubando). Por essa razão, Nityananda Prabhu, de forma muito bonita, disse essas palavras doces e amorosas, mesmo que com tom de repreensão. Ele disse: “Você é um ladrão, chora, chora.”
O verdadeiro significado por trás do que Nityananda Prabhu disse é: “Chaitanya Mahaprabhu é o tesouro do Meu coração. Ele é Minha propriedade. Como você pode tentar tomar Minha propriedade sem a Minha permissão?”. A conclusão é que, sem a misericórdia de gurupada-padma, você não pode alcançar Krishna ou o Senhor Chaitanya Mahaprabhu.
śrī guru-caraṇa-padma, kevala bhakati-sadma,
vando muĩ sāvadhāna-mate
(Śrī Guru-caraṇa-padma, de Śrīla Narottama dāsa Ṭhākura)
[Os pés de lótus de śrī guru são o tesouro de prema-bhakti puro. Eu adoro esses pés de lótus com grande cuidado.]
Srila Narottama dasa Thakura compôs este verso declarando que, sem a misericórdia de gurupada-padma, como alguém poderá alcançar a personificação do amor divino, o Senhor Chaitanya Mahaprabhu? Da mesma forma, Nityananda Prabhu disse: “Você é um ladrão”. Krishnadasa Kaviraja Gosvami explica muito bem que, quando Raghunatha dasa Gosvami conheceu Nityananda Prabhu pela primeira vez, em Panihati, às margens do Ganges, Nityananda Prabhu estava sentado sob uma árvore. Nesse momento, o sol brilhava muito, criando uma cena maravilhosa. Quando Raghunatha dasa Gosvami chegou lá, ele observou quanta refulgência emanava do corpo de Nityananda Prabhu.
tale upare bahu-bhakta hañāche veṣṭita
dekhi’ prabhura prabhāva raghunātha — vismita
daṇḍavat hañā sei paḍilā kata-dūre
sevaka kahe, — ‘raghunātha daṇḍavat kare’
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.45-46)
[Muitos devotos se sentaram no chão ao redor dEle. Vendo a influência de Nityānanda Prabhu, Raghunātha dāsa estava admirado. Raghunātha dāsa ofereceu suas reverências, prostrando-se a uma certa distância, e o servo de Nityānanda Prabhu apontou: “Ali está Raghunātha dāsa, oferecendo suas reverências a Ti.”]
Srila Raghunatha dasa Gosvami, muito humildemente, pegou uma palha e a colocou entre seus dentes, oferecendo reverências aos pés de lótus de Nityananda Prabhu. Depois, o servo de Nityananda Prabhu disse: “Oh, Raghunatha dasa Gosvami veio e está oferecendo reverências a Seus pés de lótus”.
śuni’ prabhu kahe, — “corā dili daraśana
āya, āya, āji tora karimu daṇḍana”
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.47)
[Ouvindo isso, o Senhor Nityānanda Prabhu disse: “Você é um ladrão. Agora você veio Me ver. Venha aqui, venha aqui. Hoje eu vou te punir!”]
Depois, Nityananda Prabhu disse essas palavras muito doces e amorosas: “Venha, você é um ladrão; eu vou te dar um castigo muito severo”.
prabhu bolāya, teṅho nikaṭe nā kare gamana
ākarṣiyā tāṅra māthe prabhu dharilā caraṇa
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.48)
[O Senhor o chamou, mas Raghunātha dāsa não se aproximou do Senhor. Depois, o Senhor o puxou e colocou Seus pés de lótus sobre a cabeça de Raghunātha dāsa.]
Raghunatha dasa Gosvami, muito humildemente, não queria se aproximar de Nityananda Prabhu; no entanto, Nityananda Prabhu o tomou e, por força, colocou a poeira de Seus pés de lótus em sua cabeça.
Brahma, Shiva e Narada, todos são devotos exaltados de alta classe do Senhor, e, apesar disso, ainda não conseguem alcançar a poeira dos pés de lótus de Nityananda Prabhu. E agora, Ele é muito misericordioso ao colocar a poeira de Seus pés de lótus diretamente na cabeça de Raghunatha dasa Gosvami.
kautukī nityānanda sahaje dayāmaya
raghunāthe kahe kichu hañā sadaya
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.49)
[O Senhor Nityānanda era, por natureza, muito misericordioso e brincalhão. Sendo misericordioso, Ele disse a Raghunātha dāsa o seguinte.]
Nityananda Prabhu, muito misericordiosamente, disse o seguinte a Raghunatha dasa Gosvami:
“nikaṭe nā āisa, corā, bhāga’ dūre dūre
āji lāg pāñāchi, daṇṭimu tomāre”
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.50)
[“Você é como um ladrão, porque, em vez de se aproximar, você permanece longe em um lugar distante. Agora que eu te capturei, vou te punir.”]
Nityananda Prabhu disse: “Oh, você é um ladrão, você não veio até Mim". Porque um ladrão não quer se aproximar da polícia… Então Nityananda disse: "Você quer manter distância de Mim, mas agora, eu lhe darei um castigo muito severo”. Aji lāg pāñāchi, daṇṭimu tomāre — Depois, Raghunatha dasa Gosvami, de forma muito humilde, respondeu: “Que castigo você me dará?”. Nityananda Prabhu disse:
“dadhi, ciḍā bhakṣaṇa karāha mora gaṇe”
śuni’ ānandita haila raghunātha mane
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.51)
[“Prepare um festival e alimente todos os meus associados com iogurte e flocos de arroz fritos”. Ao ouvir isso, Raghunātha dāsa ficou muito satisfeito.]
Nityananda Prabhu humildemente disse a ele: “Hoje, você preparará um festival de flocos de arroz fritos (chida), e também incluirá leite, iogurte, açúcar, bananas e outros ingredientes. Este é seu castigo”. Ao ouvir isso, a mente de Raghunatha dasa Gosvami ficou em júbilo; ele estava pensando: “Isso é verdade, eu tenho que servir aos Vaishnavas. Sem o serviço aos Vaishnavas, ninguém pode obter shuddha-bhakti”. Sem servir os pés de lótus dos Vaishnavas, quem poderá se libertar deste mundo material?
Por essa razão, Raghunatha dasa Gosvami estava muito feliz. Ele sabia que seus pais eram muito sovinas — como foi mencionado, eles eram vaishnava-praya, ou seja, pareciam-se com Vaishnavas, mas eram completamente materialistas. Portanto, Raghunatha dasa Gosvami pensou: “Agora devo servir os Vaishnavas, então minha vida será exitosa”. Srila Bhaktisiddhanta Prabhupada explica: “Sirva aos suddha-vaishnavas, então todos os seus obstáculos no caminho de bhakti serão removidos do seu coração”. Mahaprabhu também deu essa instrução a todos os Seus seguidores:
prabhu kahe, — “vaiṣṇava-sevā, nāma-saṅkīrtana
dui kara, śīghra pābe śrī-kṛṣṇa-caraṇa”
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Madhya-līlā, 16.70)
[O Senhor respondeu: “Você deve se comprometer ao serviço dos servos de Kṛṣṇa e sempre cantar o santo nome de Kṛṣṇa. Se você fizer essas duas coisas, muito rapidamente alcançará o abrigo dos pés de lótus de Kṛṣṇa.”]
Mahaprabhu disse: “Ouça, Prabhu, vaishnava-seva e nama-sankirtana. Todos os dias, cante os santos nomes e sirva aos Vaishnavas. Se você servir aos shuddha-vaishnavas, então todos os obstáculos que obstruem bhakti serão removidos do seu coração e você alcançará shuddha-bhakti”. Por isso, quando Nityananda Prabhu instruiu: “Você tem que preparar um utsava (festival) para os Vaishnavas”, Raghunatha dasa Gosvami ficou muito satisfeito.
sei-kṣaṇe nija-loka pāṭhāilā grāme
bhakṣya-dravya loka saba grāma haite āne
ciḍā, dadhi, dugdha, sandeśa, āra cini, kalā
saba dravya ānāñā caudike dharilā
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.52-53)
[Raghunātha dāsa imediatamente enviou seus próprios homens à vila para comprar todo tipo de alimentos e trazê-los de volta. Raghunātha dāsa trouxe flocos de arroz fritos, iogurte, leite, doces, açúcar, bananas e outras comidas e as colocou ao redor.]
Assim, Srila Raghunatha dasa Gosvami enviou alguém à vila e trouxe todo tipo de ingredientes para o chida-dadhi mahotsava — ele trouxe flocos de arroz fritos, leite, iogurte, um doce muito famoso em Bengali chamado sandesh, açúcar, bananas e muitos outros tipos de ingredientes.
‘mahotsava’-nāma śuni’ brāhmaṇa-sajjana
āsite lāgila loka asaṅkhya-gaṇana
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.54)
[Assim que ouviram que um festival seria realizado, todos os tipos de brāhmaṇas e outras pessoas começaram a chegar. Assim, de repente, havia uma quantidade inumerável de pessoas.]
Agora, todos os brahmanas e pessoas eruditas ouviram sobre aquele grande festival e todos compareceram.
āra grāmāntara haite sāmagrī ānila
śata dui-cāri holnā tāṅhā ānāila
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.55)
[Vendo a multidão aumentar, Raghunātha dāsa organizou para obter mais alimentos de outras vilas. Ele também trouxe de duzentos a quatrocentos grandes potes (panelas) de barro redondos.]
Raghunatha dasa Gosvami também trouxe muitos adornos e pratos para distribuir a prasada.
baḍa baḍa mṛt-kuṇḍikā ānāila pāṅca sāte
eka vipra prabhu lāgi’ ciḍā bhijāya tāte
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.56)
[Ele também conseguiu cinco ou sete potes de barro especialmente grandes e, nesses potes, um brâhmana começou a deixar de molho os flocos de arroz fritos para a satisfação do Senhor Nityānanda.]
Dessa forma, muitas pessoas compareceram à celebração do mahotsava — elas colocaram os flocos de arroz fritos na água e o limparam.
eka-ṭhāñi tapta-dugdhe ciḍā bhijāñā
ardheka chānila dadhi, cini, kalā diyā
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.57)
[Em um lugar, os flocos de arroz fritos foi deixado de molho em leite quente em cada um dos grandes potes. Então, metade do arroz foi misturado com iogurte, açúcar e bananas.]
Depois, eles misturaram o leite quente, o iogurte, o açúcar, as bananas e também um pouco de ghee (manteiga clarificada) com os flocos de arroz fritos. Cāṅpā-kalā, cini, ghṛta, karpūra tāte dila [...] (Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.58) [A outra metade foi misturada com leite condensado e um tipo especial de banana conhecido como cāṅpā-kalā. Em seguida, açúcar, ghee e cânfora foram adicionados.] Os melhores tipos de bananas eram chamados chanpa-kala. Na Índia, especialmente na Bengala, elas são muito doces. Gurudeva gostava desse tipo de banana chamado chanpa-kala. Ghee e cânfora também foram misturados a esses ingredientes.
dhuti pari’ prabhu yadi piṇḍāte vasilā
sāta-kuṇḍī vipra tāṅra āgete dharilā
cabutarā-upare yata prabhura nija-gaṇe
baḍa baḍa loka vasilā maṇḍalī-racane
rāmadāsa, sundarānanda, dāsa-gadādhara
murāri, kamalākara, sadāśiva, purandara
dhanañjaya, jagadīśa, parameśvara-dāsa
maheśa, gaurīdāsa, hoḍa-kṛṣṇadāsa
uddhāraṇa datta ādi yata nija-gaṇa
upare vasilā saba, ke kare gaṇana?
śuni’ paṇḍita bhaṭṭācārya yata vipra āilā
mānya kari’ prabhu sabāre upare vasāilā
dui dui mṛt-kuṇḍikā sabāra āge dila
eke dugdha-ciḍā, āre dadhi-ciḍā kaila
āra yata loka saba cautarā-talāne
maṇḍalī-bandhe vasilā, tāra nā haya gaṇane
ekeka janāre dui dui holnā dila
dadhi-ciḍā dugdha-ciḍā, duite bhijāila
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.59-67)
[Depois que Nityānanda Prabhu trocou de roupa por uma nova e se sentou em uma plataforma elevada, o brāhmaṇa trouxe à frente dEle as sete grandes panelas. Nessa plataforma, todos os mais importantes associados do Senhor Nityānanda Prabhu, e também outros homens importantes, se sentaram em um círculo ao redor do Senhor. Entre eles estavam Rāmadāsa, Sundarānanda, Gadādhara dāsa, Murāri, Kamalākara, Sadāśiva e Purandara. Dhanañjaya, Jagadīśa, Parameśvara dāsa, Maheśa, Gaurīdāsa e Hoḍa Kṛṣṇadāsa também estavam presentes. Da mesma forma, Uddhāraṇa Datta Ṭhākura e muitos outros associados pessoais do Senhor sentaram-se na plataforma elevada com Nityānanda Prabhu. Ninguém conseguia contar todos eles. Ouvindo sobre o festival, todos os tipos de eruditos, brāhmaṇas e sacerdotes foram até lá. O Senhor Nityānanda Prabhu os honrou e os fez sentar-se na plataforma elevada com Ele. Todos receberam duas panelas de barro. Em uma, foi colocado flocos de arroz fritos com leite condensado, e na outra, flocos de arroz fritos com iogurte. Todas as outras pessoas se sentaram em grupos ao redor da plataforma. Ninguém conseguia contar quantas pessoas havia. Cada um deles recebeu dois potes de barro — um com flocos de arroz fritos embebidos em iogurte e o outro com flocos de arroz fritos embebidos em leite condensado.]
Depois, Nityananda Prabhu se sentou naquele local e todos os devotos se sentaram ao redor dEle. Então, eles prepararam um belíssimo chida-mahotsava. Primeiro, ofereceram dois pratos especiais nas mãos de Nityananda Prabhu. Nityananda Prabhu fechou os olhos e meditou no Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Por se lembrar do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, o próprio Senhor Chaitanya Mahaprabhu apareceu diante de Nityananda Prabhu. Somente Nityananda Prabhu e alguns outros devotos exaltados puderam ver que Chaitanya Mahaprabhu havia vindo de Jagannatha Puri e estava ali sentado muito perto de Nityananda Prabhu. Depois, Nityananda Prabhu ofereceu a prasada a Chaitanya Mahaprabhu. Aqui, está explicado:
hena-kāle āilā tathā rāghava paṇḍita
hāsite lāgilā dekhi’ hañā vismita
ni-sakḍi nānā-mata prasāda ānila
prabhure āge diyā bhakta-gaṇe bāṅti dila
prabhure kahe, — “tomā lāgi’ bhoga lāgāila
tumi ihāṅ utsava kara, ghare prasāda rahila”
prabhu kahe, — “e-dravya dine kariye bhojana
rātrye tomāra ghare prasāda karimu bhakṣaṇa
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.71-74)
[Nesse momento, Rāghava Paṇḍita chegou lá. Vendo a situação, ele começou a rir com grande surpresa. Ele trouxe muitos tipos de comida cozinhada em ghee e a ofereceu ao Senhor. Esta prasada foi colocada primeiramente à frente do Senhor Nityānanda e, em seguida, distribuída aos devotos. Rāghava Paṇḍita disse ao Senhor Nityānanda: “Para Ti, Senhor, já ofereci a comida à Deidade, mas Tu estás envolvido em um festival aqui, e a comida está lá, intocada. O Senhor Nityānanda respondeu: “Deixe-me comer toda essa comida aqui durante o dia, e eu comerei na sua casa à noite.”]
Raghava Pandita se aproximou e perguntou a Nityananda Prabhu: “Por favor, venha à minha casa e tome prasada”. Nityananda Prabhu respondeu: “Hoje, eu tomarei sua prasada, assim como neste momento estou tomando prasada aqui e todo mundo também tomará esta prasada”.
gopa-jāti āmi bahu gopa-gaṇa saṅge
āmi sukha pāi ei pulina-bhojana-raṅge”
rāghave vasāñā dui kuṇḍī deoyāilā
rāghava dvividha ciḍā tāte bhijāilā
sakala-lokera ciḍā pūrṇa yabe ha-ila
dhyāne tabe prabhu mahāprabhure ānila
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.75-77)
[“Eu pertenço a uma comunidade de vaqueiros, e, por isso, eu tenho muitos vaqueiros associados comigo. Eu fico muito feliz quando todos comemos juntos em um piquenique como este, perto da margem arenosa do rio.” O Senhor Nityānanda fez Rāghava Paṇḍita se sentar e fez com que lhe dessem duas panelas também. Havia dois tipos de flocos de arroz fritos umedecidos nelas. Quando os flocos de arroz fritos foram servido a todos, o Senhor Nityānanda Prabhu, em meditação, trouxe o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.]
Aqui, Nityananda Prabhu começou a meditar no Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Chaitanya Mahaprabhu estava em Jagannatha Puri, mas quando Nityananda Prabhu começou a meditar nEle, Mahaprabhu chegou ali às margens do Ganges, e Se encontrou com Nityananda Prabhu.
mahāprabhu āilā dekhi’ nitāi uṭhilā
tāṅre lañā sabāra ciḍā dekhite lāgilā
sakala kuṇḍīra, holnāra ciḍāra eka eka grāsa
mahāprabhura mukhe dena kari’ parihāsa
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.78-79)
[Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu chegou, o Senhor Nityānanda Prabhu Se levantou. Então, eles viram como os outros estavam desfrutando dos flocos de arroz fritos com iogurte e leite condensado. De cada uma das panelas, o Senhor Nityānanda Prabhu pegou um pouco de flocos de arroz fritos e colocou na boca de Śrī Caitanya Mahāprabhu como uma brincadeira.]
Nityananda Prabhu estava rindo e brincando e, comendo os flocos de arroz fritos, dava de comer na boca de Chaitanya Mahaprabhu.
hāsi’ mahāprabhu āra eka grāsa lañā
tāṅra mukhe diyā khāoyāya hāsiyā hāsiyā
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.80)
[Śrī Caitanya Mahāprabhu, também sorrindo, pegou um pouco de comida e o colocou na boca do Senhor Nityānanda, rindo no momento em que fez com que o Senhor Nityānanda o comesse.]
Assim, Mahaprabhu também tomou aquela prasada e alimentou Nityānanda Prabhu. Os devotos exaltados ficaram admirados ao ver Nityānanda Prabhu e Chaitanya Mahaprabhu se abraçando e se alimentando mutuamente. Isso lembra os momentos em Vrindavana, quando Kṛṣṇa e Balarāma pastoreavam as vacas com seus amigos Subala e Śrīdama — às vezes, o Senhor Balarāma alimentava Kṛṣṇa, e outras vezes Kṛṣṇa também alimentava Balarāma. Da mesma forma, Nityānanda Prabhu agora alimentava Chaitanya Mahaprabhu, e Chaitanya Mahaprabhu também alimentava Nityānanda Prabhu.
ei-mata nitāi bule sakala maṇḍale
dāṇḍāñā raṅga dekhe vaiṣṇava sakale
ki kariyā beḍāya, — ihā keha nāhi jāne
mahāprabhura darśana pāya kona bhāgyavāne
tabe hāsi’ nityānanda vasilā āsane
cāri kuṇḍī āroyā ciḍā rākhilā ḍāhine
āsana diyā mahāprabhure tāhāṅ vasāilā
dui bhāi tabe ciḍā khāite lāgilā
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.81-84)
[Dessa forma, o Senhor Nityānanda estava caminhando por um grupo de pessoas comendo, e todos os Vaiṣṇavas que estavam ali achavam divertido. Ninguém conseguia entender o que Nityānanda Prabhu estava fazendo enquanto caminhava. No entanto, alguns, que eram muito afortunados, puderam ver que o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu também estava presente. Depois, Nityānanda Prabhu sorriu e Se sentou. De seu lado direito, Ele mantinha quatro panelas de flocos de arroz fritos que não haviam sido cozidos. O Senhor Nityānanda ofereceu a Śrī Caitanya Mahāprabhu um lugar e O fez sentar. Então, juntos como dois irmãos, começaram a comer os flocos de arroz fritos.]
Nityananda Prabhu e Chaitanya Mahaprabhu se sentaram no assento (asana) e começaram a comer.
dekhi’ nityānanda-prabhu ānandita hailā
kata kata bhāvāveśa prakāśa karilā
ājñā dilā, — ‘hari bali’ karaha bhojana’
‘hari’ ‘hari’-dhvani uṭhi’ bharila bhuvana
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.85-86)
[Vendo o Senhor Caitanya Mahāprabhu comendo com Ele, o Senhor Nityānanda Prabhu ficou muito feliz e mostrou muitas variedades de amor extático. O Senhor Nityānanda Prabhu ordenou: “Todos vocês comam, e cantem o santo nome de Hari.” Imediatamente, os santos nomes “Hari, Hari” ressoaram, preenchendo o universo inteiro.]
Depois, quando Nityananda Prabhu estava tomando maha-prasada com Gaurasundara, enquanto comia, Nityananda Prabhu pegava a maha-prasada e cantava: “Haribol, Haribol, Haribol!” Subsequentemente, todos os devotos também começaram a cantar: “Haribol, Haribol, Haribol!”.
‘hari’ ‘hari’ bali’ vaiṣṇava karaye bhojana
pulina-bhojana sabāra ha-ila smaraṇa
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.87)
[Quando todos os Vaiṣṇavas estavam cantando os nomes sagrados "Hari, Hari" e comendo, eles se lembraram de como Kṛṣṇa e Balarāma comiam com Seus companheiros, os meninos pastores, à beira do Yamunā.]
Dessa forma, todos os devotos estavam absortos nas lembranças de Krishna realizando Suas doces lilas em Vrindavana com Seus amigos, Subala, Sridama e Balarama Prabhu — pulina-bhojana lila.
nityānanda mahāprabhu — kṛpālu, udāra
raghunāthera bhāgye eta kailā aṅgīkāra
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.88)
[Śrī Caitanya Mahāprabhu e Senhor Nityānanda Prabhu são extremamente misericordiosos e liberais. Foi a boa fortuna de Raghunātha dāsa que Eles aceitaram todas essas interações.]
Nityananda Prabhu é tão misericordioso que Ele trouxe Chaitanya Mahaprabhu de Jagannatha Puri, e Raghunatha dasa Gosvami pôde entender quão misericordioso é Nityananda Prabhu.
nityānanda-prabhāva-kṛpā jānibe kon jana?
mahāprabhu āni’ karāya pulina-bhojana
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.89)
[Quem pode entender a influência e a misericórdia do Senhor Nityānanda Prabhu? Ele é tão poderoso que conseguiu que o Senhor Caitanya Mahāprabhu viesse comer flocos de arroz fritos às margens do Ganges.]
Aqui, Krishnadasa Kaviraja Gosvami explica que, sem a misericórdia de Nityananda Prabhu, ninguém pode compreender a misericórdia do Senhor Chaitanya Mahaprabhu.
śrī-rāmadāsādi gopa premāviṣṭa hailā
gaṅgā-tīre ‘yamunā-pulina’ jñāna kailā
mahotsava śuni’ pasāri nānā-grāma haite
ciḍā, dadhi, sandeśa, kalā ānila vecite
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.90-91)
[Todos os devotos confidenciais que eram vaqueiros, liderados por Śrī Rāmadāsa, estavam absortos em amor extático. Eles pensaram que a margem do Ganges era a margem do Yamunā. Quando os vendedores de muitos outros vilarejos ouviram sobre o festival, eles vieram vender arroz picado, iogurte, doces e bananas.]
Enquanto em Panihati, às margens do Ganges, Raghunatha dasa Gosvami estava realizando essa bela celebração, muitas pessoas trouxeram uma grande quantidade de diferentes tipos de ingredientes para vender, como açúcar, banana, iogurte, etc. Neste shloka, Krishnadasa Kaviraja Gosvami explica:
yata dravya lañā āise, saba mūlya kari’ laya
tāra dravya mūlya diyā tāhāre khāoyāya
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.92)
[Conforme os vendedores chegavam, trazendo todos os tipos de comida, Raghunātha dāsa comprou tudo. Ele pagou pelos produtos e, em seguida, os alimentou com a mesma comida.]
Raghunatha dasa Gosvami trouxe todos os ingredientes e os ofereceu a Chaitanya Mahaprabhu, e os remanescentes de prasada que sobraram foram distribuídos a todos.
kautuka dekhite āila yata yata jana
sei ciḍā, dadhi, kalā karila bhakṣaṇa
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.93)
[Qualquer pessoa que viesse ver como essas coisas divertidas estavam acontecendo, também era alimentada com arroz picado, iogurte e bananas.]
Raghunatha dasa Gosvami alimentou a todos que chegaram.
bhojana kari’ nityānanda ācamana kailā
cāri kuṇḍīra avaśeṣa raghunāthe dilā
āra tina kuṇḍikāya avaśeṣa chila
grāse-grāse kari’ vipra saba bhakte dila
puṣpa-mālā vipra āni’ prabhu-gale dila
candana āniyā prabhura sarvāṅge lepila
sevaka tāmbūla lañā kare samarpaṇa
hāsiyā hāsiyā prabhu karaye carvaṇa
mālā-candana-tāmbūla śeṣa ye āchila
śrī-haste prabhu tāhā sabākāre bāṅṭi’ dila
ānandita raghunātha prabhura ‘śeṣa’ pāñā
āpanāra gaṇa-saha khāilā bāṅtiyā
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.94-99)
[Depois que o Senhor Nityānanda Prabhu terminou de comer, Ele lavou Suas mãos e boca e deu a Raghunātha dāsa os remanescentes de comida que restaram nas quatro panelas. Havia comida remanescente nas outras três grandes panelas do Senhor Nityānanda, e um brāhmaṇa a distribuiu a todos os devotos, dando-lhes um bocado a cada um. Depois, um brāhmaṇa trouxe uma guirlanda de flores, colocou ao redor do pescoço de Nityānanda Prabhu e aplicou pasta de sândalo em todo o Seu corpo. Quando um servo trouxe nozes de betel e as ofereceu ao Senhor Nityānanda, o Senhor sorriu e as mastigou. Com suas próprias mãos, o Senhor Nityānanda Prabhu distribuiu a todos os devotos todas as guirlandas de flores, a pasta de sândalo e as nozes de betel que sobraram. Após receber os remanescentes da comida deixada pelo Senhor Nityānanda Prabhu, Raghunātha dāsa, que estava muito feliz, comeu um pouco e distribuiu o resto entre seus próprios associados.]
Aqui, Krishnadasa Kaviraja Gosvami explica que Raghunatha dasa Gosvami organizou um festival muito bonito e distribuiu toda a prasada a todos. Inclusive, Nityananda Prabhu deu a ele os próprios remanescentes. No final do festival, Raghunatha dasa Gosvami tomou apenas um pouco dos remanescentes do Senhor Nityānanda Prabhu. Depois de tomar a prasada, quando Nityānanda Prabhu lavou Suas mãos, Raghunatha Dasa Gosvami ofereceu uma guirlanda ao redor do pescoço de Nityānanda Prabhu e também Lhe ofereceu tambula (nozes de betel), o que O agradou muito. [...] hāsiyā hāsiyā prabhu karaye carvaṇa [...].
O resto da guirlanda e do chandana (pasta de sândalo) foi distribuído a todos por Nityānanda Prabhu.
ei ta’ kahiluṅ nityānandera vihāra
‘ciḍā-dadhi-mahotsava’-nāme khyāti yāra
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.100)
[Assim, descrevi os passatempos do Senhor Nityānanda Prabhu em relação à celebração do festival dos flocos de arroz fritos e iogurte.]
Dessa forma, Krishnadasa Kaviraja Gosvami glorifica muito lindamente essa celebração, utsava, do chida-dadhi mahotsava. Essa lila é muito doce.
prabhu viśrāma kailā, yadi dina-śeṣa haila
rāghava-mandire tabe kīrtana ārambhila
(Śrī Caitanya-caritāmṛta, Antya-līlā, 6.101)
[Nityānanda Prabhu descansou pelo resto do dia, e quando o dia terminou, Ele foi ao templo de Rāghava Paṇḍita e começou um canto congregacional dos santos nomes do Senhor.]
Mais tarde, todos os devotos voltaram para a casa de Raghava Pandita, já que Damayanti e Raghava Pandita viviam muito perto dali. Nityānanda Prabhu e todos os devotos foram à casa de Raghava Pandita. Raghava Pandita era um devoto muito exaltado do Senhor Chaitanya Mahaprabhu. Lá, eles começaram a cantar e a dançar. Srila Krishnadasa Kaviraja Gosvami glorifica de forma muito doce esta lila do dadhi-chida mahotsava lila.
Srila Bhaktisiddhanta Prabhupada explica o significado desta lila, que é como se deve servir os Vaishnavas e executar o nama-sankirtana. Essa é a conclusão — sem a misericórdia do Guru e dos Vaishnavas, não podemos alcançar krishna-bhakti e krishna-prema. Este é o significado.
Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare, Hare
A conclusão e a instrução do Senhor Chaitanya Mahaprabhu é que devemos servir aos Vaishnavas e fazer nama-sankirtana. Prabhu kahe, — “vaiṣṇava-sevā, nāma-saṅkīrtana [...].
Mahaprabhu instruiu que devemos cantar os santos nomes todos os dias e servir aos devotos puros, shuddha-bhaktas. Assim, em breve, alcançaremos shuddha-bhakti.
Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama Hare Hare
Então, sadhu-sanga, nama-sankirtana e, assim, receberemos a misericórdia do Senhor Nityananda Prabhu. Porque Nityananda Prabhu é akhanda-guru-tattva, o princípio indiviso do mestre espiritual. Em krishna-lila, Ele é Baladeva Prabhu, e em gaura-lila, Ele é Nityananda Prabhu. E como você poderá receber a misericórdia de Nityananda Prabhu? Narottama dasa Thakura explica: [...] nitāiyer karuṇā habe, vraje rādhā-kṛṣṇa pābe [...].
Segure cuidadosamente os pés de lótus de Nityananda Prabhu; então, pela Sua misericórdia sem causa, você poderá alcançar Vraja e servir ao Casal Divino Radha e Krishna.
Gaura Premanande Hari Haribol!
Bolo Srila Gurudeva ki jaya!
Jaya Jaya Sri Radhe!
Jaya Nityananda Prabhu ki jaya!
Jaya Raghunatha dasa Gosvami ki jaya!
Danda mahotsava lila ki jaya!
Gaura Premanande!
Hare Krishna!
Tradução: Ananda Mohini Devi Dasi
Edição: Acyuta Priya Devi Dasi
Revisão: Taruni Gopi Dasi